Capítulo VII - Uma bola de neve em minha mente

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     Segunda-feira. Não demoro para sair de casa, afinal dormi até mais tarde, pois fiquei lendo o diário de minha mãe noite adentro. Sim, ainda estou cheia de curiosidades e pesquisar tem ajudado a acalmar minha mente, se é que isso é possível. Prendo a bicicleta com o cadeado e entro pela porta principal do colégio, passando na secretaria antes de ir para a sala de aula.
     Hoje inicia a semana de provas, então não precisarei dar aulas, apenas acompanhar os alunos durante a resolução das mesmas e recolherei os trabalhos que passei no mês passado como forma de ajudar nos estudos e revisões. Sento na mesa e espero todos os alunos se acomodarem antes de distribuir as avaliações. Quando tudo está pronto, eles iniciam e volto para a cadeira, retirando meu livro da bolsa.
     Meu interesse pelo que as crianças andam falando e pelas anotações de minha mãe só cresce e não consigo parar de procurar a respeito. Espero não surtar por conta disso tudo. No intervalo vou falar com as crianças sobre o que andei descobrindo, mesmo elas já tendo conhecimento. Levanto meu olhar para a sala e caminho pelo ambiente para garantir que todos estão realizando a prova com atenção e não estão colando do colega ou algo do tipo.
     Quando o sinal toca, recolho as provas e libero os alunos para o intervalo. Gosto dessa escola, pois a mesma proporciona quinze minutos entre a realização das provas, o que faz com que os alunos descansem e se preparem para a próxima. Aproveito para beber água e sentir um pouco de ar puro. Há algo estranho acontecendo nos últimos dias, sinto como se alguém estivesse me observando, o que me deixa desconfortável.

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     Entro na sala novamente, repito os mesmos procedimentos e volto a ler o diário de minha mãe. O mais interessante é que as anotações dela e os livros que estou lendo se completam, me deixando cada vez mais intrigada e com vontade de ir além. Caminho por entre as carteiras com o caderno em mãos e observo os alunos com atenção em meio às frases escritas por minha mãe.
     Ouço o sinal e recolho as provas, logo pegando minha bolsa e indo até o lado de fora para lanchar. Sim, a professora também merece um descanso. Tomo o café que trouxe e como alguns biscoitinhos. Sorrio ao ver um grupo de alunos se aproximando. Isso, os de sempre: Jaime, Cupcake, Pippa, Claude e Monty. Aceno para eles, que se aproximam, animados apesar das avaliações.
     — Olá, crianças! Como estão?
    — Nada bem, prof., a semana de provas começou, não é? — Claude me responde, triste.
    — Ah, é bem cansativo mesmo, mas sei que vocês vão conseguir boas notas! — Tento animá-lo.
     — Prof., prof.! — Jaime chama minha atenção. — O Jack disse que viu você lendo sobre ele. É verdade?
    — O que? Como assim? Você o viu recentemente? — Olho para ele, confusa.
     — Sim, veio ontem me visitar! Disse que estava com saudades e que queria conversar — ele explica. — E, bom... Comentou sobre você também. Perguntou se eu te conhecia.
    — Hum... — apenas resmungo, sem saber o que falar.
    — Eu disse a ele que poderia falar com você, afinal é confiável e acredita nele.
    — Acredito, é? — resmungo sozinha. — Bem que eu senti alguém me observando no parque sábado... sabia que havia algo... — falo em voz alta, pensativa.
    — É! Era ele mesmo! — Jaime diz, animado. — Fique de olhos bem abertos, pois o Jack pode vir falar com você a qualquer momento — ele ri.
    — Certo... Bom, tenho que ir. Um bom dia para vocês.
    — Tchau, prof. — As crianças falam e entro na escola novamente.
     Quer vir falar comigo... Não sei o que pensar a respeito disso... Na verdade, não tenho certeza de nada de uns tempos para cá.

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     Depois que o horário das provas termina, guardo minhas coisas e volto para casa. Meus pensamentos giram em minha mente e não sei como acalmá-los. Espero que meu pai possa me ajudar. Deixo a bicicleta na garagem e entro em casa, colocando as coisas sobre o sofá e indo falar com meu pai.
    — Olá! Como passou a manhã? — pergunto ao abraçá-lo.
    — Muito bem. E você? — ele sorri e beija minha testa.
    — Tudo certo com as provas, mas algo está me incomodando...
    — Deixa eu adivinhar: tem haver com o diário de sua mãe? — ele ri e tampa a panela.
    — Não apenas isso — resmungo e começo a colocar os pratos na mesa. — Jaime disse que Jack Front andou me observando e quer fala comigo...
    — Nossa... E o que você acha disso? — pergunta meu pai ao colocar a panela de arroz sobre a mesa.
    — Bom... Ainda não sei na verdade — suspiro e me sento ao terminar de colocar os copos e talheres para almoçarmos.
    — Minha filha, não pense muito, apenas espere que tudo acontecerá no tempo certo — ele fala, meio distraído ao servir a própria comida.
    — Ok... — coloco o que vou comer no prato e começo a me alimentar.

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     Depois do almoço, meu pai e eu conversamos enquanto organizamos a cozinha. Quando terminamos, ele sobe até o quarto para sua soneca e vou para o meu. Talvez estude ou termine o livro. Confesso que estou muito confusa pelos últimos acontecimentos.
     Sento na cama e tiro o diário da minha mãe e o livro que estou lendo da mochila. Acho que preciso acalmar minha mente antes de começar qualquer outra coisa. Folheio as páginas e leio as frases buscando respostas.
     O que está acontecendo comigo ultimamente? É como se eu não conseguisse controlar meus pensamentos e a ansiedade está começando a me sufocar. Parece que minha mente quer as respostas neste instante e não posso ajudá-la.
     Tenho um sobressalto ao ouvir um barulho e coloco a mão sobre o peito. Que merda...? Me levanto e caminho até a janela. Antes de levantar o vidro, percebo que ele foi atingido por uma bola de neve. Olho em volta e não vejo nada e nem ninguém. Suspiro e fecho a janela novamente, voltando a me sentar na cama.
    — Será que foi o...? — Balanço a cabeça e volto a me concentrar no que estava fazendo.
     Continuo a folhear o diário de minha mãe e vou para a parte do natal. Afinal, estamos em dezembro e a data comemorativa se aproxima. Ela desenha o Papai Noel, que descubro se chamar Nicolau São Norte, e escreve algumas curiosidades sobre ele.

 Ela desenha o Papai Noel, que descubro se chamar Nicolau São Norte, e escreve algumas curiosidades sobre ele

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     Quando me dou conta, estou lendo novamente sobre Jack Frost e fecho o livro. Ele está tomando um espaço grande em minha mente e não estou gostando nada disso. Pego meu celular e olho para a tela, o relógio marca 17:09. Ok, hora de tomar banho e me organizar para a faculdade.

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      Assim que chego em casa, vou para o meu quarto e dasabo na cama. Hoje foi tumultuado e só quero descansar. Preciso descansar. Coloco meu pijama e me preparo para dormir, mas antes pego meu diário e escrevo, tentando organizar meus pensamentos, sinto que eles estão virando uma bola de neve.
     Depois de alguns minutos, coloco o caderno sobre a mesa de cabeceira e deito em meu travesseiro. Sei que vou demorar para pegar no sono, mas quanto antes me desligar de tudo, mais rápido irei alcançar meu objetivo.

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