1 - "Mudanças"

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Atualmente, 21/12/2019

Alyssa POV

-Você tem certeza do que está fazendo?

Eu ouvi essa pergunta incontáveis vezes conforme os últimos meses foram se arrastando, e ela estava quase me fazendo deixar de ter certeza sobre o que eu queria e transbordar meu coração de incertezas mais uma vez.

Era como se eu não tivesse controle sobre os meus próprios pensamentos.

-Quer parar, Astrid? -bufei, demonstrando chateação.- Já basta os meus pais enchenco meu saco.

-Desculpa, -Astrid ergueu as mãos para cima.- É só que, ano que vem é nosso último ano na faculdade de dança, você deveria esperar só mais um pouco, e depois, começaria sem problemas a faculdade de moda.

Nós estávamos no campus da Golden West, sentadas em um dos bancos que usamos diariamente para comer, para ser mais exata.

Aquele havia sido o último dia de aula, onde os alunos do colégio aproveitaram para organizar uma festa de despedida. Naquele ano, vários alunos estavam indo embora e novos iriam chegar, pois a faculdade oferecia bastante cursos.

Assistíamos de longe os alunos dançando e comendo, se divertindo, aproveitando os primeiros ou últimos momentos no ambiente, tirando bastante fotos, se gravando, e é óbvio que não podia faltar as trollagens. Muito papel higiênico e chantilly sendo desperdiçados.

-Acontece que eu não aguento mais esse lugar. Tudo aqui é realmente bom, mas... Dança não é o que eu gosto de fazer. Minha mãe quem me forçou a entrar nesse curso, você sabe, ela é bailarina... Mas não rola mais, me sinto sufocada de não me esforçar e não sentir amor pela matéria. Não é que eu odeie dançar, mas... Ah, você entendeu.

-Entendi. -Astrid sorriu e repousou sua cabeça em meu ombro.- Parece que vamos ter que nos separar.

-Já íamos de qualquer jeito, depois da faculdade você vai embora. Já sabe para onde ir?

-...Não. Mas vou abrir meu próprio negócio, e quem sabe, fazer renascer os próximos dançarinos mais talentosos.

-Torço por você... Sei que é capaz de conquistar tudo o que quiser.

-Eu te digo o mesmo, boba.

-Somos jovens, Astrid... -eu entrelacei nossas mãos em um gesto amigável.- Temos muito o que viver.

Astrid e eu nos conhecemos aqui na faculdade, há três anos atrás. Digamos que ela foi a única pessoa realmente paciente e que não se afastou de mim apesar do meu temperamento forte. Acontece que eu não sou uma pessoa sociável, não gosto que invadam meu espaço e dificilmente me aproximo de alguém. Não gosto de perder tempo fazendo coisas sem propósitos, em futilidades.

É, eu sou uma merda.

Acontece que há muitos anos atrás eu sofri uma perda muito grande, que ocasionou um trauma. Eu já fui em diversos psicólogos, fiz vários tipos de terapia, mas nada me ajudou. Eu não nasci pra construir vínculos saudáveis com as pessoas.

Meus pais sempre dizem que eu era muito nova quando aconteceu, e de uma criança alegre e feliz, saudável, criativa e cheia de energia, nasceu uma adolescente amargurada, cansada, repleta de medos e negatividade.

Eu tive bastante sorte de conhecer Astrid nesse lugar, pois ela me ajudou com inclusão, paciência, conversas e bastante carinho. Me orgulho de dizer que ela foi minha única amiga, pois conseguiu valer por mil.

Eu descobri o meu talento como desenhista ao seu lado. Descobri que gostava de artesanato, tintas, lápis de cor, papel, confecção... E que eu simplesmente amava tudo aquilo. Desenhava todo o tipo de roupa e estilo, e quanto mais as ideias cresciam, mais vontade eu tinha de crescer ao lado delas.

Designated;;KNJOnde histórias criam vida. Descubra agora