- Você é uma garota estranha, e eu gostaria de te virar do aveso - ele sussurra no meu ouvido, tão perto que sinto sua pele queimar.
Meus nervos crescem quando o sinto roçar os lábios no meu pescoço. Não posso fazer isso, não pretendo enterrar meu...
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Ouro, vinho e garotas. O salão abriga bestas da noite.
Disfarçados durante o dia, animais com sede saciável somente ao anoitecer. Álcool passeia entre copos de madeira, recai nas gargantas dos homens fora de si. A música toca sem pausas, traz a ilusão macabra de uma festa contagiante. Meninas vulgares contidas por grossas coleiras de aço se movem de mesa em mesa. É ali que a natureza manifesta a selvageria humana. E eu adoro isso.
Meus olhos azuis esverdeados atentam-se á todos, eu procuro pacientemente. As meninas estão caçando, mas não eu, eu estou vasculhando. Vasculhando em todo esse lixo algo que valha a pena salvar, algo que me dê aquilo que procuro.
Continuo sentada em um ponto isolado da festa, cruzo minhas pernas enquanto círculo meu polegar na base da minha caneca de álcool. Não sou do tipo que gosta de beber ou se perde quando o faz, mas caramba... Não me lembro de ter tomado algo tão terrível assim antes. Que nojeira. Retiro minha pequena adaga improvisada de madeira da bolsa e volto a afiar sua ponta, deixando-a mais letal o quanto eu puder.
O alvo, um jovem garoto acorrentado se desvia intencionalmente da minha posição, seguindo a um velho sedento uniformizado com a insígnia da Capital, serve uma caneca de álcool na mesa dele. É agora. Eu me levanto do meu assento afastado, saio das sombras entre paredes e o persigo, sigo por de trás de suas costas, aproximo meu rosto com palavras no ouvido do jovem escravo.
- Têm quartos disponíveis? Preciso de um favor seu - sussurro com a voz mais doce que tenho, checando para que ninguém nos veja... Se bem que, estas pessoas mal conseguem se manter em pé.
- Estamos lotados, volte outra hora - ele responde, amargamente. Volta a juntar canecas usadas em uma mesa suja.
Lotados? Ah, sim. Vim de tão longe e não voltarei atrás, não estou de brincadeira e farei questão de levá-lo a força se assim for necessário. Cavouco o fundo da minha bolsa relicário - Seja mais prático - Digo, enquanto moedas de ouro tintilam entre meus dedos. O servo me olha relutante, analisa as moedas douradas e o meu perfil de cima a baixo. Ele checa os dois lados do salão, apalpa a própria coleira em agonia e logo aceita. E eu acabo de vencer.
⊱─⊶𖡹⊷─⊰
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