Califórnia a menina do sertão

Capitulo 23

POR JOÃO ...

Eu não acredito que em meia hora estarei com a Cali.. Que saudades que estou, meu peito chega a doer, se fecho meus olhos posso ouvir sua voz gostosa... Seu sorriso lindo! seu jeito gostoso de se enroscar em mim e de me enlouquecer. 
Foram dias difíceis, me concentrar no curso não foi nada fácil, eu deveria ter conversado com a madrinha sobre minha desconfiança, que a Cali possa estar gravida. Esta duvida esta me consumindo, fui um idiota de ter deixado este assunto para depois que eu voltasse . E se dona Conceição já percebeu? Ela terá feito da vida da Cali um inferno ... Mas Cali estava tão triste com minha viagem, que eu não quis deixa-la preocupada, mas amanhã mesmo eu acabo com esta duvida.  Antes de qualquer coisa, vou leva-la ao medico. E se eu estiver certo, Cali não sairá de perto de mim. E que se dane papelada de casamento, porque Cali já é minha mulher, e se ela estiver esperando um filho meu, o caramba que vou ficar esperando padre dizer que posso beijar a noiva, para cuidar dela e de meu filho, ou filha?.
Meu filho...  Caramba...  Será? Tenho certeza que sim, Cali estava enjoando e seu corpo mudou...  Senti a diferença em seus seios na ultima vez que os toquei, estavam maiores rosados, e com seus cabelos caído sobre eles, estava    perfeitamente mas lindos! Ah Cali a hora que eu te pegar em meus braços, vou lhe tombar de um jeito...   Melhor eu parar com estes pensamentos e continuar com os olhos na estrada...
- Que cara de bobo é esta Caipira ?
Olho para a Mariana e sorrio de orelha a orelha ...
- Hora irmãzinha estamos chegando em casa, vou me livrar de você,  não vou precisar ficar brigando com você para ter responsabilidades, ficar te vigiando para não fazer merda...
- Você é um idiota Caipira...   Fico com dó, parece que ela se ofendeu.
- Desculpe Mariana, estou brincando...  O dia que você sentir saudades de alguém, assim como eu estou sentindo da Cali, você compreendera meu sorriso bobo ... 
A birrenta olha para mim e faz uma careta de quem esta enjoada.    
 Mariana não facilitou minha vida, o garota chata e irresponsável...
Além de eu ter que lhe aturar por uma semana inteira, tive que brigar com ela para podermos continuar com a viagem . Imagina se eu iria ficar mais um dia longe da Cali para ficar em Ilhéus, só porque ela quer.
***
- Ah não João, você vai me levar primeiro pra casa, não vai passar na casa da sua namoradinha  e me deixar esperando no carro, enquanto vocês se atracam como dois bichos no cio...
- Mariana a casa da Cali  fica na estrada antes  da fazenda, você não acha que eu vou passar reto da casa dela, para te levar embora e depois voltar ...
- João eu não quero ficar na porta da casa dela te esperando, me leva depois você volta .
- Faz o seguinte Mariana, eu chamo a Cali e ela vai para a fazenda com a gente ...
- O que? Eu não vou ficar dentro do carro com vocês dois de chamego .
- Tudo bem Mariana, você vai com o carro e eu desço e depois vou a pé com a Cali .
****
Quando chego na frente da casa de Cali, aperto a buzina varias vezes, antes de descer do carro. Estranho porque a casa esta fechada e minguem sai... Chamo por Cali varias vezes, e nada . Dou um tempo esperando, vou ate o Umbuzeiro e fico por lá fazendo hora .. Resolvo ir pra casa, tomar um banho e voltar de carro. Hoje é domingo Cali deve ter ido a missa com a mãe e seus irmãos . Vou buscar o carro e vou de encontro a eles..
Levo quarenta minutos caminhando, chego na fazenda e vejo a madrinha sentada na varanda, com certeza ela esta me esperando. Carlinhos vem  ao meu  encontro fazendo alguns gestos, madrinha desce apressada as escadas e faz um sinal para ele ficar onde esta .
Quando vejo a expressão no rosto da madrinha me sinto incomodado, algo muito ruim deve ter acontecido ... Sinto uma angustia insuportável, penso em Cali, e em sua possível grávidez, e se ela ficou mal ? E se alguma coisa aconteceu com ela ? Aquele desgraçado do Henrique saiu daqui jurando vingança, e ele sabe que ela é meu ponto fraco .   
Quando chego perto da madrinha ela me abraça forte, como se quisesse me consolar . Eu a seguro pelos ombros e a afasto, olho em seus olhos, estão vermelhos e muito tristes .
- Madrinha por Deus, o que esta acontecendo ? Califórnia, esta tudo bem com ela ? Eu estive na casa dela e não tem ninguém lá .
Madrinha volta a me abraçar dizendo :
- Meu filho ...  Eu não sei como te contar isso .
- Madrinha por favor diga, o que esta acontecendo ? É alguma coisa com a Cali ?
Com a voz gaguejando e lagrimas descendo de seus olhos, madrinha da inicio ao meu pior pesadelo . 
- Ela fugiu com o Henrique...  A voz da madrinha saiu tão baixa, que eu entendi errado, só pode ser .
- O que a senhora esta dizendo madrinha ?
- Ela fugiu com o Henrique... Agora a voz da madrinha é firme para que eu possa entender ...  Fico paralisado estudando cada palavra que ouvi incrédulo. Madrinha continua falando, eu não compreendo nem uma palavra .
Tento raciocinar o que acabei de ouvir e tudo faz sentido quando lembro das palavras do Henrique dizendo. ( -Que eu ia amargar por ter lhe quebrado a cara, e não ia demorar. Que ele não podia comigo no braço, mas que existe humilhação pior que levar um murro na cara em praça publica. E que a minha vergonha iria arrastar minha cara no chão de todo Sertãozinho.) 
Filho de uma égua, desgraçado, ele veio trás da Cali e sabe Deus o que ele fez com ela ...
- Mariana, Mariana ....   Grito andando apressado para dentro de casa.
- Vou atrás deste desgraçado Madrinha, ele vai ter que me dizer onde, e oque ele fez com a Cali .  Meu Deus madrinha, vocês não me falaram nada quando liguei. Quando isso aconteceu? Porque padrinho não foi atrás dele? Como aquele desgraçado vem aqui, rouba a Cali, e vocês não fazem nada ?
Madrinha chora compulsivamente e pede para que eu ouça, mas eu não consigo parar tenho que encontrar Mariana, ela ira me levar na casa daquele  desgraçado .
- Por Deus João, para e me ouça . Madrinha berra  entrando em minha frente colocando as mãos em meu peito, ela diz me olhando nos olhos .
- Califórnia não foi roubada por Henrique, ela foi fugida daqui com ele, porque ela quis.
Madrinha segura em minha mão, e coloca algo no meio delas.
Abro minha mão, o anel de compromisso que eu dei pra Cali, no primeiro dia de seu aniversario, quando a pedi em casamento. 
- Ela pediu para te entregar isso, meu filho .
- Califórnia entregou este anel para a senhora ?
Madrinha balança a cabeça em negativa.
- Não, ela entregou a Carlinhos, quando ele esteve em sua casa para levar água, e ela estava de partida, junto com sua família .
Fecho meus olhos aperto o anel em minha mão, respiro fundo e raciocínio .
Logico que aquele filho da mãe comprou o miserável do Carlinhos, para dizer esta mentirada toda. Mas ele vai abrir o bico abaixo de porrada.
Tiro madrinha de minha frente.. Ela vê em meus olhos o ódio que estou sentindo, ate eu estou com pena do miserável que se vendeu para aquele desgraçado . Como ele ousa difamar Cali assim ?
Carlinhos esta parado bem no meio do jardim . O miserável fica com as pernas bambas quando vê a ira em meus olhos . E tenta correr, com três longas passadas eu o alcanço, viro ele de frente para mim e não dou nem chance para que abra a boca e lhe acerto um murro  na cara, ate os ossos de meus dedos estralam.
Dou uma rasteira, e o calango vai ao chão, colocando as mãos no rosto .
- Diga, para onde ele levou a Cali ?
- Eu não sei Patrãozinho, por nosso Senhor Jesus Cristo, que eu não sei ... Ele gaguejou e desconfio que não esteja falando a verdade: 
- Diga seu miserável, quanto ele te pagou, para você inventar esta mentira ?
- Ele não pagou nada não, eu vi ela indo embora com ele .
- Miserável, vai continuar mentindo ?
- Por Deus João, eu não estou mentindo, Califórnia  me pediu para entregar o anel e dizer para o senhor perdoar, mas que ela tem que cuidar da família. E o moço vai dar estudo pros meninos, uma casa boa para mãe dela .  
Fico cego de ódio, como o idiota podia estar sustentando esta mentira ?  Carlinhos estava com a cara quebrada, cheia de sangue, preso debaixo de mim com as mão apontado para sua fuça feia ...  Dou uma última chance :
- Fale a verdade desgraçado.  Rosno entre os dentes
- É verdade ...  Gagueja apertando os  olhos esperando pela porrada.
Passo a dar uma sequencia de socos, descontando toda minha raiva e desespero, por saber que a Cali esta nas mãos daquele covarde, e de saber que ninguém fez nada para ajuda-la, ao contraio estão a difamando . Madrinha grita pedindo para que eu solte o filho da mãe. Carlinhos geme e tenta fugir, logo Mariana e padrinho também estão em cima de mim, tentando me parar . Eles gritam e dizem coisas que não sou capaz de compreender. Um soco me acerta o rosto, por extinto solto o desgraçado que esta no chão e levando erguendo a mão para acertar quem me bateu, seguro pelo colarinho e paro minha mão a centímetros de acertar um murro no rosto do padrinho.
- Por Deus meu filho nos ouça, você esta fora de si .
Ele grita  me segurando pelos ombros . Eu estou com dificuldades para respirar e quero gritar, correr ate achar Cali, eu sei que ela deve esta em perigo .
- Por favor padrinho me solte...   Estou como bicho em fúria e não suporto as mãos do padrinho em mim, desvio meus ombros me soltando passo a mão em minha face que dói . Olho para padrinho, que tem  um curativo em sua testa, e seu olho roxo. E posso imaginar porque ele não cumpriu sua promessa de tomar conta de Cali...  Estava por ai na farra, enchendo a cara e se deitando com quenga Eu aponto o dedo para ele e o acuso. 
- Eu pedi tanto para o senhor cuidar dela pra mim. Eu não devia ter ido viajar depois que aquele desgraçado me ameaçou daquele jeito . Eu confiei no senhor, e o senhor deixou ele fazer mal a ela .
Eu não estava reconhecendo a minha própria voz, eu estava chorando na frente de todo mundo como um moleque .
- Todos fora daqui . Padrinho ordena para um grupo de peões, que se juntaram em torno de Carlinhos que esta sentado no chão todo ensanguentado. E você fica, diz para Carlinhos que esta sendo levantado por seus companheiros, todos me olham atravessados e nos deixam .
Padrinho volta sua atenção para mim e diz :
- João o que vou te falar vai ser difícil de ouvir, e por mais absurdo que pareça é verdade . Califórnia foi embora de Sertãozinho, fugida com o Henrique.  
- Padrinho o senhor não entendeu que aquele covarde pagou este miserável para falar esta mentira, ele disse que ia se vingar de mim .
- Ele não esta mentindo.
- Padrinho é claro que esta, Cali, jamais me deixaria para ir com aquele desgraçado porque ele prometeu estudo para os irmãos e casa para a mãe, isso é um absurdo, padrinho .
- Não é João, infelizmente meu filho você estava caindo no golpe do baú e veio outro com o baú mais cheio, e levou .
- Padrinho eu sei que o senhor tem seus motivos para acreditar nisso, mas a Cali ela não é assim como aquela que enganou o senhor.
Padrinho me olha intensamente e segura em meus ombros prevendo que me daria o golpe final .
- Eu vi João. Eu peguei a menina de safadeza dentro do carro com  Henrique. Eu também pensei, que ele estava abusando dela, mas quando me aproximei, vi que ela ria e estava gostando, eu tirei o filho de uma égua de dentro do carro nós lutamos, quebrei a cara dele. Eu estava espancando o covarde, Califórnia me acertou com algo, e eu apaguei. Eles me puxaram em um canto, quando acordei fui para a delegacia na Estrada Nova, fiz uma ocorrência. E quando cheguei aqui Carlinhos me disse, que foi levar água e viu quando a menina partiu . Olha o estado que estou, tenho o documento da ocorrência.    
Perco todas as minhas forças e me escoro no padrinho,  puxando o ar. É como se um punhal estivesse  perfurando meu peito e me rasgando . Desejei que aquela dor me matasse. Não é possível, que eu tenha me enganado tanto. Mas a gravidez ? Não eu não posso acreditar que Cali ... 
- Não padrinho vocês estão loucos, eu não acredito. Eu amo aquela mulher, coloquei minha vida nas mãos dela . Eu conheço a Cali desde pequena e ela não é assim . Cali é orgulhosa, não gosta nem de aceitar presentes, ela não se venderia .
- João olhe para mim, você é o filho que Deus colocou em minha vida. Eu prezo por você, e quero seu bem, sua felicidade. Você acha que eu brincaria com algo tão serio ? Eu estou sofrendo por você meu filho, mas não posso te dizer que a menina é inocente, porque eu vi com estes olhos que um dia a terra ira comer. Ela se roçando com aquele vagabundo, e pela cara de safada dela, estava muito feliz .
Tudo que ouço é enlouquecedor, tenho que ficar sozinho. Eu preciso pensar encontrar uma saída.   
- Mariana a chave do carro ?  Falo tão alto que Mariana da um pulo para trás, seus olhos estão arregalados e com voz tremula ela diz.
- Deixei no carro .
Dou meia volta, e ando a passos largos em direção do carro. Quando me vejo sozinho solto um nó que esta em minha garganta, com um berro ate não ter mais ar em meus pulmões. E choro como criança chamando por Cali meu amor ...  E pergunto porque? Porque, meu Deus?  
Ligo o carro e dirijo no automático, as lagrimas embaçam minha vistas ate chegar na casa de Cali, desço do carro gritando por seu nome. Fico em silêncio na esperança de ouvir sua voz responder. O silêncio me mata. Vou ate a janela e  grito por ela .  Com uma pesada abro a porta, vou ate o único quarto da casa. Vejo varias esteiras no chão e pares de chinelos ao lado de cada uma delas. Percebo que realmente saíram dali fugidos, nem calçaram os chinelos e tudo esta bagunçado.
No canto perto da janela tem uma esteira, que imagino que seria da Cali, ao lado da esteira esta a caixa que eu lhe dei com a copia de certidão de nascimento e na parede tem um cabide com seus vestidos.
O vestido branco se destacas entre todos, passo a mão no vestido como se tocasse sua pele. E cheiro o tecido que ainda tem seu perfume, fecho meus olhos e poso ver sua imagem ... Cali sorrindo, correndo na praia, tão linda, meiga e inocente e ao mesmo tempo transpirando sensualidade. Pego o vestido e aperto em meus braços como se a abraçasse. Ainda sinto o gosto de seus beijos e posso sentir ela,  sua pele como se estivesse impregnado em mim, como se estivesse penetrado em meus poros e misturado ao meu sangue em minha carne. Como parte de mim, a metade de meu coração e de meu ser. Deito em sua esteira com seu vestido em minhas mãos, sentindo seu cheiro e lembrando de cada momento que ela me faz acreditar que me amava, e que nunca me deixaria para trás. Se ela soubesse que eu seria capaz de dar tudo que ela me pedisse, tudo... No delírio da dor que esta me rasgando eu passo a falar com aquele vestido como se fosse ela .
 -  Eu faria qualquer coisa por você Cali, porque ? Sei que aquele desgraçado vai brincar com você e depois te jogar fora. Porque  você fez isso com a gente meu amor ? Porque esta me matando assim ? Você disse que ia me esperar para me dar o amor maior do mundo e o que eu encontro no lugar deste amor é  desespero e dor. Uma dor maior que o mundo, uma dor que esta me matando.  
Choro toda dor do meu peito, como um moleque medroso, tenho soluços e meu corpo treme.  
Olho para a caixa e abro, ela deixou tudo para trás, meus presentes, os bilhetes que eu deixava no Umbuzeiro, o caderno que eu a ensinei a escrever, o papel onde fiz o rabisco de nossa casa. E tem outras coisas que eu não reconheço, como uma pequena caixinha que pego e abro, dentro uma gargantilha com um pingente em formato de coração. Um cartão com rosas desenhadas em relevo... Meu coração bate forte quando abro o cartão, nele esta escrito.
Meu reino de cacau, por outro beijo seu . Henrique
Mexo e encontro um outro cartão.
Fiquei sabendo que é seu aniversario, troco um presente por em chamego gostoso. Henrique .
Que merda é esta aqui? A quanto tempo isso vem acontecendo ?
Olho as datas dos cartões e vejo que o primeiro é de três dias depois que Henrique chegou em Sertãozinho.
Toda aquela dor que esta dentro de mim vai se transformando em ódio a cada bilhete que leio. E encontro vários, combinando  encontros nas horas de folga da lida . Como eu não percebi ?
Quando já vi o bastante, a fúria dentro de mim me sufoca. Fico olhando para todas as aquelas coisas e provas que Cali estava me traindo com aquele desgraçado. Sinto ódio de mim, e dela. Em um ataque de fúria começo a quebrar tudo em minha frente. Rasgo seu vestido querendo por para fora de mim o ódio e o amor que esta me matando . Junto todas as coisas que estavam dentro da caixa o que sobrou do vestido branco e os outros que estão espelhados pelo chão, levo para o quintal, volto para cozinha procurando por algo e encontro fósforos.