Capítulo 03 - Um Péssimo Presente

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15/12

Fazia mais de três meses que Danielle não tinha aqueles sonhos estranhos. Só sonhos normais, com gente que ela conhecia e com galãs ou vilões de filmes e séries de TV. Ainda fazia acompanhamento com a psicóloga, mas ela acabou tendo certeza que aqueles sonhos só aconteceram pelo estresse causado pelas aulas, novos amigos e a morte do seu pai. Apesar da noite estressante, fizera questão de esquecer tudo sobre ela. Durante as aulas, conseguia não esbarrar com Ashley ou Nolan em nenhum momento, mesmo tendo a mesma carga horária e compartilhando das mesmas disciplinas, ela simplesmente fugia discretamente antes que tivessem a oportunidade de ficarem sozinhos.

Os amigos não a perguntaram por que saíra correndo daquele jeito do cinema, o que ela agradeceu, porque não tinha como explicar que conseguia vê-los e eles não a viam.

Ela resolveu esquecer disso também, não tinha explicação e só sofreria tentando entender.

Distraiu-se durante esse tempo indo à igreja rezar pelo seu pai. Possuía apenas uma dúzia de escassas fotos de um álbum que ela guardava com muito carinho. Era seu tesouro secreto. Passava as noites olhando para o rosto que nunca esqueceria refletido naquelas fotos e, quando percebia, já estava chorando.

Taylor ligava sempre que podia para checar como ela estava. Assim como ela, a amiga sabia o que era sentir falta de um ente querido. Conhecia a dor de perder alguém próximo; sua mãe falecera jovem em um acidente de trânsito e Danielle não chegou a conhecê-la. A filha herdara os cabelos loiros e o formato do rosto de Clarisse, deixando apenas os olhos verdes virem de seu pai, Vladimir. que cuidara da filha depois da partida de sua esposa praticamente sozinho, somente com a ajuda de uma tia de Taylor, Natalie.

Um grande desejo quase infantil das garotas desde que se conheceram era ver Victoria e Vladimir juntos. Algo que nunca se mostrou muito promissor, apesar da insistência das filhas e elas não conseguiam entender o motivo.

25/12

Vejo que algo foi colocado na minha cela enquanto eu dormia. Rio alto quando vejo o que é. Uma cesta de Natal! Pelo menos alguém se importa comigo. Se bem que o Papai Noel poderia ter me dado a liberdade. Mas alguns doces já conseguem me animar.

— Feliz Natal — sussurro com a minha voz rouca. Faz tempo que não a uso muito.

Danielle abriu os olhos não acreditando no sonho que teve. Ela tremia de frio. Acreditava que essas coisas tinham parado. Não aceitava que sonhara logo no Natal. Ficou frustrada por não poder gritar já que estava na casa de sua avó materna, seguindo a tradição natalina de sempre passarem a data com a matriarca da família.

Lembrou-se da ótima ceia e de como haviam se divertido. Suas tias e alguns primos por parte de mãe estavam lá, aqueles que ela só via em ocasiões especiais. Havia sido uma das melhores ceias de sua vida e não queria estragar tudo com aqueles sonhos

"Quem seria o garoto com quem sonhava tanto? Pelo menos. parecia ser um garoto, achava, pela voz. Só sabia que não o conhecia. Será que algum dia o conheceria?".

E, como em uma última prece de Natal, se perguntou:

"E o mais importante: quando esses malditos sonhos vão parar?".

27/01

— Fee-liiz Aanii-veer-sáá-riio? — assim que falo, percebo o quanto minha voz está horrível. Eu não devia ter parado de falar. Riria alto se fosse em outro tempo, agora, mal consigo sorrir para o papel que me deseja felicidades. Devo ter desaprendido a sorrir. Eu estou fraco e farto disso tudo.

Mas não posso negar que seja engraçado. Que dia é hoje? Agora tenho quanto anos mesmo? Quinze? Até perdi a conta e não sou capaz de me lembrar do dia em que nasci. Só sei da idade por causa dos livros do 9º ano que estão no armário. Sim, serei um preso, mas um dos inteligentes. Chega a ser engraçado, não é?'

Quinze anos. Eu devia estar no colegial, aproveitando a vida e sonhando já com a faculdade. E não nesse lugar frio e tenebroso.'

Danielle acordou sentando-se rapidamente, acreditando ser verdade. Não conseguia entender como aquele garoto fazia aniversário no mesmo dia que ela. Era muita coincidência.

Era feriado na cidade de Rhodes, onde Danielle morava. Ela pensou em ficar em casa tentando adiantar trabalhos e descansar. Claro que ia tentar descobrir o que significava esse sonho.

Mas na verdade não adiantou nenhum trabalho, ficou no telefone agradecendo os familiares e amigos que desejavam feliz aniversário. Perdeu mais tempo lendo e respondendo mensagens de texto e nas redes sociais. Victoria ainda trouxe uma torta de chocolate e coco para ela e a filha comerem. Taylor chegou bem na hora que a torta ia ser cortada.

Para Danielle, se em seu aniversário sua mãe e sua melhor amiga estivessem, estaria muito bom. Festa de 15 anos não estavam nos planos dela. Preferiu ganhar um notebook bom de aniversário. Gostava de desenhar as estampas da empresa de sua mãe.

29/01

Danielle foi a sessão com sua psicóloga. Depois de conversarem, ela chegou à conclusão que nunca havia visto nada parecido com aqueles sonhos, mas tinha um pensamento: o inconsciente de Danielle queria dizer alguma coisa.

A ideia era que o fato de ser um garoto demonstrava o desejo da Danielle querer um irmão mais velho. Ele caindo na escadaria era seu desejo voltando. Ele sentiu raiva pois Danielle esqueceu do desejo de querer um irmão. Ele estando preso era o desejo preso, sem ninguém saber. Mas depois de certo tempo o desejo sumiu e não aflorou mais nela. E como era o inconsciente da Danielle, fazia aniversário com ela. E depois de algum tempo não teria mais esse sonho.

Danielle saiu do consultório bem melhor, entendendo o que aconteceu. Ela admitiu a si mesma que estava solitária nas férias e em como seria se tivesse um irmão mais velho.

Chegando em casa falou tudo para Victoria, que estava na sala.

— Ah se nós soubéssemos disso... Planejamos ter outro filho quando você tivesse 10 anos, mas...

— Não deu tempo, não é? - Danielle disse dando um leve sorriso, deitando em um dos sofás.

— Não — Victoria disse triste, deitando-se também. — Mas ele seria seu irmão mais novo, e não mais velho.

— Eu ia amá-lo do mesmo jeito — Danielle fez uma pausa — Mas com o fato de meu inconsciente fazer aniversário junto comigo, imaginei como seria ter um irmão gêmeo.

— E você ia gostar? — ela indagou sorrindo.

Sorrindo de nervoso, não era hora ainda da Danielle descobrir tudo.

— Claro. Talvez fossemos brigar muito. Talvez fossemos melhores amigos. Mas acho que íamos nos dar bem.

— É, talvez fossem— Victoria sorriu.— Mas eu só tive você.

Victoria sempre ria de nervoso. Sorte dela que sua filha não percebeu.

— Taylor é quase se fosse uma para mim.

— Vocês são melhores amigas, não é? — pela primeira vez Victoria riu de felicidade mesmo.

— Sim, somos. E sempre seremos— disse Danielle sorrindo.

Depois desses meses difíceis, aos poucos Danielle conseguiu esquecer esses sonhos.

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Perdida em Mentiras e Lembranças l Trilogia HauntOnde histórias criam vida. Descubra agora