O Passado

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Levi POV
 
Saí da porta daquela instituição a passos rápidos, assim que vi Mikasa se afastar junto a imagem do rapaz de olhos verdes. Eles pareciam próximos, como se se conhecessem a muito tempo, por alguns segundos fiquei imaginando o que ele significava pra ela, talvez fossem amigos... talvez mais que isso.
Afastei esses pensamentos da minha cabeça quando ouvi o ronronar do meu estômago, me levantando e indo em direção à minha casa. Passei em um supermercado, imaginando como descobrir mais sobre o rapaz que eu havia visto sair da escola. Comprei alguns insumos voltando a caminhar, finalmente chegando em casa.
Assim que cheguei, peguei um pequeno pedaço de pão e levei a boca, sentindo o sabor preencher meu paladar, me fazendo esquecer por breves segundos o arrepio que percorria minha espinha. Peguei meu celular no intuito de mudar meus pensamentos, corri os olhos pela tela diante de mim e vi algumas mensagens de Kuchel.
 
- Levi, soube que você está indo bem nos seus estudos, espero que seja verdade. Caso você tenha mudado de ideia e queira ser uma pessoa normal, eu marquei uma consulta com uma renomada psicóloga pra você, é só comparecer, alertei a ela que você pode ser um pouco difícil de lidar. – Encarei a mensagem por alguns instantes, me perguntando se valia a pena responder.

- Claro, gaste seu dinheiro como quiser... eu estou sob controle... – Queria colocar aquela afirmação na minha própria cabeça.

- Eu só quero seu bem filho...

- Me afastando de você, pra que seu precioso nome não seja corrompido. Muito obrigada! – Respondi ironicamente, decidindo mudar de rede social.
 
Abri o Facebook, eu não tinha muitas distrações no mesmo, era algo mais informativo, com notícias e investigações criminais. Eu entendia muito de Leis, justamente porque minha deficiência me empurrava praticamente no precipício criminal. Quando criança eu gostava de analisar as reações das pessoas mediante as diversas situações, quando eu pegava suas coisas, mentia e até mesmo quando eu as agredia psicologicamente e fisicamente.
Ao lembrar disso, minha mente divagou à uma memória antiga, a que fez com que minha mãe me afastasse de si pela primeira vez.
 
FLASHBACK ON
 
Eu tinha alguém que se importava comigo, pelo menos eu acreditava que sim, seu nome era Petra Ral, estudávamos na mesma escola e ela sempre estava perto de mim. Ela costumava distribuir muitos sorrisos pra mim, eu não sabia o que aquilo significava, e também não me importava. As únicas emoções que eu conhecia eram a satisfação e o desconforto, se é que isso era uma emoção.

Petra sempre ia comigo pra casa, ela me perseguia por toda parte, talvez seja por causa dela que eu tenha me tornado tão persistente em perseguir as coisas. Ela sempre estava comigo, e me contava tudo, eu sempre a via sorrir, então meu subconsciente me dizia, faça-a chorar, faça-a calar a maldita boca.

Estava pensando sobre isso, quando ela chegou de repente me abraçando, rompendo completamente a barreira de espaço entre nós. Detestava contato físico, detestava a sensação da sujeira, da incerteza se ela estava limpa ou não. Meu corpo se encheu de raiva, então assim que ela me soltou, eu peguei uma tesoura que estava acima da minha mesa. Empurrei a garota que me olhou assustada, tropeçando em seus próprios pés e caindo no chão.
A fúria estava consumindo minha mente, limitando meus pensamentos, senti uma mão segurando meu braço e quando me dei conta, havia cortado parte do cabelo da garota, e apontava a tesoura para seu rosto. Ela me olhava com um mix de tristeza e pavor, aquela sensação me foi reconfortante, porém, devido às minhas feições naturalmente desinteressadas, foi difícil fingir arrependimento, ainda mais porque eu não me sentia dessa forma.

Eu estava dominado pelo êxtase, aquele momento era o áudio da minha existência, meu prazer só foi interrompido pelo tapa que recebi em minha face ao chegar em casa. Os olhos de minha mãe queimavam, tinham muito significado, mas eu não havia captado qual era.
 
- VOCÊ É UM ESTUPIDO, MOLEQUE IDIOTA! – Ela berrava pela casa e parecia querer jogar algum dos muitos itens existentes nela em mim.

– VOCÊ NÃO TEM A MENOR NOÇÃO DAS MERDAS QUE VOCÊ FAZ, EU PRECISEI DESEMBOLÇAR CEM MIL DÓLARES PARA QUE AQUELA MALDITA MULHER NÃO PRESTASSE QUEIXA CONTRA VOCÊ, SEU IDIOTA.

Meu olhar a acompanhava, memorizando cada uma de suas palavras, tatuando-as em minha essência. Lembrei mais uma vez do olhar de pânico da garota jogada no chão, e esbocei um pequeno sorriso que não passou despercebido por Kuchel.

- Você é um moleque doentil... SUA CRIANÇA IMPRESTÁVEL – Desferiu um soco em meu nariz.

Ouvi um zumbido, o grito de Mikasa ao fundo, e senti o sangue molhar minha camisa, foi a ultima coisa que eu senti antes de ver o mundo começar a escurecer e vi o vulto da Srta. Ackerman vindo em minha direção correndo, talvez pelo que tinha feito, ou pelo que ainda iria fazer, não sei dizer com clareza.
Algumas horas depois, acordei dentro de um ônibus de viagem, que ia em direção a um internato militar em Rose.
 
FLASHBACK OFF
 
Eu estava me afogando dentro da minha própria cabeça, afundando lentamente, sacudi a cabeça para que todas aquelas sensações saíssem da mesma. Voltei meus olhos para a tela de meu celular, e como um milagre, uma foto da minha irmã acompanhada do rapaz com o olhar esmeralda, não sabia o porque o destino estava sendo tão favorável aos meus transtornos, mas naquele momento nada mais importava. O calor tomou conta do meu corpo, acompanhado das batidas do meu coração, ele ficava ainda mais interessante por fotos, porém seus olhos perdiam aquilo que o tornava único, mas ainda assim, lindo. Seus traços, seu sorriso. Percorri os olhos pelo visor procurando um nome, uma pista. Mikasa não havia marcado o rapaz na foto, mas eu queria saber, estava realmente interessado.
Entrei nas curtidas da foto e não encontrei o rapaz por lá, o que me possibilitava dois pensamentos: Eles não eram tão próximos e sua relação era unilateral partindo unicamente de Mikasa, ou ele ainda não havia acessado suas redes sociais, se é que ele tinha.
Procurei meio aos amigos da morena, olhando rosto por rosto, até que finalmente encontrei, meu coração falhou a batida, seu nome era tão bonito quanto seus olhos, não podia, e nem queria me expor, mas eu havia adorado ‘conhecer’ você Eren Jaeguer.

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