SABRINA

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    Andrew e eu voltamos para casa três dias depois do ano novo. A final do campeonato iria acontecer dali três dias, e ele queria treinar ao máximo com o time até lá. Eu iria aproveitar para praticar uma combinação de triple flip e triple toe que andava me dando problemas. Sempre tive facilidade nos saltos, acho que os 7 anos de balé que meu treinador fez meus pais me colocarem ajudou bastante nisso (e em qualquer graça e leveza que eu tenho para a dança). Ele me deixa em casa com um beijo rápido, mas só escuto o carro partir quando estou dentro do portão do prédio. Abro a porta e jogo minha mala para dentro chutando uma correspondência que algum vizinho jogou por debaixo dela enquanto estive fora. A pego e vejo o símbolo da ISU (International Skating Union) que me deixa alerta, sento no sofá e abro a carta. Ainda bem que sentei, pois por pouco não desmaio. Eu e Jake fomos convidados para o Grand Prix de Patinação Artística! Puta merda!! Pego meu celular e ligo para minha mãe. Ela atende no terceiro toque

- Oi querida - ela diz com a voz suave, e estranho

- Oi mãe! Vá até o papai e coloque no viva-voz, tenho uma notícia para vocês.

- Não nos diga que seremos avós - ela ri - Sabrina está gravida? - A voz do meu pai irrompe

- Não pai! Escutem o que vou contar - respiro fundo - eu e Jake fomos CONVIDADOS para participar do Grand Prix desse ano! - Minha mãe solta um gritinho

- Meu deus Sasa! Isso é incrível - ela fala - vai chover patrocínio em vocês

- Pai? Você me ouviu - pergunto

- Ouvi, só não consigo acreditar - ele diz meio baixo - minha filha no Grand Prix, meu deus! - Pela sua voz, percebo que está sorrindo

- Cheguei hoje de viagem e a carta estava aqui - explico

- Que ótimo filha! Quando souber o local nos avise - minha mãe fala

- Estamos orgulhosos - meu pai comenta por fim e sinto as lagrimas brotarem.

- Obrigada - digo baixinho e desligo. Acho que é a primeira conversa em dois anos que tive com eles, que não houve sarcasmo e ofensas. Acho que dessa vez, se tudo desse certo eu conseguiria fazer meus pais terem orgulho de mim, e convencê-los de que eu nasci para a patinação. Não podem negar que está no meu sangue.

    Passei o dia todo desmontando meus patins, vendo quantas meias calça inteiras ainda tenho, e pensando num collant diferente. Pensei em ligar para Jake, mas achei melhor não. Ele poderia querer voltar antes e arruinar as férias em família. Eu queria ligar para Carol, mas preferi contar pessoalmente. Me deixando seu ninguém para contar, no fim das contas. Claro que tinha o Andrew, mas amanhã eu iria assistir ao treino dele, já que segundo ele, ele sempre me via e eu nunca via ele patinar, eu disse que se ele ficava me espionando eu não tinha culpa, e ele claro riu da minha cara. Pensei no que eu podia fazer para amenizar a ansiedade em mim, e resolvi colocar uma roupa térmica, tomei um remédio para dor e fui correr na quadra lá embaixo, depois fiz abdominais e agachamentos, o que me cansou o suficiente para conseguir dormir.

    Acordei cedo no outro dia, corri pelo quarteirão com os fones de ouvido no máximo e quase fui atropelada. Fiz uma nota mental para nunca mais correr na rua com os fones tão altos. Tomei um banho, peguei minha bolsa de patinação e coloquei no carro que Carol deixou, e fui até o estádio do Dallas. Dei meu nome para o segurança na entrada, ele me deu uma boa olhada, mas por fim me deixou passar. Já conseguia ouvir os gritos e o barulho do gelo sob as laminas deles. Segui por um longo corredor e virei no primeiro acesso as arquibancadas, que estavam vazias, bem diferente da última vez que vim aqui. Fiquei na quarta fileira e assisti ao treino deles, que me pareceu mais agressivo que o jogo real e olha que eles estão todos no mesmo time. De primeira vi Andrew, correndo guiando o disco em direção ao gol, dando uma tacada tão forte que juro ter visto grandes lascas de gelo voando junto. Nate dá uma tapinha em seu ombro, e em seguida penso em Carol: se ele está aqui, onde ela está? Mandou uma mensagem e ela me responde na hora "volto no dia da final deles, fique de olho no Nate por mim ;)" ok então. Eles fazem uma pausa pelo que parece, e desço até o painel que separa o gelo da arquibancada. Andrew está sentado nos primeiros bancos, com Mike ao seu lado, que parece muito surpreso ao me ver.

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