Capítulo 3

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Anahí acordou ao amanhecer e se assustou ao ver Dulce abraçada com ela. Por um instante, não entendeu o que estava acontecendo, mas ao olhar para o lado, viu Maite já acordada, sentada na cama, concentrada no celular. O coração de Anahí apertou ao perceber que a mensagem que Maite estava enviando provavelmente era para Jessica. Um sentimento de frustração tomou conta dela.

Ela ficou em silêncio, olhando fixamente para o teto, tentando processar seus pensamentos. "Poxa, a Dulce está sempre aqui, ao meu lado, e eu quase não percebo. Talvez eu tenha deixado de lado nossa amizade, enquanto a Maite... a Maite nem me dá mais atenção. Ela tem a Jessica agora, né? Então, talvez seja isso o que eu precise fazer: tratar a Dulce como minha 'melhor amiga', já que a Maite não quer mais esse posto. Ela já tem outra pessoa para isso." Pensava consigo mesma, tentando dar sentido à confusão em sua mente.

Lembrou da noite anterior e se deu conta de que Dulce tinha razão em tudo o que havia dito. As coisas realmente mudaram desde que Maite entrou em sua vida, e talvez ela não estivesse mais tão próxima de Dulce como antes.

Foi então que Maite a olhou, percebendo que ela estava de olhos abertos.

— Oi, Any! Já acordada? — perguntou animada.

— Já... — respondeu, com a voz séria — Por que você saiu daqui?

— Ah, — Maite deu um sorriso. — eu queria mexer no celular e não queria te acordar. Então, troquei de lugar com a Dulce...

Anahí sentiu uma pontada no peito, mas tentou não demonstrar.

— Ah... er... Está mandando mensagem para quem? — perguntou constrangida, já imaginando qual seria a resposta de Maite.

— Para a Jessy!

Anahí respirou fundo, tentando disfarçar o que sentia.

— Eu lembro que a gente era assim também... Quando dormíamos em quartos separados no hotel, mandávamos mensagem o tempo todo uma para a outra.

— É... — Maite riu levemente, como quem revivia boas lembranças — Bons tempos...

— Bons tempos... — Anahí confirmou com um suspiro.

— Mas com a Jessica é diferente.

Anahí franziu a testa, confusa.

— Por que "diferente"?

Maite hesitou por um momento antes de dar uma resposta vaga.

— Ah, é... diferente... — Maite soltou um riso abafado.

Anahí sentiu uma dor interna ao ouvir aquilo e, de forma impulsiva, disparou:

— Eu sempre fui sua "melhor amiga"! — Anahí disse, com a frustração evidente em sua voz.

Maite tentou amenizar o clima, mas Anahí estava visivelmente chateada.

— E continua sendo!

— Pelo visto não! — respondeu, fechando a cara, sem conseguir esconder o ressentimento.

Maite se aproximou e, com um olhar de pesar, falou:

— Ah, Any... Não diz isso! É diferente... — disse com um tom de desculpas, mas claramente sem saber o que dizer para acalmar a situação.

Foi nesse momento que Dulce acordou, com as vozes das duas a alcançando. Ao ver Anahí emburrada, ela se aproximou e deu um beijo carinhoso em seu rosto.

— O que foi, Any? — perguntou suavemente, ainda com a voz sonolenta.

—  O de sempre...— Anahí suspirou. — aquilo que te falei ontem...

Dulce olhou para Maite por um momento e então sorriu, dirigindo-se a Anahí.

— Fica tranquila, Any! Eu te entendo...

— Eu sei... — suspirou, aliviada por ouvir isso — Ah, Dul, desculpa qualquer coisa. Eu... queria conversar com você. Não vai embora tão cedo, né?

— Hoje estou livre o dia todo! — Dulce abriu um sorriso para a amiga.

Anahí sorriu e, sem pensar muito, a abraçou, uma sensação de conforto tomando conta dela. Ao mesmo tempo, um pensamento atravessou sua mente: "Será que isso está incomodando a Maite?"

Maite observou a cena e, com um sorriso, se levantou, pronta para sair.

— Já eu preciso sair voando! Acho que nem vou comer nada, só vou tomar um banho e já vou.

— Tudo bem. Pode ir — Anahí respondeu de forma seca, sem esconder sua frustração.

Maite ficou um instante em silêncio, como se quisesse dizer mais algo, mas acabou se virando e indo para o banheiro, deixando as duas na cama.



Maite se levantou rapidamente, pegou a roupa da bolsa e foi em direção ao banheiro. Enquanto ela se afastava, o silêncio se instalou no quarto, e Anahí e Dulce continuaram deitadas, cada uma imersa em seus próprios pensamentos.

Anahí, com o peito apertado, abraçou Dulce com força, segurando o choro. O peso das palavras que não conseguiu dizer para Maite a consumia, mas ela sabia que precisava se abrir, precisava aliviar a dor que sentia.

— Sabe, Dul... — Anahí começou a dizer com a voz já embargada. — Eu sempre vivi no meio da fama. Isso fez com que o meu mundo fosse muito restrito, especialmente quando se tratava de amizades. Eu sempre tive muitos amigos, mas nunca soube em quem eu realmente podia confiar. Quando eu conheci a Maite, achei que finalmente tinha encontrado uma "melhor amiga", algo que eu nunca tive. Você tinha a Ivalu, todo mundo sempre teve alguém, menos eu! Mas acho que, no final, ela nunca me teve... Como você mesma disse, ela já conhecia a Jessica, e a Jessica era a melhor amiga dela...

Dulce olhou para Anahí, sentindo a tristeza em sua voz. Ela sabia que as palavras da amiga vinham de um lugar profundo de insegurança.

— Any, é que com as duas é diferente!

Anahí, visivelmente frustrada, afastou um pouco o rosto de Dulce, olhando para o vazio enquanto as palavras saíam de seus lábios com um tom amargo.

— "É diferente"! Só isso que vocês sabem dizer. Eu cansei disso, Dul...

Dulce ficou quieta por um momento, refletindo sobre o que Anahí havia dito. Ela sabia que a amizade entre ela e Maite era algo delicado e que não poderia ser interferido por ela. A verdade, pensou, precisava ser dita pela própria Maite. Ela só poderia apoiar.

— Mas ela gosta muito de você! — Dulce disse com carinho. — Assim como eu!

Anahí suspirou, sentindo o peso de tudo o que estava em jogo, mas ainda assim, um pouco mais aliviada por ouvir as palavras de Dulce.

— Desculpa por ontem, Dul. Acho que depois que a Maite chegou, acabei dando toda a atenção só pra ela...

Dulce sorriu suavemente e, em um gesto carinhoso, abraçou Anahí.

— Foi... Como sempre.

Anahí se encolheu um pouco mais no abraço, uma mistura de arrependimento e gratidão invadindo seu coração.

— Desculpa mesmo. Você não merecia isso.

— Fica tranquila. Eu te amo muito e sei o quanto esse momento era importante para você!  — Dulce apertou Anahí com mais força, tentando passar toda a sua energia positiva — Mas, pode deixar! Vou ficar aqui hoje e tentar te animar!

Anahí fechou os olhos, sentindo a segurança e o conforto no abraço de Dulce. A dor não desapareceria da noite para o dia, mas ela se sentia grata por não estar sozinha.

— Obrigada, Dul! Você realmente é um anjo!

Dulce sorriu, acariciando os cabelos de Anahí, tentando tranquilizá-la. 

Amizade? Eu quero mais!Onde histórias criam vida. Descubra agora