- Você é uma garota estranha, e eu gostaria de te virar do aveso - ele sussurra no meu ouvido, tão perto que sinto sua pele queimar.
Meus nervos crescem quando o sinto roçar os lábios no meu pescoço. Não posso fazer isso, não pretendo enterrar meu...
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- Eles escondem algo monstruoso de nós, Okali. É isso que tento lhe dizer! Esta rainha, a Sansara, ela deve ter algum acordo envolvido com pessoas de dentro de Eudora. O homem descrito nestes papéis, um Marechal da Capital com o nome de Jenard, essas pessoas propuseram a Cisão que destruiu Humore! - repasso uma das páginas do velho documento entre meus dedos sujos enquanto aguardo a melhor reação possível dele sobre tudo isso.
Não pude esperar muito, tive o momento ideal e contei tudo que descobri e ainda poderei desvendar desse passado. Por outro lado, tudo que recebo se resume na cara feia dele de desapontado. Maravilha.
- Se bem que entendi, você correu comigo por aí com uma pilha de papéis importantes que poderiam explicar coisas terríveis do nosso povo e ainda assim decidiu não me contar nada? - ele volta a emburrar a cara. - Você sempre faz ótimas decisões... Senhor, mais outra.
Assisto Okali engolir uma segunda cumbuca de água servida para nós. Caramba, terei que suportá-lo me relembrando desse mesmo assunto por mais quanto tempo não sei. - Olhe, eu não confiava em você, não tanto quanto confio agora, entende? Isso era muito especial para mim, ainda tenho chances de descobrir para onde levaram ele, para onde levaram Grey... Depois de tantos anos.
Me volto para ele, que continua focado em sua cumbuca. Arrasto seu pote para mim, pegando sua atenção - Isto é sério.
Ele estica dois dedos e desliza seu pote de volta:
- Qual sua preocupação em confiar nas pessoas, Scarlett? Eu pareço uma ameaça para você? O quê acha que eu faria se tivesse me contado antes?
- Preocupação? Consegue ter dedos suficientes para contar quantas pessoas nos fizeram mal nessa viagem toda? Cuidado nem sempre é pouco, você está vivo porque eu fui desconfiada.
Lanço a palavra final, mantendo o ambiente mais instável que antes. Nos mantemos em silêncio, deixando os três ou cinco homens pingados falarem mais alto ao fundo do pequeno salão, eles gritam e riem espalhando bebida nas mesas. Certifico de que meus papéis estão seguros e os guardo dentro da bolsa relicário que encontrei perdida no caminho até aqui.
Entramos na Capital de Eleydale escondidos em uma carroça sofisticada de suprimentos artesanais, amontoados entre panos e tecidos empoeirados. Graças a mim, tivemos a ideia de pegar mantas para nos cobrirmos no momento em que saímos andando pelas ruas.
Foi o suficiente para tapar o comprimento das asas dele e nossos chifres exagerados, mas não o suficiente para impedir que as pessoas nascentes daqui nos encarassem de maneira estranha. Comparando com a vida selvagem e difícil fora da Capital, aqui estamos mais seguros e mais encrencados caso formos quebrar as leis da região.
Seremos vigiados quase constantemente por sermos quem somos e, mesmo assim, não vou desistir de encontrar a pessoa que um dia eu perdi. Mas não estamos completamente sozinhos, Uzuli passará um período sobrevoando a Capital para nos manter em segurança de fugas.
