Acordamos de manhã com gritos e cantorias. Era a tia Amélia cantando algum pagode alto demais para aquela hora do dia. Na verdade já estava atrasado. Quando peguei meu telefone tinha duas ligações do meu pai. Me despedi da tia Amélia, Júlia ainda estava dormindo. Tia Amélia me deu um pão com queijo e goiabada. Meu sanduíche preferido. Ela disse:
-Volte aqui rapaz. Tem pãozinho pra você lá no microondas. Vai com cuidado em!
-Pode deixar tia. Aliás obrigado pelo sanduíche. Te amo velha!
-Velha é teu... Melhor deixar quieto.
Disse ela rindo. A tia Amélia sempre está de bom Humor. É muito interessante isso. Eu amo isso nela.
Fui para casa correndo, não era muito longe dali, apenas duas esquinas depois da casa da Júlia. Cheguei e encontrei meu pai na porta, ele disse:
-Graças a deus você chegou! A Helena não para de me interrogar pra saber se sei algo. Onde você Tava?
-Oi pai, eu e Júlia fomos dormir tarde.
-Tarde? É sério? É essa sua desculpa? Pega um chiclete aqui no carro e mastiga, tua boca tá fedendo a vômito e bebida.
-Mas eu não bebi! É sério.
-Disfarça a cara de ressaca pelo menos.
Rimos e eu disse "ok".
Entrei em casa e minha mãe já estava arrumando minha mala pra viajar. Ela já estava terminando de arrumar e perguntei se estava tudo bem de eu ir para lá. Ela disse:
-Claro filho. Ele é seu pai. Aliás já estou querendo me resolver com eles. Trate sua tia bem, não arrume confusão por favor. E leva alguns livros seus para ler lá. Vou viajar também, vou pra um SPA no interior daqui do Rio. Vou passar um mês lá. Só posso pegar o celular as cinco da tarde e ficar com ele até as seis horas. Só pra dar notícia a vocês. Tudo bem?
-Sim mãe, a senhora realmente precisa disso. Cuidado lá, e se for me arrumar um padrasto que ele seja mais bonito que meu pai. Não arrume alguém pior.
-Garoto! Vai se lascar. Vou arrumar ninguém não. -ela riu.
Peguei minha mala e fomos até o carro. Meu pai abriu o porta malas, coloquei a mala lá. Me despedi da minha mãe e partimos em direção a região dos Lagos. Coloquei minha playlist e não tem nada melhor do que viajar ouvindo música. Nos perdemos em devaneios e devaneios. A música preenche todo o seu vazio. Nos aprofundamos em todas aquelas notas e falsetes. A cada nota alta e baixa nos lembramos de algo. Coloquei "A última noite" do Jão. Ela sempre me faz de tantas coisas. Como se eu estivesse em meio de uma cena de romance clichê. Minha mente parou de viajar quando recebi uma notificação.
Era o Pedro e Júlia em um grupo. O nome era "ADSD". Era a cara da Júlia criar um grupo com esse nome. Perguntei o significado do nome, na mensagem dizia:
"Amigos Drogados sem drogas"
"Ótimo, agora o Pedro vai achar que somos um grupo do Facebook dos anos 2009"
"Não vou não. Gostei do nome kk."
Começamos a conversar, Júlia desapareceu da conversa. O que é estranho por quê ela fala muito. Pedro e eu ficamos conversando e ele disse:
"Você gosta do Jão, né? Todo dia posta que está ouvindo música dele. Ele está com feed todo azul. Será que é o J3?"
Eu não tinha aberto o Instagram ainda naquela manhã. Quando abri, quase todos que eu seguia do fã clube estavam com o perfil azul. Voltei as mensagens e disse:
"Acabei de ver. Espero que ele lance pelo menos uma música esse mês."
Quando percebi estava lendo a mensagem dele e tendo um riso bobo e torto. Aquela mensagem me deu um sentimento estranho mas resolvi ignorar. Logo em seguida a Júlia mandou um print no meu particular e nele estava escrito "casal perfeito". Eu ri novamente. Apenas respondi com uma figurinha de risada. Estava sentindo fome e peguei minha mochila, procurei e nada de achar nem uma bala pra saborear na minha primeira ressaca.
Meu pai riu e disse:
-Tá com fome olho amarelo? Vamos dar uma parada. Ali na frente.
Paramos o carro em um posto, ao descer do carro levantei muito rápido e me deu tontura. Fomos a lanchonete do posto pegamos dois salgados, um suco de uva e um refri. Enquanto meu pai pagava eu saí da lanchonete e me deu muita vontade de vomitar. Não deu nem tempo pra pensar. Vomitei. Sério leitor, nunca me avisaram que beber deixava a pessoa tão ruim. Ao vomitar no meio do posto com os braços levantados separando as coisas do meu vômito, meu pai veio. Pegou as coisas da minha mão e disse rindo:
-E ainda diz que não está de ressaca.
Fui ao banheiro e lavei a boca, pelo espelho vi um senhor urinando, porém olhando pra mim. Fiquei sem graça e voltei a lavar a boca e mão. Ele foi chegando mais perto e disse:
-Quer tocar?
A minha única reação naquele momento foi sair do banheiro. Ao chegar no carro meu pai disse se eu estava bem, disse que sim.
Ele ligando o carro pra sair disse:
-Coloca aquela música do Jão. Esqueci o nome... lembrei! Ressaca.
Rimos da piadinha dele. Depois de comer, peguei no sono e quando me dei conta estava sendo acordado por ele.
Abrindo o portão, dei de cara com a Lúcia. Ela disse um "oi" meio sem graça e entramos. Chegamos já estava querendo escurecer, pegamos um pouco de trânsito perto da região dos Lagos. Meu pai disse pra mim que tinha sido um acidente sério envolvendo um casal de idosos, pelo o que ele viu. Meu pai foi pegar o resto das malas. Fiquei em uma situação frustrante com a Lúcia. Ela tentou puxar assunto. Não dei muito ibope a ela. Não queria lembrar da raiva que ela me fez passar. Queria lembrar de coisas boas, lembrando de feriados, festas de aniversário. Queria lembrar dessas coisas pra não voar com minhas mãos no pescoço dela. Falei pra ela se eles estavam bem. Ela disse um "sim" sem graça e logo falou:
-Olha... eu sinto muito pelo o que eu fiz vocês passarem. Mas, amo vocês. Não precisa que isso seja recíproco, mas quero que saiba.
-De boa Lúcia. Não ligo pra isso. Sério mesmo... o importante é meu pai estar feliz.
Meu pai entrou na sala, e ficamos os três em silêncio, olhando um para a cara do outro. Que momento constrangedor, queria cavar um buraco e colocar minha cabeça lá dentro. Ele me levou a o quarto para colocar minhas coisas lá. Ao entrar no quarto ele disse:
-Bom, esse é o seu quarto. É bem grande. Amanhã vamos na rua comprar algumas coisas para ele. Roupas de cama, quadro e essas coisas. Se quiser é claro.
Fiz com a cabeça que sim e ele saiu dizendo:
-Já já o jantar fica pronto. Na verdade eu tenho que pedir no aplicativo ele, você sabe que sua tia não leva o menor jeito na cozinha.
Me sentei na cama de casal que estava no quarto. Peguei meu celular e comecei a conversar com Pedro e Júlia no grupo. Mandei:
"cheguei ao inferno. Entrada franca."
No mesmo momento o Pedro mandou:
"Boa sorte amigo, cuidado aí..."
"Verdade amg, cuidado, não tenho roupa pra ir no seu julgamento após o assassinato da sua tia"
Logo após essa preocupação irônica deles, recebi um "oi" do Pedro. A sensação dessa notificação era diferente. Minha barriga ficou gelada, eu fiquei ansioso para poder responder.
Respondi o "oi" e ele disse:
"Vamos ficar em ligação? Tô triste, preciso de alguém."
"Claro amigo, pode ligar."
Ele ligou e perguntei o que tinha acontecido, mas não tive resposta, apenas choro. Disse:
-Se acalma amigo. Se acalma. O que aconteceu?
- Minha mãe... Minha mãe descobriu a uns dois dias que está com leucemia. E não sei o que fazer. Não sei reagir a isso. É muito difícil.
-Calma, sei que deve estar começando a se cansar de ouvir o "vai ficar tudo bem" das pessoas, mas, vai ficar tudo bem.
-Não tem essas "pessoas". Você é meu único amigo que sabe. Sei que a gente se conhece a pouco tempo. Mas não consigo falar isso pra ninguém, a não ser, você.
-Espera. Eu sou seu único amigo, que sabe?
-Sim. Desculpa ter que me aturar nessa situação.
-Não Pedro, não tem problema. Amigos são pra isso.
-Podemos ficar em silêncio? Quero o silêncio.
-Claro Pedrinho. Posso te chamar de Pedrinho?
-Claro. Não ouço isso desde quando eu era pequeno. -disse ele rindo um pouco. Ficamos em silêncio por uns seis minutos.
Meu pai entrou no quarto, e disse que o jantar estava pronto. Pra eu tomar um banho e ir comer. Após ele fechar a porta o Pedro disse risonho:
-Amigo, vai lá. Cuide das suas coisas. Amanhã te perturbo mais.
-Tem certeza que não quer me perturbar mais um pouco? O meu jantar com meus parentes mais amados podem esperar...
-Eu amo essa sua ironia! Mas pode ir jantar. Não vou ser sua desculpa para prolongar o tempo do assassinato da sua tia.
Rimos e nos despedimos. Fui tomar banho, e recebi um "obrigado por me acalmar um pouco". Dessa mensagem você pode tirar sua conclusão de quem seja o remetente disso.
Tomei meu banho, me olhei no espelho e vi meu olho. Eles estava ainda um pouco inchado. Não tava muito dolorido, porém estava meio doído.
Sai do quarto em direção a cozinha. Coloquei minha comida e fui pra sala. Os dois estavam lá no sofá, assistindo novela. Me sentei no tapete e falei após dar à primeira garfada na comida:
-Amo massas. Ainda mais essa que a o senhor faz com queijo.
-Ele arrebenta, né?
-Sim tia.
-Obrigado pelos elogios, mas não vou por Friends ou Gilmore Girls agora não. Só depois do jornal. -disse ele rindo. Rimos juntos a ele.
Terminei de jantar, me levantei, peguei os pratos deles e fui na cozinha. Comecei a lavar alasouças. Eu AMO lavar louças e dobrar roupas. Peguei meu telefone e fone, coloquei "abril" de Anavitoria e comecei a lavar tudo. Me perdi pela letra. Terminei de lavar as coisas em um piscar de olhos. Fui pra sala, me despedi deles, dei a desculpa de que "estou muito cansado, vou ficar deitado".
Abri minha mensagens, no grupo tinham oitenta e três. Era Júlia e Pedro conversando. A Júlia mandou:
"Vamos ficar em ligação até dormir? Tô sozinha e estou com medo. Minha avó viajou.
Na verdade ela foi pra alguma gafieira.
Ligamos. Nós três ficamos conversando sobre filme e fofocamos. E quando dei por mim já era de manhã e estávamos umas oito horas de ligação em silêncio absoluto.
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Ainda te (ch)amo
Teen FictionAlex é apenas um gamer. Que até então achava que era hétero. Mas sua vida vira de cabeça para baixo após conhecer Pedro em uma sala de jogos on-line. Ps: Se passa em 2020/2021 porém sem a P@NDEM!A.