Bianca sentia uma raiva que não cabia em si. Não entendia o motivo de sua chateação, afinal de contas Rafaela era uma mulher livre e poderia ficar com quem tivesse vontade, pensando nisso se sentiu mais idiota por acreditar que todas as conversas que elas tiveram em poucos dias talvez significasse algo, o flerte que se iniciou na festa, claramente não significou nada. E de fato não era nada. Olhou em sua volta e viu uma multidão, tinha gente bebendo, outras pessoas dançando e algumas já na pegação. Decidiu que iria curtir sua festa ao máximo, fazer tudo que tivesse vontade, beber, dançar e quem sabe até beijar várias bocas, mas antes precisava ver com seus próprios olhos o tal "alvo" de Rafaela, deveria fechar a página em que acreditava lá no fundo que teria algo com ela, queria colocá-la em sua zona de "apenas amigas". Talvez não fosse verdade pensar que em algum momento pudesse enxergá-la apenas como amiga, a conexão que sentiu não era só de amizade...
XXX
Estar naquela festa era como reviver alguns longos anos de sua vida, onde tudo parecia tão diferente e ao mesmo tempo tão natural. Rafaela nunca gostou de ser o centro das atenções, mas teve que conviver com o peso de sua escolha em ter uma vida pública, seu trabalho exigia isso. Sua carreira se iniciou sem pretensão alguma, começou quando ainda era uma garotinha por volta dos seus 9 anos de idade, gostava de colocar o salto alto de sua mãe e ficar desfilando pela casa, ela se divertia muito, não teve uma boa relação com sua mãe por esse motivo não fazia questão de lembrar dos acontecimentos daquela época, mas sabia que naquelas brincadeiras de criança surgiu algo que ela gostou e até amou por muito tempo. Modelar era o que lhe movia, a forma como conseguia controlar suas emoções nas passarelas lhe fazia se sentir única, poderosa. E foi dentro desses pensamentos que enxergou a última pessoa que imaginaria encontrar ali.
- Freitas! Não acredito que é você menina. Meu jesus amado!
- Henry...
É quase inacreditável ver como a vida parecia muitas vezes um filme, de tão surpreendente. Esse era o sentimento que fez Rafaela lhe faltar às palavras para aquele encontro, nunca imaginou que encontraria alguém que foi tão especial e essencial em sua vida. Henrique como muitos o conhecia era um modelo famoso que trabalhou com Rafaela, acabou se tornou mais que isso, tornou-se um amigo fiel que havia deixado para trás após sair das passarelas de forma tão abrupta. Por inúmeras vezes ele foi o seu porto seguro, a quem ela recorreria nas madrugadas para se proteger de seus pesadelos, era a sua companhia que lhe fazia enfrentar dias ruins, as gargalhadas que invadiam as passarelas minutos antes deles entrarem, se fazia presente sempre em suas lembranças, em nenhum momento esqueceu do que viveu ao seu lado. Encontra-lo novamente era como voltar para casa.
- Eu juro que não estou acreditando nesse encontro! Tô tremendo. Vê só!
- Vem cá, meu amor!
Manu que olhava a interação não entendia nada, naquela noite Rafaela parecia querer lhe surpreender a cada minuto. Chegou a imaginar que ela estava interessada em ficar com Bianca na festa, mas olhando os dois juntos em sua frente viu que amiga sempre optava para o que lhe oferta-se conforto, o que fosse confortável para uma transa rápida sempre seria sua melhor opção. Talvez houvesse sentimentos entre elas, mas por hora fugir parecia ser a solução. Esperou sua amiga sair do abraço que recebia daquele homem alto, com o rosto de ator das novelas da Globo. Lhe encarou com uma sobrancelha arqueada, queria saber o que se passava alí. Mas Rafaela pareceu não entender o questionamento de sua amiga.
- Desculpa, Manuzinha. Mas esse aqui é o Henrique meu amigo de muitos anos, ele foi modelo comigo...
- Henry, essa é minha amiga Manoela.
Manoela estendeu a mão para lhe cumprimentar, já imaginando que ele fosse só mais um paquera de Rafaela.
- Logo vi que minha amiga não ia deixar a oportunidade passar com um modelo lindo desses.
Rafaela não entendeu a indireta e lhe olhou com a cara feia, Manoela que já sentia o efeito do álcool não deu importância.
- Eu vou no bar, vocês querem algo?
- Não quero, estou bem Manoela. Obrigado!
Manoela apenas assentiu com a cabeça, estava indo em direção ao bar quando sentiu Rafaela lhe puxar pelo braço.
- Não demora, Manu. E por favor não vá beber demais!
Manoela que já carregava um sorriso de deboche nos lábios, lhe respondeu:
- Relaxa, você está acompanhada, já já esquece que eu estou aqui.
Deixou a amiga surpresa com sua resposta atrevida. Manoela foi andando em direção ao bar, queria beber mais, odiou ver sua amiga naquela enrolação. Decidiu beijar na boca, como certamente Rafaela faria em poucos minutos.
-Eu que não vou ficar segurando vela, Rafaela me paga. Odeio ficar sozinha!
Andando em direção a multidão, ela falava sozinha, estava visivelmente alcoolizada. Avistou Bianca e o seu amigo que não lembrava o nome, ficou feliz por ter alguém conhecido por perto para lhe fazer companhia.
- Bianca!
Gritou tão alto que Miguel soltou uma risada colocando as mãos em suas orelhas, sabia que as duas juntas iria render muitas gargalhadas.
- Guel, você é mais alto que a gente. Procura uma ruiva gata e me avisa se achar, preciso beijar na boca, é urgente. Num vou ficar segurando vela não!
- Menina, tá louca? Estamos os três sozinhos, tá segurando vela de quem?
Miguel a questionou, já não entendia nada.
- Eu disse que ia pegar uma bebida, mas não vou voltar. Por que Rafaela achou uma boca para beijar e eu estava lá, perdendo meu precioso tempo segurando vela, sabendo onde aquela conversa vai dá.
- Deve ser só algum amigo dela, Manu! Aposto que estão só conversando...
Bianca pensou um pouco, mordendo o canudo que estava em sua boca, concluiu.
- Você está bêbada Manu, por isso está começando a imaginar essas coisas! É normal.
Miguel estava atento aos sinais de sua amiga.
- Primeiro que não estou nem perto de estar realmente bêbada, segundo eu conheço Rafaela melhor que ninguém, talvez menos que Gisely... Mas voltando ao assunto sei como funciona com ela. Aquela lá escolhe o alvo, começa uma conversa bem aleatória, verificar se ele é apto para tal função e voilá... Uma predadora que ataca suas vitimas em qualquer lugar.
Miguel a olhava tentando falar através de sinais que ela deveria parar com aquilo ou Bianca enfartaria de tanta raiva. Seus olhos ficaram brilhantes e ele sabia que precisaria agir rápido.
- Manu, que bebida é essa sua? Tá parecendo uma delícia, quero uma.
Miguel falou em tom de descontração, queria afastar aquele clima pesado.
- Não sei, Miguel. Mas oh, toma a minha.
Ele aceitou fazendo uma careta, tinha uma mistura de várias bebidas em uma só.
- Boa ideia, vamos beber gente!
- Não, Bia. Você disse que não ia exagerar hoje, lembra amiga?
- Lembro não, preciso comemorar caraí. Vou pegar mais cervejas, vocês querem?
Bianca saiu sem esperar a resposta deles.
Depois que o Miguel explicou para Manoela a pequena confusão que talvez ela tivesse causado entre Bianca e Rafaela. Os dois decidiram procurar Bianca para resolver o pequeno deslize e finalmente curtir o restante da festa. Caminhando entre as pessoas ele percebeu que Manoela parecia mais simpática que o normal, falava com todas as pessoas que aparecia no seu caminho, estava sorrindo atoa, efeitos do álcool, pensou. De repente viu Bianca um pouco distante deles conversando com uma garçonete, que parecia lhe pedi algo. Com uma garrafa na mão a mulher mais nova, tinha um sorriso aberto, Miguel sabia que ela só queria disfarçar sua chateação. Se aproximando com Manoela lhe questionou:
- Qual é essa bebida Bia?
- Gostou? Eu achei a embalagem linda e parece ser uma delícia.
- Você não bebeu ainda? Falou o que com aquela moça?
- Não bebi essa ainda, peguei outras bebidas no caminho e olha vou elogiar o Gustavo ele realmente cuidou muito bem dessa festa. Pedi a ela um balde com gelo. Mas oh segura aqui que vou beber o primeiro copo sem gelo mesmo. Assim desce queimando e mata tudo de ruim aqui dentro.
- Não vamos exagerar Bia, se não Jeniffer já já aparece.
Miguel falou já rindo da careta que Bianca fazia ao ingerir um copo cheio de Whisk, parecia ser bem forte e não entendeu por que a amiga estava bebendo aquilo, já que nunca gostou de bebidas tão forte. O whisky em questão era o Royal salute, era uma bebida que fazia jus ao preço.
- Como ela diz que um negócio ruim desses é sua bebida favorita?!
- Se estiver falando de Rafaela, ela diz que o whisky é a bebida que mais lhe ajuda a "esquecer' suas feridas, tirando a tequila, claro.
-Gente, pleaseeeee! Falem minha língua.
Miguel já estava sem paciência, prevendo que cuidaria de duas bêbadas chatas.
- Deixa pra lá Guel, vamos atrás de gelo. Acho que a garçonete já esqueceu.
No mesmo instante a moça de cabelo curtos e óculos grandes, se aproximou toda atrapalhada carregando um balde de gelo. Essa seria a missão de Miguel, ele pensou.
- Obrigada meu bem! Mas quem vai carregar esse balde por aí Bianca Andrade?
- Eu vou levar, consigo.
Manu que já não se aguentava em pé resolveu fazer os três sorrirem.
- Você está bêbada Manu. Esse viado é muito atrevido, mas ele que vai levar mesmo.
- Oh Bianca, não é melhor cada um pegar um copo com gelo e colocar a bebida e pronto? Você disse que não ia beber, tá lembrada madame?
- Mas as coisas mudaram, deixa de ser abelhudo.
A garçonete que observada os três discutindo resolveu interromper.
- Licença Dona Bianca. A senhora pode tirar uma foto comigo? Sei que não permitido pois estou no meu horário de trabalho, mas sou uma grande fã sua, admiro demais seu trabalho.
- Claro menina, como é seu nome? A festa é minha se preocupe com permissão não. E meu trabalho não seria nada sem vocês para acompanhar.
- Obrigada, obrigada.
Bianca se aproximou dela, segurando em sua cintura. A moça estava tremendo o que fez Bianca sorri. Pegou o celular que ela segurava e posicinou para uma selfie e depois entregou ao seu amigo para tirar uma foto melhor das duas juntas.
- Relaxa, e sorria.
Bianca falou no ouvido da garçonete que prendia a respiração em nervosismo.
- Posso tirar, Bia? Sorriam!
- Prontinho, ficaram ótimas.
- Obrigada, dona Bianca.
- Eu que agradeço por ter trago esse balde pesadíssimo. E pode me chamar de Bia.
Deu um beijo em seu rosto, a moça ficou sem jeito. Bianca sempre foi solicita com quem admirava seu trabalho de alguma forma, era por eles que ela estava alí, celebrando mais uma vitória que não era somente dela, era de todos.
- Meu nome é Rafaela, Bia.
- Só podia ser.
Manu deu uma gargalhada, tudo parecia se encaixar para o possível romance das duas.
- O que foi?
- Nada meu amor. Obrigada novamente e bom trabalho!
A garçonete achou estranho a reação dela, mas estava muito feliz com suas fotos que logo se despediu e voltou ao seu trabalho.
- O que há?
Miguel a questionou.
- Acho que a Bianca quer resolver uma pendência, amigo.
- Quero mesmo. Vou atrás de Rafaela, vocês vem?
- Nesse estado? Tá louca mesmo.
- Que estado? Eu comecei a beber pra valer agora, tem é tempo para eu ficar "louca". Vamos logo, por favor Guel!
- Não acho uma boa ideia Bia, Rafaela está acompanhada, meu amor.
Miguel tentava a todo custo minimizar a situação.
- Não vejo problema nenhum. Vamos nos unir a ela, dançar um pouco e quem sabe no final da festa, vocês vejam um trisal se formar.
Bianca por um segundo se divertiu com a ideia, mesmo sabendo que não conseguiria dividir aquela mulher com mais ninguém. Descobriu em sua vida, que poderia se divertir com várias pessoas, sexo é muito bom mas quando se envolve sentimentos é melhor ir com calma. Até os romances precisam de um momento certo para acontecer.
- Tá aí, algo que pago para ver. Minha amiga é possessiva, tá fora de cogitação.
- Mas você acabou de dizer que ela pega geral. Agora estou achando que é tudo historinha criada pela senhorita.
- Não disse que ela pega geral, ela fica com alguns caras, todos selecionados a dedo. Rafa não é do tipo que fica com alguém por muito tempo, digo romanticamente, me entende? Sexo sem sentimentos é seu lema.
- Nossa que sem coração!
- Meninas, decidam para onde vamos. Vai começar a outra banda e não vou perder um pagodezinho por causa de vocês. Vou logo avisando!
Bianca seguro na mão dos dois e tomou sua decisão.
- Vamos encontrar Rafaela!
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O amor não tem partida
Fiksi PenggemarUma mensagem sem pretensão de resposta. Uma loucura indecifrável. Dois mundos diferentes e uma conexão singular. O Furação e a calmaria. Encontros e desencontros, até achar seu lar... "Aprendi que lar não é um lugar, é um sentimento."