Durante o caminho para Cidade Nova, nossa felicidade estava escancarada, nem a cara de onça brava de mainha e o choro do Luiz, nos incomodou. Nossa viagem durou quarenta minutos, chegamos antes do escrivão, abrir as portas do único cartório da cidade. Fomos os primeiros a entrar e Moreno explica para o senhor calvo e de pele muito clara para quem mora no sertão, que estávamos ali para marcar nosso casamento. Que mainha nos acompanhava para me representar devido a minha pouca idade .
O Senhor muito sério me olha dos pés a cabeça e, comenta que esta cansado de casar crianças em seu cartório . Que isto é um absurdo na opinião dele, que deveria ter leis mas rígidas para evitar este tipo de abuso.
Moreno é mais rígido em responder, que o trabalho do escrivão é organizar os documentos e fazer os proclamas rolar que, quem ira nos casar é um juiz de paz, e não ele . Por isso ele não deveria se preocupar .
O senhor calvo, começa a preencher um papel que esta em sua mão e pede para Moreno, nossos documentos e mais os de mainha.
Mainha entrega para Moreno os documentos que ela tira de sua pequena bolsa de pano. O senhor calvo lê com atenção o documento que minha mãe entregou vira para Moreno e diz:
- Eu preciso da certidão de nascimento da menor .
Moreno, pega os documentos de suas mãos e lê, vira para mainha, com uma expressão bem séria e diz:
- Dona Conceição, este documento aqui é da senhora, este outro é a certidão de óbito de Seu Inácio. Nós vamos precisar da certidão de nascimento da Califórnia, para marcar o casamento .
- Estes são os únicos documentos que eu tenho em minha casa. Califórnia e meus outros meninos, não tem certidão .
- Neste caso será impossível marcar o casamento.
O senhor calvo disse com tanta satisfação, que quase sorriu .
- Neste caso, o senhor fara a certidão de nascimento, antes de fazer a de casamento .
Moreno fala tão bravo, que o senhor calvo se afasta da bancada concordando...
- Para isso vou precisar da declaração de nascido vivo do hospital, uma declaração por escrito dos pais e duas testemunhas mais velhas que os pais, que possam afirmar que a senhorita é mesma filha do casal .
- Eu não preciso dizer para o senhor que assim como a maioria de todos nascidos em Sertãozinho, Califórnia não tem declaração de hospital de nascido vivo . A mãe da Califórnia não pode fazer uma declaração em punho, se declarando mãe genitora, pois ela é analfabeta e seu marido é falecido. Neste caso, eu faço a declaração e as testemunhas eu posso arrumar logo ali no armazém .
Eu me aproximo de Moreno e tento acalma-lo, pois a impressão que eu tenho era que estava acontecendo um desafio pessoal ali .
- Calma Moreno você falando assim, ele não vai querer marcar o casamento. Falei baixo em seu ouvido.
- Cali, este senhor esta aqui prestando um serviço pelo qual eu vou pagar, ele não tem que estar de acordo com a idade que estamos casando . Apenas tem que fazer o trabalho dele, as suas opiniões, ele guarda para si .
- Eu sei, mas fique calmo e, como vamos fazer agora ?
Eu não queria demonstrar mas, estava decepcionada, nem por um momento pensei que teríamos algum problema para marcar o casamento .
Moreno me abraça e beija o topo de minha cabeça ao perceber minha decepção.
Mainha também esta decepcionada e, anda com Luiz de um lado para outro no pequeno espaço do cartório .
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Califórnia a menina do sertão
RomanceOBRA DEVIDAMENTE REGISTRADA NA BIBLIOTECA NACIONAL . PLÁGIO É CRIME . DIREITOS AUTORAIS . NADIA DUARTE . TEMA ADULTO . Uma historia diferente onde fala de coisas do mundo real. Da vida dura do sertão, de uma realidade que muitos não conhecem, mais...