MARGEM DE ERRO

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HARRY

Hoje é dia 20 de fevereiro, uma quinta-feira, apesar do clima ameno eu sinto um frio que não tem ligação com a temperatura. Afinal já é quase primavera aqui em Boston, cidade na qual nasci e cresci, atualmente moro no bairro North End com três amigos e meu namorado. Bem, falando assim as coisas parecem ser simples.

A primeira coisa que eu faço ao entrar em casa é tirar os meus sapatos e ir ver como as coisas estão, esperando haver apenas boas notícias. Infelizmente, algo me diz que há uma tensão no ar, da qual eu não gosto nenhum pouco.

- Zayn! Onde você está?! - pergunto gritando, pois não faço ideia em qual parte desta casa enorme meu amigo está.

- Estou na sala de estar! - Zayn responde, também gritando. A seguir caminho até a sala.

A televisão de 100 polegadas está conectada ao videogame, mas o jogo, que provavelmente era algo relacionado à boxe, está pausado. A mesa de centro está coberta por um monte de tralha, como cigarros e tipos variados de bebidas alcoólicas. Zayn Malik está deitado no sofá-cama, o qual é de um tom de branco que contrasta com o cabelo preto e as olheiras de Zayn. Apesar de estar de frente para a TV os olhos dele estão voltados para mim, esperando que eu fale alguma coisa. No entanto, quando nossos olhares se cruzam ele sabe exatamente o que eu quero saber e responde a pergunta que nem sequer foi feita:

- Harry, eles ainda não chegaram. Mas não precisa se preocupar, o atraso deles está dentro da margem de erro - Malik fala isso com uma calma que me irrita, mas opto por não fazer tempestade em copo d'água e mudo de assunto.

- Onde Liam está? Achei que ele estaria aqui - Liam Payne é meu amigo mais antigo, não consigo lembrar da minha vida sem ele. Nascemos, crescemos e nos metemos em roubadas juntos.

- Se não estou enganado Liam vai aparecer daqui uns trinta minutos.

- Por que daqui exatamente trinta minutos?

- Porque hoje é quinta-feira.

- E daí?

- E daí que toda quinta e terça Payne vai até o Rose Coffe, que fica duas quadras de distância daqui, só para ficar observando uma garota que ele não sabe nem sequer o nome. Mas pelo menos ele sabe que ela frequenta o mesmo café duas vezes por semana no mesmo horário, das 14:30h até às 15:30h.

Eu sabia que Liam estava indo com frequência a esse café por causa dessa garota, mas não sabia de tantos detalhes assim, por um instante me senti mal por estar por fora da vida de meu amigo. Por isso sentei em uma poltrona próxima ao sofá-cama e continuei especulando:

- Você sabe dizer se o Liam já conversou com essa garota?

- Até onde eu sei ele não falou com ela e nem vai.

- Por quê?

Antes de responder, Zayn me olha com uma cara de quem quer confirmar se eu realmente acabei de perguntar o que eu perguntei e depois fala:

- Você realmente não sabe o porquê? Harry, o Liam está quebrado demais para se envolver com alguém, principalmente com essa garota do café que parece ter a vida extremamente perfeita e estável. Ele não quer machucar ela com os cacos dele, ele não quer trazer ela para o mundo no qual vivemos e você sabe que ele está certo.

Me sinto um lixo por ouvir isso de Zayn e não de Liam. Porém, mesmo mal falo o que penso:

- Zayn, você fala de um jeito que dá a entender que para você eu não sofro, que não estou quebrado - me levanto da poltrona e começo a andar pela sala enquanto falo - Eu também estou na mesma merda que vocês há dois anos, dói tanto em mim quanto em vocês.

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