De volta pra casa.

82 7 0
                                    

Abri meus olhos sentido o vento frio que vinha da janela aberta, pela milésima vez no dia quis voltar para Jeju, de qualquer forma eu escolhi voltar pra Busan, escolhi a felicidade dela no lugar da minha.

Olho pela janela, vejo a cidade que está acordando, parecia que tudo tinha seu lugar e apenas uma tarefa nada fora daquilo o ruim de cidades pequenas como minha mãe diz. Tudo era exatamente como eu me lembrava.

Nas minhas lembranças Busan era um misto de cinza e preto a cidade exalava melancolia, por alguns anos meus maiores pesadelos tinha a cidade como palco, aquilo me assustava tanto que por anos não quis voltar, deixei de passar as férias com meu pai, o que ocasionou um distanciamento que nunca me pareceu preocupante, mas agora que estou no mesmo ambiente que ele por mais de três horas, a distancia entre nós se tornou sufocante, a ultima fala com mais de duas palavras foi há duas horas e meia, quando perguntei se ainda faltava muito pra chegar, depois disso tudo o que emitíamos eram sons pra confirmar, ´´aham´´ ,´´okay´´ e tudo que deriva disso .

Nunca fui muito de falar então a falta de assunto e o silencio entre mim e o Jwojoon não foi tão desagradável. Mas ainda sim me trazia uma sensação ruim.

Quando chegamos no portão de casa tudo ainda era como eu me lembrava, as paredes cinzas por fora, com janelas corridas e longas, mas tampadas por cortinas azuis. A grama verde mas baixa, a cadeira de balanço feita pelo amigo do meu pai. A porta branca dava um contraste que desde pequeno me fazia pensar coisas engraçadas, sorri ao lembrar disso, quando finalmente entrei na casa tudo estava exatamente no mesmo lugar, os quadros dele com a minha mãe, as paredes escuras, as marcas de tinta sobre ela que fiz n uma brincadeira com a minha mãe, as quinas ainda tinham protetores, ainda tinha minha caixa de brinquedos num canto da sala, o que me deixou triste, nunca pensei em como meu pai se sentiu quando deixei de visita-lo, ele nunca reclamou, ou brigou.

Pensar nisso trouxe um peso para minha consciência, quis abraça-lo, mas algo em mim não deixou, não conseguia me aproximar de alfas desde de meu primeiro cio. Tudo que consegui fazer foi dizer:

- Sinto muito por ter te deixado, nunca pensei em como meu distanciamento soaria para você- disse num tom baixo, quase como um sussurro, levantei a cabeça, e pela primeira vez desde que adentramos a casa, olhei seus olhos, depois pude ver um sorriso genuíno aparecer, logo sendo seguido por uma tentativa de abraço, esse qual não consegui evitar, acho que nem queria evitar.

- Você está aqui agora e é isso que importa- disse baixo, mas cheio de empolgação- Eu senti muita sua falta Kookie- quando terminou sua fala ela já não continha mais empolgação, mas sim uma pitada de tristeza.

-Sim, estou aqui pai- com isso dito, me soltei do abraço segui para meu quarto, esse que ainda estava igual a ultima vez que estive aqui isso há 7 anos, meus bonecos ainda estavam no mesmo lugar debaixo dos cobertores, sorri instantaneamente com a imagem, olhei os rabiscos nas paredes e quase que por instintos os toquei, olhei dentro da gaveta do criado mudo sem esperança de ainda estar lá, mas lá estava um colar que ganhei um ano antes de decidir não vir mais pra cá.

Ajeitei minhas coisas nos armários e troquei algumas coisas de lugar de maneira que eu me sentisse em casa, ou pelo menos dessem a impressão que eu estava em casa.

Quando terminei de arrumar minhas coisas, já era quase duas da tarde, fui fazer algo para comer, percebi que meu pai não estava em casa provavelmente estava na delegacia, resolvi fazer algo para comer, olhei nos armários e não tinha muita, possivelmente poque mora sozinho e não deve cozinhar.

Sorte que nada mudou, e sei onde ficam as coisas nessa casa isso inclui saber onde ele guarda o dinheiro das compras. Peguei e fui para o mercado que também parecia não ter mudado.

Algumas pessoas me olhavam estranhos por não saberem quem sou, ou por apenas não se lembrarem, não me incomodo muito, apenas sigo com as compras, acabo comprando mais coisas que imaginei que iria comprar , resultando em sacolas pesadas que eu morreria para levar embora, considerando o tempo que fazia, acho que vai chover, a distância de casa também se fez gritante com o peso das sacolas.

Contudo depois de 35 minutos cheguei em casa um pouco antes da chuva, o que me fez suspirar de alívio, fiz uma comida simples, felizmente não puxei minha mãe nessa questão ela com certeza inventaria algo, lembrar dela me deixa triste por um momento.

-Você sente falta dela, né? – me viro rápido pra onde a voz veio, me surpreendo de ver meu pai ali, não o tinha visto chegar – Eu sei que sim, a comida tá com o cheiro ótimo o que fez? – ele muda de assunto.

- Fiz kimchi o senhor gosta, né? – ele faz que sim com a cabeça – Que bom! – digo sorrindo mostrando os dentes, comemos em silencio.. até ele dizer:

- Você vai para a escola amanhã? – confirmo com a cabeça – Quer que eu te leve? – ele pergunta com certo receio.

- Sobre isso, eu queria comprar um carro to juntando dinheiro desde os 14 pra isso, o que eu tenho acho que é suficiente pra comprar um simples, pode ir comigo comprar? – pergunto com medo da sua resposta, já a minha mãe nunca me deixou ter um carro por isso tive que juntar o dinheiro sozinho.

- Pode guardar seu dinheiro, depois que comermos vamos na reserva, o Kai está vendendo o carro dele, vamos compra-lo, você sabe dirigir? – aceno que não – Jeon Jungkook você quer um carro e ainda não sabe dirigir? – pergunta, coro eu não tinha pensado nisso, abaixo o olhar triste – Ei não precisa ficar assim, vamos fazer assim, hoje eu te ensino o básico, o resto te ensino no decorrer dos dias, quando estiver bom você faz o exame pra tirar habilitação e depois pode ir sozinho pra escola, ta bom?

-Sim, sim, sim – disse animadíssimo, terminamos de comer, ele lavou a louça enquanto eu vestia uma roupa mais quente, já que tinha esfriado com a chuva.

O caminho foi tranquilo e silencioso como sempre. Assim que entramos em seu território me senti inseguro por algum motivo.

- Gguk fique perto de mim, a alcatéia costuma estar quase sempre em seu estado de lobo e eles não são as pessoas mais calmas quando se trata de omegas que não são alcatéia deles – o motivo da sensação de insegurança pensei, fiquei com ele todo o trajeto que fizemos a pé.

Logos vimos a cabana do Kai mas estava diferente do que eu me lembrava, ou apenas tinha a sensação que estava diferente, parecia que estava menor, ou eu que tinha crescido? Fiquei pensando nisso até reparar nas cores que nos cercavam tudo é tão natural, tão rústico. As cascas caindo das madeiras que constituíam as paredes, me fez acreditar que aquilo devia estar da mesma maneira há pelo menos 10 anos, mas logo fui tirado dos meus pensamentos, quando alguém se aproximou, um cheiro familiar tomou minhas narinas.

- O que fazem aqui? – a pessoa perguntou ríspido, eu podia jurar que conhecia aquele cheiro – vai escurecer em breve, não queremos incidentes, entendem, né? – explica de forma simples.

- Queremos falar com seu pai, pode chama-lo? – ele confirma, e como veio se foi rápido e silencioso.

- Quem era aquele? – pergunto sem olhar pra ele, tenho quase certeza que conheço ele.

- Soobin, primogênito do Kai – responde sem dar importância – vocês brincavam quando crianças, se lembra? – pergunta com algo na voz, acho que esperança, não sei não consigo definir.

- Sim, eu me lembro – respondo baixo, levando a mão ao colar no meu pescoço.

Com isso todas as memórias que eu tinha sobre nós voltaram, se misturando com as emoções que a cidade me trazia e como uma avalanche desabei. Soltei uma lágrima, depois outra e assim foi até começar a soluçar, quando me dei conta estava no carro novamente com meu pai tentando me acalmar.

- Kook, por favor Kook – ele dizia aflito, quando foquei na sua voz o abracei, com isso me deixei chorar estava segurando desde que cheguei e acho que ele percebeu. – está tudo bem, acho que foi muita coisa por um dia só, vamos embora depois resolvemos isso. – me solto do abraço e ele instantaneamente se põe a dirigir.

No caminho pra casa apenas observei a paisagem, que alternava entre árvores gigantescas e porções de cidade. Tudo parecia calmo e tranquilo, mas até eu que tinha voltado a pouco tempo sabia que a paz era algo frágil.

Quando cheguei em casa estava esgotado, então só tomei um banho e me deitei. Com a chuva leve que caía lá fora adormeci, e assim foi o primeiro dia.

Before dawn - Taekook ABOOnde histórias criam vida. Descubra agora