te vejo esperando te ver novamente...

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quer ouvir uma piada, querido?
ultimamente, há um bom tempo
minha caneta parou de funcionar
e eu perdi meu caderninho
meus rascunhos sumiram de vista
chato, né?

porém, essa ainda não é a parte engraçada
o que aconteceu de cômico, querido,
foram meus sonhos, acredita?
meu inconsciente
me pregando peças
pois, de novo,
"ultimamente" (há um bom tempo)
eles se parecem com você.
não de rosto, e, às vezes, sem a sua presença
mas agem. igualzinho.

isso é uma loucura, não é?
eles repetem seu jeito único
de se fantasiar de paraíso
e ser tão, mas tão importante
e que, assim mesmo, me remetem só do que mais me tormenta
sem pausa. são todas as noites, querido.

já está rindo? pois, acredite se quiser,
não estou mentindo.
gostaria, amaria, sério
falar "ha! brincadeira!"
ou "te peguei!"
e rirmos juntos
da exata maneira que costumava ser
... o que não volta, não volta, né?

e, sim,
o meu ultimamente, meu bom tempo
começou marcado, em uma data específica
em quando tentei te substituir
e continua...

e é muito triste, querido, demais
para aqueles, e, principalmente, ele
que tanto me ouviu
ainda tendo que me ouvir
murmurar sobre esse ser
que, depois de metades de anos
e anos inteiros,
continua aqui, sem estar comigo
e essa é a graça da piada.

acho que nunca entenderá
o motivo de tentar rir,
em meio a dor que rasteja no corpo inteiro
de ter que aceitar
que, não importa a distância que vou,
de uma forma ou de outra
estarei, em cada estação, trem ou avião,
te encontrando.
sem botão de parada,
sem saída de emergência

as chances são infinitas, incontáveis
seu rosto pode aparecer, ocasionalmente
surpreendentemente detalhado
por mais que, ao acordar, eu não lembre de mais nada teu
só do sofrimento, do amargo das músicas
e de alguns raros segundos felizes

o hilário se torna as minhas tentativas
com falhas quase rítmicas
de te escrever, te confessar,
me declarar, sem me faltar palavras,
que sou, simplesmente,
profundamente apaixonado
pelo querido, não por você.

não sei se sinto alívio, se celebro, comemoro
não sentir mais aquela dor, pontiaguda,
no coração
a cada vez em que te avistasse
de longe, de um pouco menos que longe
ou se choro, brigo, culpo alguém
por ter começado a esquecer nós dois
nos esquecer
talvez finalmente,
com certeza completamente

não sinto mais
felicidade ou tristeza
quando sei que estará lá
que irá interagir comigo,
eu te vejo, cumprimento
e nada.

um nada que, ao deitar, morre e nasce novamente
em formato de desespero
se expressando por orações,
a qualquer deus que me acolha,
pois, abraçado pelo silêncio e frio da noite,
me contrario,
não sabendo se sorrio ou choro
porque sei que não há mais um bom tempo
sobrando, me poupando,
até que te veja novamente, querido.

o irônico "tudo que eu já sonhei"
a minha imagem de paz. de desejo. de amor,
que tampa a feiura da realidade,
meu símbolo,
o que faz de mim, eu.
e o que vem me moldando há anos e anos.

eu vejo você, já esperando, ansiosamente
pelo verdadeiro momento
em que te vejo.

não deve estar percebendo, querido,
nem você, leitor,
mas, apesar da terrível contradição dos fios malignos do passado,
assim como tudo, parece impossível
não rir...













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