Ao caminho de casa, vi meu celular vibrando na bolsa. Era minha mãe. Vi umas mensagens e uma ligação perdida. Retornei, atendendo a ligação ela disse:
-Onde você tá? Estou o dia todo querendo falar com você, e quando ligo não atende.
-Oi pra senhora também, estou ótimo obrigado. Estava na Praia, como tá aí no SPA?
-Ótimo, Hoje fizemos alguns exercícios na parte da manhã e agora à tarde só estou relaxando. O que estava fazendo na Praia sozinho?
-Estava com meu amigo, o Pedro, sabe?
-Aquele tal de "Fine" do teu jogo?
-Sim, ele mesmo. Ontem aconteceu uma briguinha em casa, então resolvi passar o dia longe.
-O que falaram? Me conta, eu falo com seu pai.
-Nada d+, só a Lúcia que está grávida.
-OI? Grávida? Meu deus, olha o golpe da barriga vindo aí... brincadeiras à parte, era pra ser uma notícia boa, a briga foi por isso?
-Mais ou menos. Eu sabia já, na verdade fui o primeiro à saber. Meu pai não gostou nem um pouquinho que eu tenha sido o primeiro...
-Meu deus, porque não me contou isso?
-Era meio que um segredo, não iria contar até o bebê estar seguro na barriga.
-Mas ele descobriu por conta própria?
-Sim, mas mudando de foco, Júlia hoje de manhã tava meio maluca. Disse que te viu na porta de casa...
-Eu? Garoto eu estou no interior do Rio, ela não comeu um daqueles brigadeiros que aquela garota estranha vende, não?
-O Brisadeiro? Também pensei nisso, ela falou que não. Mas enfim, te amo, preciso desligar tô chegando em casa.
-Até amanhã filho, te amo. Cuidado aí.
Cheguei em casa, paguei o motorista, e ele me deu boa noite. Sei lá, mas parece que de uns dias pra cá todo mundo ficou educado, e isso é estranho.
Desci do carro, ainda flutuando até chegar às portas do inferno. Ao abrir o portão, estava sentindo um cheiro delicioso de bolo, os dois estavam na sala, rindo, parecia que eu nunca estive ali, e que nada tinha acontecido.
Entrei, dei boa noite. Eles me olharam e falaram que sentiram minha falta. Meu pai após uma pausa disse:
-Vai tomar um banho, precisamos saber como foi na Praia com seu novo amigo.
Falei que iria para o quarto. Ao chegar lá, me sentei no chão, ao lado da cama. Peguei meu celular e apenas digitei para o Pedro:
"Hoje foi muito bom, amei te conhecer"
E pra minha surpresa, na mesma hora obtive uma resposta:
"Eu também, poderíamos sair domingo, fiquei sabendo que vai ter música ao vivo em um barzinho aí em Rio das ostras!!"
Respondi todo feliz à ele:
"Por mim tudo bem, nos vemos domingo então. Já estou ansioso."
"Eu também estou, até domingo então."
Nossa leitor, pra você pode ter sido algo bobo, mas pra mim, essa troca de mensagens foi mágica. Há tempos que não saía com alguém além da Júlia, ver minha vida social começar a virar realidade naquele momento, era tudo o que eu queria.
Fui tomar banho, entrei no banheiro, tirei a roupa e coloquei minha playlist para tocar. No momento estava tocando "vou morrer sozinho", minha música favorita do jão. Acho que ele sabe usar muito bem as palavras, acho lindo como ele valoriza a dor, tristeza e o medo, mas não romantiza esses sentimentos.
Ao terminar de tomar banho, liguei pra Júlia, me deu boa noite e perguntou sobre tudo o que tinha acontecido, eu falei, mas ela parece que ficou desapontada pois disse:
-Só isso? Você ficou das nove e pouquinho com ele, até quase seis da tarde e o dia se resumiu em apenas cantar música de corno e comer?
-Você queria que eu fizesse oque? Transasse com ele no meio de tudo e todos?
-A sua prisão por atentado ao pudor seria a parte mais legal desse seu dia. Mas vai... Me conta, ele é legal mesmo?
- SIM, ele foi um fofo o dia todo. Até marquei de sair outro dia com ele.
-OI? ALEX? É você mesmo? Saindo novamente? Meu deus... ele fez algum feitiço. OH CÉUS!
- Vou, e é no domingo. Só que é só sair, tipo, não é um encontro, somos só amigos.
-Pelo menos até agora né, se ele não te beijar domingo, eu morro de desgosto. Enfim, tenho que ir.
-Tá bom. Eii falei com a minha mãe, ela tá no SPA mesmo, você tá doida mesmo.
-Não tô, mas ok. BEIJO só amigo do Pedro.
-Tchau demônio, vê se acalma essa alma de Fanfiqueira. Te amo.
-Eita, disse até que me ama. Você tá enfeitiçado mesmo... também bobão.
-Vai arrumar alguma coisa pra fazer, vai.
Desliguei, quando estava terminando de me arrumar, pensei no Carlos. SIM o garoto que me deixou de olho roxo. Mas procurei nas redes sociais e não achei, o que era estranho, mas pensei que ele poderia ter me bloqueado de tudo, após a briga e depois de eu ter visto ele beijando outro garoto lá na festa.
Fui à caminho da sala, eles estavam vendo filme, acho que era uma comédia romântica bem clichê, do jeito que Lúcia gostava de assistir comigo e reclamar que era a tia solteirona mas que no sigilo ficava com meu pai. É meus amigos, acho que é assim uma família tradicional brasileira é composta. Sempre são compostas por:
Um(a) corno(a), um filho abandonado, uma tia solteirona que quer pegar seu pai, e o safado do seu pai que no próprio aniversário foi pego apertando a cunhada no quarto do filho. Mas enfim, quem sou eu pra julgar...
Me sentei pra ver o filme, eles me olharam e riram, eu fingi que nem liguei e continuei assistindo o filme, no fim, meu pai foi procurar outro pra assistir, a Lucia após não se aguentar por horas perguntou como foi, eu falei tudo e mencionei se podia ir domingo nesse tal barzinho. Meu pai, sempre o tradicional paizão liberal tentando preencher o espaço que deixou para trás deixou. Então falei que não tinha gasto nada no cartão, e pedi se poderia levar o cartão. Ele também deixou. Era bem fácil eu perguntar "Pai deixa eu pegar seu cartão, comprar várias coisas nesses sites de procedência duvidosa e viajar" que acho que ele mesmo assim deixaria. Meu celular como sempre, de dez em dez minutos toca, era o Pedro. Pedi licença à eles e fui para o quarto.
A partir de agora, leitor, não me responsabilizo por monotonia, tédio e um alto grau de gay's panic's.
-Oi, aconteceu alguma coisa? Me ligou do nada.
-Não, Só queria conversar com alguém.
-Olha, todo o assunto que tínhamos, gastamos hoje.
-Sem problema, podemos ficar em silêncio denovo.
-Nossa, ama ficar em silêncio, né?
-Sim, ele me dá paz pra pensar no futuro, e como ele será caótico.
-Nossa, profundo. Você é filho da Clarice Lispector?
-Qual foi menó, vai ficar de K.O?
-Nossa falou assim, até apaixonei.
-Não era esse o objetivo, mas também serve.
Rimos e eu perguntei:
-Acha mesmo que seu futuro vai ser uma bagunça? Ou é brincadeira?
-Imagino mais ou menos. Imagino namorando, na faculdade e trabalhando pra bancar tudo. Tem como isso não ser tão bagunçado? Tudo o que eu quero vai me levar a largar algumas coisas de mão, mas eu amo a mesmice.
-Cara, se essa pessoa realmente te amar, e voce escolher o ramo certo em que quer estudar, não precisará abrir mão de nada. Pelo menos penso assim.
-Sabe?! Você é mais inteligente do que eu pensava.
-Nossa me chamou de burro na cara? Meu deus
-Não! -disse ele rindo
-Eu não te chamei de burro, mas você acabou de trazer uma "solução" para tudo que eu julgava que daria errado.
-Ataaa! Entendi. Bom, vamos voltar pro silêncio pra ver se pensamos em como conciliar a nossa vida, ao mundo real. Será que trarei uma solução para toda angústia que nossa sociedade sofre?
-Amém, vamos. Quero ser amigo de alguém que traga pelo menos uma coisa boa para o país.
E foi assim pelo resto da noite, contando coisas que passavam por nossas cabeças vazias, várias coisas sem nenhum nexo, como dizia a Lagum: "coisas da geração".
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Ainda te (ch)amo
Novela JuvenilAlex é apenas um gamer. Que até então achava que era hétero. Mas sua vida vira de cabeça para baixo após conhecer Pedro em uma sala de jogos on-line. Ps: Se passa em 2020/2021 porém sem a P@NDEM!A.