8½, 1963.

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de corpo rachado, pálido e fraco
a arte quebrou meu coração
deu as costas e se foi
até minha visão ser apenas seus fios vermelhos
e sua longa, invejável silhueta
desaparecendo na noite

memórias empoeiradas
renascem no nosso jardim
aquelas melodias, escrituras e quadros
seu amor os levou para longe
fora de alcance, a tinta se desencontrou do papel

ouvindo meus próprios passos, encaro seus antigos pertences vagando
perdidos pelos corredores
sinto seu cheiro, seu...

continuo a enviar cartas vazias para o sol,
mesmo não tendo certeza se serão respondidas
por enquanto, acompanharão os ventos, dando voltas pelo mundo

de primeira, fomos sorte ou um acidente?
você com sua pele clara, olhos mais ainda
avermelhada, tímida
um puro pecado
éramos amantes contrastantes que não assumiriam já enxergar o destino de desavença

naquele último dia,
seus sorrisos radiantes se tornaram angústia
lábios rosados e desenhados que ansiavam algo muito além de mim
e de meu controle

vícios excessivos foram consequência
sem futuro, cavei uma imensa cova para as histórias não terminadas
empilhei rascunhos no lugar mais distante da prateleira
me afastei das inspirações, da felicidade
com os sentimentos cristalizados

porém, talvez
tudo isso que aconteceu
seja só eu
mentindo, sozinho
murmurando incessantemente
na frente do espelho

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