O propósito Pt 2

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A policial se levantou decidida do que faria, procurou por uma pedra grande, achando-a soterrada na raiz de uma árvore, ela tinha aproximadamente vinte e cinco centímetros, o que para o que faria estava de bom tamanho.

Levou a pedra até seu carro e a colocou no banco de trás, iria para o parque nacional Pictured Rocks. Deu uma última olhada para trás antes de ligar o motor pra sair do cemitério, mas ao girar a chave, batidas na janela a fizeram desligar o carro novamente.

— Lalisa! Pensei que nunca veria você novamente. — A loira exclamou quando o vidro se abriu.

— É... E-eu. — Começou, mas a outra a cortou.

— Não precisa se explicar! Está indo pra onde? — Engoliu em seco pensando em uma desculpa esfarrapada.

— Estou a caminho do centro. — Um sorriso se abriu no rosto da loira.

— Que ótimo! Estou indo pra lá também, por que não tomamos um café? — Lalisa queria dizer não, mas sabia que pelo trajeto ser o "mesmo" a loira a seguiria e de qualquer forma estragaria seus planos.

— Claro. — Sorriu amarelo fingindo simpatia. — Quer carona?

— Não precisa, eu vim de bicicleta. — Lalisa a olhou preocupada, ela iria de bicicleta na neve? Para o centro da cidade?

— Tem certeza? Eu acho que sua bicicleta cabe na mala se deitarmos o banco. — Por mais que não quisesse sair, considerava Roseanne uma pessoa boa demais para deixá-la ir sozinha nesse frio para o centro, ainda mais pedalando na neve.

— Bom, já que insiste!

[...]

Elas acabaram por ir a um restaurante e pedir pizza, que, de acordo com a loira, estava deliciosa. Lalisa se permitiu sorrir naquela noite, havia gostado de livrar sua mente, nem que por míseras horas, do vazio que carregava.

Roseanne era uma ótima companhia, nunca deixava o assunto morrer. E quando acabava ela fazia questão de iniciar outra conversa enaltecendo a comida que estava ingerindo, ou qualquer outra que gostasse.

— Ah olhe só o que eu aprendi em um restaurante mexicano! — A loira chamou sua atenção.

De alguma forma, a policial gostava de observá-la, achava interessante a forma que suas mãos acompanhavam sua fala, seus olhos penetrantes a prendiam em uma espécie de hipnose, como se estivesse em um limbo onde não conseguia se desconcentrar, nem queria.

Observou com um sorriso no rosto enquanto a mais velha lambia um montante de sal, bebia um shot de tequila e rapidamente chupava uma fatia de limão.

— Você é louca! Seu coração pode parar fazendo isso! — Disse em um tom brincalhão.

— Sério? Eu não esperava por isso.

— Não sei. Qual o intuito disso?

— Neutralizar o gosto, vamos tente! — Tentou a empurrar a bebida, mas ela prontamente negou.

— Eu passo dessa vez!

— Então significa que terá uma próxima vez? — Indagou sugestiva.

Sem saber o que responder, a mais nova apenas mudou de assunto tentando fugir de Roseanne que pareceu entender mesmo ficando intrigada.

Agora elas caminhavam tranquilamente até o carro estacionado a duas quadras. Lalisa mantinha sua cabeça baixa chutando a neve, enquanto a mais velha sorria para qualquer coisa que visse, pássaros, letreiros e até mesmo ao olhar a morena ao seu lado.

— Você devia se animar mais vezes. — Ditou quebrando o silêncio, Lalisa elevou seu olhar confusa, fazendo-a se explicar melhor. — Você fica mais bonita sorrindo como no restaurante, do que assim tristonha.

— Você acha? — Sorriu de lado subitamente feliz e envergonhada com o elogio.

— Tenho certeza. Por que está tão triste hoje? — A pergunta atingiu seu coração, como se algo tivesse a machucado, apertando sua ferida mais dolorosa.

— Acho que minha vida nunca vai ser a mesma sem elas. — A mais alta nada falou, esperando que Lalisa continuasse. — Minha esposa e minha filha estão naqueles túmulos. E elas não voltam mais. — Por incrível que pareça, essa havia sido a primeira vez que Lalisa falara sobre a morte delas.

— Nunca vai ser mesmo. — Sua voz ressoou depois de minutos de silêncio. — Mas você ainda pode ressignificar sua vida. Pode não ser a mesma, mas pode ser diferente, ainda com um final feliz.

— Você acredita nisso? — Falou num tom debochado.

— Sou a prova viva disso. Meus pais morreram e eu cuido das minhas irmãs desde os dezesseis anos, minha vida se ressignificou para elas.

— Pelo menos você ainda as tem.

— E você ainda tem você!

— É mais difícil quando não se tem um propósito.

— Então encontre um! — Refutou não aceitando "perder" a discussão.

— Que propósito eu poderia ter sem elas?

— Não sei, mas pense que elas não iriam querer ver você desistindo. — Deu de ombros observando que sua apelação havia dado certo. — Eu vou ficando por aqui, Lisa. — Estendeu a mão para que ela a apertasse.

— Boa noite, Roseanne. — Retribuiu com um sorriso batendo rapidamente em sua luva ao invés de apertá-la.

— Espero te ver de novo um dia. — Exclamou antes de entrar em casa, fazendo-a sorrir por alguns segundos.

— Talvez eu possa achar um propósito, Park Roseanne. — Sussurrou negando com sua cabeça e voltando para seu carro.

Blind Mind 🎩 ChaelisaOnde histórias criam vida. Descubra agora