Abro os olhos, está tudo escuro. Tento me sentar na cama, estou amarrada. Tento identificar onde estou. Assim que meus olhos se acostumam com a penumbra, observo em volta. De novo não. Aquele quarto ocupava grande parte dos meus pensamentos. Era um quarto rosa, decorado com vários quadros. Não conseguia decidir o que sentia sobre ele. Ao mesmo tempo que este lugar me da arrepíos e vontade de correr, sinto, bem no fundo, uma espécie de familiaridade e aconchego.
Um ranger chama a minha atenção para o canto do cômodo. A garota estava lá. Me encarando com aquele rosto pálido. Não tenho forças nem para gritar, já desisti de resistir a muito tempo.
A garota da a volta na cama, e para a minha frente.
- Finalmente chegamos aqui.
Ela falava? Nunca tinha falado comigo. Não sabia que era possível. Minha cara de desentendimento deve ter a surpreendido.
-Nossa! Até agora você não entendeu? – A garota solta uma risadinha e se inclina para frente. – Mesmo com todas as minhas memórias você não compreendeu quem eu sou?
Minha cabeça gira. Memórias. Dela? O que isso significava? Eu estava há tanto tempo internada e sob efeito de drogas que apenas aceitei o fato de ser louca.
- Exato, era tudo verdade. Você não está e nunca esteve louca. – A menina diz. – Sim, eu posso ler seus pensamentos. Até agora você não entendeu que eu estou dentro de você? – Seus olhos brilharam, uma enxurrada de memórias tomou conta de mim.
Me lembrei daquele lugar novamente, me lembrei dos tratamentos de choque do hospício, e pior. Me lembrei daquele quadro, com o seu rosto, que na verdade era uma janela. Assim que essa memória me vem a garota diz.
- Coitadinha, já está confundindo as coisas de novo. Talvez você esteja mesmo ficando louca. – Ela vai até a fileira de quadros e para naquela janela que me atormentou tanto. – O meu quadro ficava aqui, quando cheguei tiraram uma fotografia minha, eles fazem isso com todos os pacientes. – Ela diz, enquanto passa os dedos finos no batente da janela. – Como o quarto não tinha nenhuma janela, foram obrigados a abrir uma. – Ela emite um estralo com a língua. – Tantas mudanças ocorreram desde que morri.
Ela me olhava fixamente agora, mesmo estando longe eu sentia sua raiva. Com uma velocidade desumana, a garota sobe na cama e se inclina sobre mim, chegando tão perto que eu posso sentir seu hálito quente.
-E agora é sua vez.
Suas mãos me arranhavam, sinto algo quente descendo pelo meu pescoço, ela cortava meu pescoço lentamente. Tento respirar, mas tudo que inspiro é sangue. Estou me afogando em sangue. A agonia absurda me leva a arrebentar as amarras de meu pulso. Tento estancar o sangramento, impossível. O corte foi profundo de demais. Caio de lado. A garota não está mais aqui, e a adaga repousa no chão ao meu lado.
Com um grunhido tento me erguer, caio de novo. Minha visão escurece. Meus batimentos estão tão acelerados que consigo escutá-los. Antes de me apagar por completo consigo escutar um sussurro.
-Seu erro foi ter jogado ouija comigo. – Um risinho ecoa, cada vez mais baixo. Fecho meus olhos pela última vez e perco todos os meus sentidos.
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Duas Garotas e um Hospício
ParanormalAlison é apenas uma adolescente comum, quando seus pais estão ausentes, ela decide ministrar uma sessão de Ouija sozinha. A partir deste ponto, um rosto passa a perturbá-la constantemente. Será que Ali conseguirá convencer a todos de que não está l...