Capítulo 30 - O'Connell

20 2 82
                                    

02/06

Michelangelo chegou ao orfanato com sete anos. Não tinha lembrança do seu passado. Mas isso não era o fato mais estranho do garoto.

Quando chegou lá, havia vinte crianças. Após um ano, todas foram adotados. Mais quinze crianças entraram nesse meio tempo. Mais um ano se passou, todas as crianças foram adotadas. A rotatividade era grande. Mas Michelangelo permaneceu lá.

No terceiro ano que estava lá, um casal com uma filha apareceu, querendo adotar uma criança. Esse casal foi aconselhado a não ter mais filhos, logo pensaram em adotar. Os olhos dos três não brilharam com as crianças de orfanatos próximos, então, durante uma viagem à Itália, pensaram em visitar orfanatos de lá. Percorrendo o parque, a filha, Samara, viu um menino embaixo do escorregador. Os olhos de Samara brilharam ao ver o garoto com cachos loiros. Naquele momento pensou que ele seria seu irmão.

— Irmão, Vínculo, Mudança — disse o garoto, contando quantos segundos levariam para ela sair correndo.

— O que é isso? — indagou Samara.

— Seu futuro. Tais palavras são o seu futuro.

— Hum, então será que... Qual seu nome? — Samara se abaixou para ficar na sua altura.

— Michelangelo.

— Meu é Samara. Acho que encontrei meu irmão — disse estendendo a mão para ele poder levantar.

Ele não pode acreditar no que ouviu. Alguém que não havia corrido após ouvir o que ele disse. Quem era aquela garota?

— Você ouviu a parte que eu vejo o futuro das pessoas?

— Claro. E sabe, eu vejo catástrofes. É bem horrível. Vamos passar por isso juntos? — disse segurando a sua mão.

— Catástrofes? — indagou Michelangelo, dando a mão para Samara e sendo arrastado para os pais de Samara.

— Suicídios, homicídios, acidentes...

Michelangelo sorriu. Aceitou. Alguém igual a ele. Estranho.

Benjamin e Helena, pais de Samara, também foram tocados por Michel. Algo inexplicável para eles.

O maior problema enfrentado foi quando saíram do orfanato. Michelangelo, agora com o nome de Michel, um nome mais comum no país que moraria, os Estados Unidos; não teve problemas em falar o inglês, na qual aprendera no orfanato. O problema foi o autocontrole.

Ele falava o que via. A quem ele via. Michel não conseguia controlar o que via, a ânsia era maior que o autocontrole. Quem mais conversou e apoiou Michel foi a avó de Samara, Dara, na qual foi de quem Samara herdou os sonhos.

Samara começou a ter esses sonhos com cinco anos. O primeiro, que não consegue se esquecer, foi quando viu seu tio se suicidar por não aguentar mais ter os mesmos sonhos que ela teria, assim como Dara tinha. Ele tinha esses presságios durante o dia, visões que invadiam sua rotina.

Esse dom aparece de forma irregular na família dos O'Connell, porém sempre com um por geração. Samara, por certo tempo, não conseguia dormir, precisava tomar fortes sedativos para não acordar com os pesadelos no meio da noite. Na adolescência, conseguia algumas noites de sono tranquilas, mas algumas acordava gritando e chorando, como se tivesse no local e na pele da pessoa morta. Somente Michel conseguia acalmá-la ou até mesmo acordá-la; muitas vezes ela não conseguia se desprender do sonho.

Michel, por não se lembrar de seu passado, só lembra de sua vida já no orfanato, com seu dom. Ele não entendia o que tais palavras significavam. Porém, com o tempo, ele percebeu que quando via as palavras "família, pai, mãe, despedida, recomeço", as crianças eram adotadas. De tão feliz que ficou quando descobriu contou para os quatro ventos. E tais ventos o transformaram na aberração de lá.

Perdida em Mentiras e Lembranças l Trilogia HauntOnde histórias criam vida. Descubra agora