Após ficar ouvindo Anavitória, resolvi ir dormir. Peguei no sono e tive um sonho. Pelo menos achei que era um. Sonhei que Pedro e eu estávamos na Praia, mas, ele estava diferente, é como se eu estivesse tendo uma visão do futuro. Ele estava com o braço engessado, e com umas marcas roxas pelo outro braço. Ele chorava muito. Eu sentava e abraçava ele de frente à igreja, e apenas dizia o tedioso e clichê "Vai ficar tudo bem". O sonho foi bem curto, mas foram horas de sono que se passaram em um piscar de olhos. Após esse sonho, acordei com ligação da Júlia. Eram oito horas da manhã em ponto, e ela já estava me perturbando. Atendi, e fui surpreendido com ela falando:
- Não me mata, mas eu tenho uma absoluta certeza que sua mãe não tá em nenhum SPA. Ela tava toda descabelada, com um roupão, se despedindo de um cara.
-Oi pra você também Júlia! Duvido muito, se ela estivesse tendo um caso ou algo do tipo, eu saberia. Mas quando viu isso? Ela te viu?
- Não, ela estava muito ocupada beijando ele, e eu estava indo comprar pão, então vi ela lá da padaria.
-Beijando? Júlia você comeu aqueles brigadeiros estranhos que a Letícia vende nos finais das festas?
-O Brisa-deiro? Não. Mas é sério, tenta ligar pra ela, ou manda alguma mensagem.
-Hoje não, hoje eu quero me curtir. Mais tarde vejo isso. Tenho que arrumar as minhas coisas pra praia.
-Verdade! Hoje tem o seu "Não encontro".
-É apenas dois colegas se conhecendo mais, oque tem de estranho nisso?
-Nossa parece aquela trend "dois amigos BV'S em um quarto, que tão mudar esse número pra zero"
-Júlia você é muito Fanfiqueira, credo.
-Você não é bobo, eu te conheço, agora some! Vai se arrumar, e bate uma gillette no box, tenho certeza que essa Amazônia precisa de desmatamento legal... HAHAHA
-Júlia. Tchau.
Desliguei a ligação, quando finalmente abri as mensagens, mandei um bom dia pra minha mãe e abri minha conversa com o Pedro.
Ele tinha me avisado que já estava acordado e que iria comprar as nossas bebidas no mercado e que quando voltasse iria se arrumar.
Eu avisei que ia arrumar as coisas pra comer e que quando estivesse saindo, avisaria.
Desci a escada, fui na cozinha. A casa parecia fantasma. Era uma sexta-feira então entendo que só eu era vagabundo naquela casa e que nove horas era quase madrugada pra mim. Fiz uns sanduíches com peito de peru e queijo, e uns com doce de leite, sério é muito bom. Peguei alguns biscoitos e fui tomar banho. Me olhei no espelho e lembrei do olho, do Carlos, de tudo... Me deu uma estranha felicidade em lembrar que briguei com alguém. Tomei um bom banho, à pedido da Júlia bati a gillette no box. Coloquei uma bermuda preta, uma regatazinha e peguei minha ecobag. Pensando aqui, agora, como eu me achava hétero usando esse look? Meu deus...
Mandei um áudio pro Pedro avisando que estava saindo, na mesa de centro da sala de estar, tinha o cartão do meu pai. Peguei e fui correndo pegar algum táxi pra lá. Pedro disse que já estava saindo também e que chegaria antes. Pedi um ponto de referência e ele falou para que eu apenas dissesse pra me deixar em frente ao Pet Shop perto da praia que me encontraria lá. Peguei o táxi, pedi pra que me deixasse onde fui destinado a descer. Ao chegar já vi ele. Que garoto lindo. Meu deus. Naquele exato momento no carro tive um gay panic. Ele era alto, com cabelo um pouco cacheado e todo praiano. Era o homem dos meus sonhos sem nunca ter sonhado com homem algum. Ele me abraçou e disse:
-Nossa, caprichou no perfume. Amei.
-Obrigado, amigo... Pra onde vamos agora?
-Nesse exato momento vou te apresentar às minhas tias.
Ao entrar no Pet Shop, vi as duas no Balcão. A loja era delas duas, que por sinal eram um casal super simpático.
Ele me apresentou e uma delas disse:
-Prazer, sou Ana. E você deve ser o famoso Alex, acertei?
-Famoso eu não sei, mas sim, sou o Alex haha.
Me virei e disse:
-E você, deve ser a famosa tia Júlia.
-Bem... famosa também não sei, mas sou eu sim, prazer. Haha
Disse que o prazer era todo meu e Pedro me interrompeu, falando:
-Tá, tá! Todo mundo é famoso, agora vamos pra praia antes que eu morra.
Me despedi delas e fomos em direção à praia.
Peguei meu celular e tirei uma foto do Pedro destraído e mandei no grupo.
Júlia logo respondeu dizendo:
"Lindo. Pedro cuidado com o Alex, se ele entrar no mar iemanjá confunde ele com oferenda e leva"
"OK, iemanjá não vai levar ninguém hoje não. Kkk"
Puxando assunto, pois o silêncio constrangedor até chegar na Praia demoraria à passar ele me perguntou se estava bem, eu disse que sim e perguntei como ele estava, e que era pra ele falar a verdade. Ele falou:
-Tem sido difícil aguentar tudo isso, sabe? É muito pra mim. Mas amo minha mãe, e vou ficar ao lado dela até o fim.
-Nossa ela tem sorte de ter um filho como você. Como vai o tratamento, tem alguma notícia?
-Ela tem químio amanhã, vai começar a ficar mais fraca aos poucos, mas o médico falou que o tratamento pode ser eficaz.
-Que bom amigo, vai dar tudo certo.
-Assim espero...
Ao chegarmos na Praia, nos arrumamos naquela extensa faixa de areia, ligamos uma caixinha de som que ele levou e ficamos ouvindo nossas boas músicas MPB.
-Vamos tirar uma foto? Pra fazer inveja na Júlia? -Ele disse
-VAMOS!
No que a Júlia me recorda foram ao todo umas 10 fotos, fora os vídeos ouvindo música. Ele falou que ia entrar no mar, mas que antes precisávamos passar protetor solar. Ele tirou a camisa e começou a passar pela barriga, rosto e etc... Eu também comecei a passar nos braços, mas não tinha tirado a camisa ainda. Ele falou meio risonho:
-Tira a camisa, vai por mim, se ficar com ela, aí mesmo que eles vão começar a te olhar. Pode tirar, não tenha vergonha, prometo que não vou olhar seu super umbigo sexy.
- Eu tiro, só com uma condição se você me prometer não reparar nas minhas dobrinhas.
-Prometo, até porquê eu tenho.
Tirei então a regata, e ele perguntou se queria que passasse o protetor nas minhas costas, porque segundo ele, eu era mais branco que palmito. Deixei, não sou tão bobo quanto você pensa leitor.
Ele foi, entrou no mar, e ao sair, eu tive a certeza que eu estava caindo na dele. Parecia até cena de filme na minha cabeça. Ele vindo em minha direção, balançando a cabeça pra sair um pouco da água no cabelo. Essa cena na minha mente era tão sexy, digna de oscar. Ao sentar do meu lado, ele pegou o telefone e postou uma de nossas fotos no stories dele. E eu juro por tudo que é mais sagrado, acho que teve umas dez pessoas perguntando "é seu namorado?" "Você tá saindo com ele" "não sei quem é, mas já shippo". Ele ficava rindo e falando: "as pessoas me acham tão encalhado, que quando posto uma foto, vira um show de romântismo e perguntas."
Eu ri, e de nervoso concordei. Comemos uns biscoitos e ele perguntou se não entraria na água com ele. Falei que tinha medo que levassem nossas coisas. Ele falou que era pra confiar nele e que nada seria roubado. Então, Como a felicidade aquele dia estava à mil, concordei e fui. Entramos, a água estava uma delícia. Ficamos mergulhando e apostando quem chegaria primeiro perto de alguma certa pessoa. Fizemos isso por uns 10 minutos, quando voltamos para areia, pra nossa sorte não tínhamos sido roubados. Estávamos no Rio de Janeiro, poderia esperar qualquer coisa.
Deu 12:00 dia e a fome apertou, só que naquela altura só tínhamos os sanduíches que não estavam gostosos pois eu tinha ESQUECIDO ELES EM CASA. Não foi atoa que percebi a bolsa mais leve. Pedro virou e disse:
-Conheço um lugar bom pra comer. Topa?
-Sim, tô morrendo de fome... é longe? Nesse sol prefiro até comer areia do que andar nela.
-Não é longe, mas não é tão perto. É duas ruas após a faixa de areia.
-Vamos então.
No caminho fomos cantando cazuza. Ao chegar no local, percebi que era uma pensão só que com apenas coisas relacionadas à peixe. Ele pediu um bobó de camarão para dois, pra viagem. Insisti em pagar, mas ele não deixou. Disse:
-Hoje é por minha conta. Na próxima você paga.
-Fechado então.
Minha cabeça estava em festa, ele tinha confirmado ali que sairiamos outra vez, e aquilo foi um motivo de mais esperança de ter pelo menos uma amizade naquele lugar. Pegamos a comida e o Pedro me avisou que tinha um ótimo lugar por ali, como se fosse pra piquenique. Chegamos e eu forrei a canga na grama, estávamos de baixo de uma árvore enorme, com uma sombra firme e um vento delicioso. Começamos a colocar a comida no pratinho e Pedro começou a puxar assunto, perguntando:
-Você prefere ser sozinho? Tipo, ter apenas a Júlia como amiga... mais ninguém.
-Olha, pra te falar a verdade, a solidão é uma coisa boa. Vivendo ela você não pode ser rejeitado, esquecido ou trocado. Nela é você por você. Ser esquecido você corre o risco sendo sozinho ou tendo vários amigos. Tudo tem um ponto negativo, porém bom.
-Entendo, a vida sozinho às vezes é boa. Mas às vezes não. Sinto falta de ter alguém pra fofocar, ficar de love. As vezes ser sozinho machuca.
-Olha Pedro, se bem que ficar com alguém, também significa que você pode se machucar, e se machucar ainda mais.
-Acho melhor começarmos a comer.
-Eu também, daqui à pouco fica fria a comida.
Liguei a caixinha e após comer deitamos um pouco ali na canga mesmo e começamos olhar para o céu. Aquele imenso céu azul.
Ao nosso redor o mundo acontecia, mas o barulho feito por ele, nos parecia um silêncio. Felizmente acabamos dormindo de baixo da árvore, quando acordamos já era 17:30. Precisávamos ir para à casa. Arrumamos as coisas e fomos em direção pra pegar um táxi. No meio do caminho, Perguntei ao Pedro uma coisa:
-Eu não posso ir para casa sem te perguntar uma coisa. Posso?
-Claro, pode falar!
-Acha que um dia podemos sair novamente? Tipo pra nos conhecermos melhor...
-No caso um encontro? Se quiser, podemos sim.
-Hã, ok então.
Continuamos andando e conversando, ele falou sobre as pessoas respondendo o stories dele, e teve um momento que uma coisa que ele disse me chamou atenção:
-Todo mundo acha que você é meu namorado ou coisa do tipo. No dia que for mesmo, ninguém vai acreditar.
Eu, naquele momento, me senti naquelas cenas de anime, quando você fecha os olhos e fica com aquela marca rosada na bochecha. Ele percebeu e disse que era brincadeira, mas eu, astuto, fui e falei:
-Que pena...
Mas depois completei que também era brincadeira. Vi meu táxi chegar, e me despedi:
-Beijo Pedro, preciso pegar o táxi.
-Tchau amigo, quando chegar me avisa.
Abracei ele, e entrei no carro, pela janela do carro dei um tchau e fui pra casa nas nuvens.
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Ainda te (ch)amo
Fiksi RemajaAlex é apenas um gamer. Que até então achava que era hétero. Mas sua vida vira de cabeça para baixo após conhecer Pedro em uma sala de jogos on-line. Ps: Se passa em 2020/2021 porém sem a P@NDEM!A.