Um, dois, três saques errados; seis manchetes tortas; nove toques mau feitos; quinze bloqueios imprecisos. HueningKai realmente não sabia qual era o seu problema naquele dia.
Talvez ele tivesse dormido mal, talvez a pressão de ser o melhor do time tivesse lhe consumido por completo, talvez fosse o fato de que ele teria que ver seu pai hoje.
A verdade é que fazia quase um ano desde a última vez que havia visto seu pai e, sinceramente, ele não poderia ter tido um ano melhor. Os dois tinham meio que um contrato invisível: seu pai não via seus jogos e Huening não ia em casa vê-lo. Funcionava bem para os dois.
E quando Kai achava que tudo estava muito bom para ser verdade, não era verdade. A última ligação que fizera com seu pai havia sido duas semanas atrás quando o mais velho havia lhe convidado para o casamento de seu chefe — e quando o telefone tocou e o nome de seu pai brilhou na tela, Kamal pensou que estava alucinando. Huening realmente não sabia o porquê dele estar lhe convidando. Quer dizer, desde quando eles se dão bem?
E mesmo que seu pai tivesse lhe convidado, não é como se Kamal tivesse alguma escolha. "Vamos ao casamento do meu chefe. Essa sexta, seis horas. Esteja lá." não é bem uma pergunta. Huening não queria ir, ele realmente não queria, mas é tão difícil negar algo à pessoa que paga sua estadia na melhor academia esportiva da Ásia. Além do mais, isso acabaria logo. HueningKai competiria cada vez mais e faria disso sua vida, sendo assim um jogador rico e famoso. Não precisaria do seu pai para nada em alguns anos.
— Huening! — sua treinadora gritou seu nome — Preste atenção na bola!
Oh, sim. Isso ajuda bastante, muito obrigado.
Minjae lhe passou a bola e Huening correu, ele realmente correu, mas não chegou a tempo. Ponto para o outro time. A treinadora apitou, indicando o fim do treino o que era péssimo já que Kamal sabia que ela iria querer conversar e saber o que está acontecendo com seu garoto prodígio, e acredite, essa é a última coisa que HueningKai queria agora.
— Huening. — ela deixou que os outros garotos saíssem e foi até o moreno — Você pode me explicar o que aconteceu com você hoje? Não acertou uma bola!
— Eu sei. Eu sei que fui péssimo hoje. — Kamal passou a mão pelos cabelos em aflição — Não sei o que está acontecendo mas eu vou melhorar. Eu prometo.
— É bom mesmo. As regionais estão perto e você é o capitão do time. — ela suspirou — Eu sei que é pesado, Huening. Eu sei que é muita responsabilidade mas se eu não tivesse certeza que você é o certo para isso, você não estaria usando essa faixa.
Sua treinadora apontou para a faixa em seu peito, logo abaixo do número 17 em sua camisa.
— Agora vá tomar uma ducha. Você está fedendo.
Kamal riu, se despedindo da mulher e correndo até o vestiário. Se queria continuar na equipe e vencer nas regionais, teria que dar 101% de si. Não podia decepcionar sua treinadora e, muito menos, seu time.
☆☆☆
— Você está calado hoje. — Yeonjun disse, se servindo de um pouco mais do tteokbokki que havia feito — O que aconteceu?
— Não fui muito bem no treino. — Huening deu de ombros — Nada demais.
— Nada demais? Você é tipo o melhor jogador de vôlei que eu já conheci. Eu nunca vi você errar um saque sequer. — o azulado soltou seus hashis, analisando seu amigo — 'Tá tudo bem?
— Yeh. Tudo certo. Só estou meio indisposto hoje. Como eu disse, nada demais. Como está sua coxa? — HueningKai mudou de assunto.
— Bem. Só preciso descansar um pouco. Eu sei que a gente sempre assiste algum filme junto mas tudo bem se a gente cancelar hoje? Acho que vou dormir mais cedo.
Era como se o mundo estivesse implorando para que Huening fosse para esse maldito casamento. "Espere ele dormir, vista seu terno e saia escondido. Ele nem vai notar." Tudo bem, sua bola de água desgraçada. Ele iria para o casamento idiota.
☆☆☆
O que incomodava HueningKai não era o fato de estar em uma festa onde não conhecia uma alma viva sequer, não, de jeito nenhum. O problema, realmente, era seu pai conversando consigo como se eles realmente fossem amigos muito próximos.
Quer dizer, desde que sua mãe havia morrido em um acidente de carro, tentando lhe proteger, seu pai lhe culpara por isso e passou a lhe bater praticamente todos os dias desde que Kamal tinha 6 anos até os 17, quando ele foi finalmente aceito na NSA e pôde se mudar dali. Então chegava a ser ridículo o fato de seu pai fingir que amava seu filho àquele ponto.
— Então eu falei: Nada pode ser pior do que esse clima. — o homem terminou a história, rindo por fim. Kamal forçou uma risada, porque ele não estava entendendo porra nenhuma do que estava acontecendo ali.
— Nabil. — uma voz desconhecida se aproximou, fazendo seu pai se levantar imediatamente — Que bom que você veio.
— Ah, eu não perderia seu casamento por nada. — seu pai sorriu, apertando a mão do outro senhor — Oh, esse é o meu filho: HueningKai. Ele estuda na NSA, assim como seu filho.
Ah sim, por isso ele estava ali. Para impressionar o chefe do seu pai.
— É um prazer te conhecer. — o homem lhe estendeu a mão e HueningKai entregou a sua, prontamente — Seu pai me fala muito sobre você.
— Claro que ele fala. — o mais novo sorriu sem sinceridade.
— Bom, eu tenho que ir. Mas foi ótimo ver vocês dois.
Os homens se despediram sem pressa e observaram o noivo se afastar para falar com outros convidados.
— Sério? — Huening começou — Você me trouxe aqui pra se gabar? Pelo amor de Deus.
— Será que você não pode fazer uma coisa para mim sem reclamar?
— Não! Eu não posso! Porque desde que mamãe morreu a única coisa que você fez por mim foi pagar a academia e, vamos ser sinceros, você só faz isso para ficar longe de mim. Então eu não posso fazer nada por você. — e por fim ele saiu dali.
Não podia acreditar que seu pai poderia ser tão baixo. Na verdade não sabia por que estava tão surpreso. Não era como se não esperasse isso dele. HueningKai realmente pensou em sair dali e ir para seu dormitório, abraçar Yeonjun até dormir enquanto ele lhe consolava mesmo sem saber o porquê de Huening estar triste.
E ele estava prestes a fazer isso quando viu um garçom com bebidas. Aquilo também parecia convidativo. Ele se aproximou e sorriu gentilmente para o homem que segurava a bandeja, pegando um copo logo em seguida e indo se encostar em uma parede qualquer.
☆☆☆
— Você está entregue. — Huening falou assim que estacionou em frente à casa de Taehyun.
— Obrigado pela carona. — o mais velho sorriu — E pela noite. Foi bom ter alguém pra conversar sobre meus problemas paternos.
— Nós dividimos a mesma dor. — o outro brincou, fazendo Taehyun rir e concordar.
— Mas essa vai ser a última vez que nos vemos.
— Com certeza. Eu não posso desabafar com amigos. É muito vergonhoso.
O Kang assentiu.
— Digo o mesmo. — ele abriu a porta do carro — Pelo ao menos a única coisa que temos em comum são os nossos pais e não é como se víssemos eles, de qualquer jeito.
— Exatamente.
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Ride or Die
Ficción GeneralTodas as pessoas têm problemas, Yeonjun sabia disso. Mas pensar que o garoto de cabelos castanhos e sorriso perfeito tinha qualquer dificuldade em sua vida era quase impossível. Quase.