Acordei, dei bom dia pra eles, mas como era de se esperar eles ainda estavam dormindo. Comecei a cantar alto e Pedro acordou. Deu bom dia e falou que teria que desligar, tinha que ir no hospital com a mãe dele pra ver qual seria o tratamento dela. Júlia acordou logo após ele desligar. Ela disse:
-Bom dia! Seu amor já desligou? Você viu que ele tem a marca de um raio ao lado da cabeça? Igual o do Jão?
-Para Júlia! Eu só beijei aquele garoto na festa por estar bêbado. Sou hétero.
-Alex para! Sabemos que você não é. Eu ouvi aquela noite que vocês estavam jogando sem minha ilustre e memorável presença que vocês iam marcar para se ver em Rio das ostras. Você gosta dele, assume!
-Sim. Talvez. Ai não sei. Nunca gostei de nenhuma menina e nem de nenhum menino. Não sei como é esse sentimento amiga.
-Faz assim, repara quantas vezes em um dia você pensa nele ou em jogar com ele. Se passar de quatro vezes você me diz.
-Tá bom né. Fazer o que. Amiga vou desligar, tenho que fazer alguma coisa pra ajudar aqui.
-Tá bom, vai lá. Te amo desgraça.
-Também te odeio. Tchau. -Disse eu desligando.
Sai do quarto e minha tia estava ouvindo música. Estava tocando algum pagode daqueles antigos.
Cheguei perto da cozinha, ela estava fazendo o café, entrei e gritei:
-BOM DIA!
-Ai menino que susto. Você quer me matar? Se quiser avisa antes. -disse ela rindo.
No fundo, eu queria dizer: Sim tia, quero sim.
Porém acho que o clima não ficaria tão favorável. Ela disse:
-O café você sabe o esquema desde pequeno. Pega as coisas que quer comer e come, sabe que não gosto de preparar nada. Agora o meu cafezinho está quase pronto. Vai querer? Com leite em pó, né?
-Quero ele puro mesmo. Obrigado. Onde meu pai está?
-Ele saiu pra comprar uma mesinha pra você eu acho. E uns livros também. Não, na verdade ele falou pra você escolher os livros no site, que ele vai tirar no cartão.
-Ata. Vai querer alguma ajuda hoje?
-Na verdade temos que ir ao hospital buscar remédios para seu pai. Retiramos eles lá. E ir ao mercado, comprar algumas besteiras pra você comer.
-Entendi, quer alguma ajuda em casa? Dobrar roupa ou lavar a louça?
-Tenho uns dois cestos de roupa pra dobrar, se puder fazer isso, agradeço.
-Faço sim. E esse café não sai nunca?
-Já tá pronto peste, pega a caneca no armário.
Naquele momento parecia que nunca tinha acontecido nada entre nós dois. Era apenas um sobrinho e uma tia se ofendendo carinhosamente. Comecei a cantar "Fulminante" que era a música que estava tocando. Peguei a caneca e comecei a por o café nela, não percebi que estava cheia e acabei deixando transbordar. Queimei a mão. O café tinha acabado de sair. Estava muito quente. Corri pra pia e taquei água gelada, minha tia correu pegou um pano, molhou e colocou em cima. Me sentei na cadeira da mesa, enquanto ela ia no banheiro pegar pomada pra colocar em cima. Ela veio, e perguntou se estava doendo, fiz com a cabeça que sim. Começou a passar a pomada e disse:
-Ta vendo menino, foi inventar de ficar apaixonado e cantar fulminante, nisso que dá.
-Apaixonado? Eu? Não, não... Eu não estou não.
-Sei que não sou a melhor pessoa pra dizer isso, mas você tá sim. Da pra ver no seu rosto.
Eu estava pensando nele, no dia que ele disse que infelizmente não tinha me visto pelado. Será que realmente tinha me apaixonado ao ponto de não perceber o sentimento?
Ela rindo disse:
-Quem é a pessoa, diiiz! Nunca quis tanto saber a primeira pessoa que meu único sobrinho gosta.
-Acho que a senhora está alucinando. Não tem ninguém.
-Tá bom, vou fingir que acredito.
Depois de passar a pomada na queimadura, meu pai entrou na cozinha perguntando o que estava acontecendo, Lúcia explicou tudo a ele e ele riu. Apenas riu. A Lúcia mencionou a parte do "apaixonado". Ele disse rindo:
-O Alex? Gostando de alguém? Uma piada a essa hora? Ai ai, tô até com dor de tanto rir.
-Ué pai, vai que eu esteja. Que não é o caso, por quê seria tão engraçado?
-Acho meio impossível você gostar de alguém. Claro que mais pra frente você deve encontrar alguém, mas acho que por agora você não quer nada. Igual antigamente.
-Huuum. E a mesa, achou alguma? -disse a Lúcia.
-Sim, uma que vem um conjunto de estante. Contamos pra ele aquilo agora?
-Acho que sim. Fala. -disse Lúcia
-Ok. Sua tia e eu decidimos colocar essa casa no seu nome. O que acha?
-Eita, como assim? Tá bom, valeu. -disse eu meio tonto.
Horas após aquilo, eu peguei meu telefone, tinha umas mensagens do Pedro, dizendo o seguinte:
"Amigo tá aí?"
"Ela vai fazer quimio mesmo."
"O médico falou que está em estágio dois, não é fácil de sarar, mas também não é difícil."
Eu disse:
"Que tudo amigo!! Que sua mãe melhore logo."
"Queimei a mão, nada muito sério. Porém tá doendo um pouco."
Ele respondeu na hora:
"EITA! Passou pomada? Tá bem mesmo?"
Só respondi que sim e sai da conversa. Aquela mensagem dele me deu um conforto. Estranho conforto, mas muito bom. Fiquei pensando na mensagem.
Minha tia entrou no quarto e disse apenas "vamos". Me levantei e fomos.
Pegamos o carro e saímos. Coloquei uma música no rádio e calhou de ser "partilhar" da Anavitória. Bastou aquilo pra ela dizer rindo:
-VOCÊ TÁ APAIXONADO SIIIM!
-Talvez. BRINCADEIRA!
Rimos e após aquela música tocou "wannabe". Aquela música era a nossa música em todos os churrascos lá em casa. Começamos a cantar e dançar no carro. Rimos, porém, minha tia disse que tinha que encostar. No acostamento, ao abrir a porta ela vomitou, vomitou muito. Sai do carro, rodeei ele e segurei seu cabelo. Ela disse que estava bem. Paramos num posto de gasolina um pouco mais a frente e compramos uma água pra ela fazer um gargarejo para limpar a boca daquele gosto de vômito. Perguntei:
-Tu tá bem mulher? Não parece muito.
-Estou sim. Foi só um enjoo. Nada demais.
-Ok, qualquer coisa paramos e ligamos para meu pai.
-Não vai ser preciso não. Vou entrar no estacionamento do hospital já.
Entramos no estacionamento, fomos em direção a recepção. Entramos e ela disse:
-Oi, vim buscar os remédios de Gabriel Lima Carvalho.
A moça que nos atendeu, olhou para nossa cara e disse em tom de grosseria:
-Senta, já vão chamar.
Fomos, nos sentamos. Chamaram o nome e fomos a farmácia do hospital. Pegamos o remédio e saímos do hospital. Ao descer a rampa da recepção, percebi a Lúcia muito pálida, porém não liguei. Ao chegar ao fim da rampa ela desmaiou. Caiu igual a uma jaca mole no chão. Corri e segurei ela para não bater com a cabeça no chão. Ao segurar ela, vinha uma moça no estacionamento, pedi para que ela chamasse alguém lá em cima para ajudá-la. Ela acordou enquanto a moça subia, falou que estava bem. Eu disse que eu só iria embora se ela fizesse pelo menos algum exame. Ela disse um "tá bom" e um enfermeiro chegou. Levou ela lá pra cima. Ela deu entrada na emergência, já que naquele dia a emergência do hospital não estava cheia. Levaram ela, enquanto eu fazia a ficha. Demorou um pouco e falaram que eu podia entrar para vê-la. Não tinha como ligar pro meu pai naquele momento, meu telefone tava no carro e a chave estava com ela. Fui em direção a maca em que ela estava. Ela disse que o médico ainda não tinha dito qual era o resultado. Ele chegou depois de alguns minutos e apenas disse:
-Parabéns mamãe, você está grávida!
Ela me olhou com o olho enorme e disse:
-Esse era meu medo. Tá tudo bem?
Eu disse:
-Nunca estaria melhor! Vou ter uma irmã! Moço já podemos ver o sexo?
-Não meu rapaz, ela ainda está com cinco semanas.
-Entendi. -disse eu alegre e triste ao mesmo tempo.
Estava alegre porque teria um irmão ou irmã. Mas triste porque acho que naquele momento pensei que meu pai me abandonaria.
Ela ainda olhando pra mim com o olho cheio de lágrima disse:
-O que eu faço agora? Não posso ter uma criança agora, não sei nem fazer isso.
-Se acalma tia, vai ficar tudo bem. -disse isso pegando na mão dela.
Era meu primeiro dia lá e já estava tendo muitas surpresas. Só que não contava com a surpresa que me viria a noite...
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Ainda te (ch)amo
Teen FictionAlex é apenas um gamer. Que até então achava que era hétero. Mas sua vida vira de cabeça para baixo após conhecer Pedro em uma sala de jogos on-line. Ps: Se passa em 2020/2021 porém sem a P@NDEM!A.