Frustração.
Frustração: Do latim 'frustratio', é o estado de um indivíduo quando impedido por outrem ou por si mesmo de atingir a satisfação de uma exigência pulsional.
Voltar para a realidade era algo difícil, depois do meu colega de trabalho virar um ser folclórico, a Cuca me botar para dormir e eu ver o Curupira no meio da floresta, realidade se tornou somente uma palavra com subjetividade. Eu evitei voltar ao trabalho, já que Eric era procurado pela polícia e eu estava ao seu favor, muitos poderiam pensar que eu estava o ajudando a se esconder. Eu não tive muito o que fazer, além de procurar por respostas sobre ele, mas onde procurar?
Eu me lembrei do bar, a porta vermelha e a borboleta como indicação, ali existiam as respostas para o que eu procurava e para o que eu também não procurava. Depois de tanto relutar, me dirigi ao local e novamente me peguei suando, me segurando para não fazer besteiras (ou pensar besteiras). Meus cabelos estavam soltos, um vento forte levava os fios aos meus olhos fechadinhos, mas não quis prendê-los, me senti mais livre com eles assim, voando em mim contra o ar, como rebeldes indo e vindo.
Bati duas vezes na porta, ela abriu sozinha e eu me tremi dos pés a cabeça pois não havia ninguém, mas sem nem muito me esforçar meu corpo adentrou no ambiente escuro sozinho, como se um impulso nervoso mandasse na carne mais do que a alma. A porta se fechou nas minhas costas, olhei, mas não vi ninguém, meu corpo sem que eu notasse, se tremeu novamente.
Vi um corpo conhecido e sorri aliviada com a companhia: era Camila, sentada em uma das cadeiras do bar, bebendo um copo cheio de um líquido esverdeado, os cabelos trançados e roupas da mesma cor da bebida. Os olhos dela se encheram quando me viu, ela desceu de onde estava e me abraçou, mas eu ainda ouvi um barulho de passos atrás de mim, no susto, pus o corpo magro dela atrás de mim e me virei. Um sorriso maléfico apareceu na sombra, mesmo assustada, sabia quem era e relaxei.
-Se acalme querida, sou eu. – Ela andou, passinho a passinho e parecia que cada pisada no chão fosse capaz de furar o solo, mas lembro do ouvia que "do chão nós não passamos" e sorri com tal pensamento.
-Você tem uma maneira um pouco bizarra de cumprimentar os outros. – Seu semblante ficou sério, talvez pelo meu receio, pela minha imponência ou pela minha forma de dizer que o que ela fez foi, em minhas palavras, bizarro.
-Fiquei com medo de você me prender. – Seu corpo estava mais marcado pelos panos, ela me olhava tão profundamente nos olhos que podíamos queimar pessoas com aquilo. Pigarreei, voltando minha atenção ao que vim fazer, me virei ao rosto negro e angelical de Camila, a perguntando, mas também questionando a mais velha:
-Onde está o Eric? – A sereia ia responder, mas foi cortada pela voz suave e firme da outra, que passou a mão nas minhas costas e se pôs ao meu lado. Minha coluna se estirou com o toque não reconhecido pelo meu corpo, ela sorriu daquele jeito único e que somente ela fazia.
-No meu quarto, descansando. – Inês falava comigo e para mim, não importava quem estava ali. Seus olhos não saiam dos meus e eu não entendia, também não me importava, mas me estranhava e eu ficava só assustada.
-Ele precisa ficar no seu quarto para descansar? – Minha pergunta foi baixa, mas certeira, eu não sabia se sentia ciúmes dele ou dela, mas de qualquer forma, não me agradava pensar que ele estava sendo cuidado por ela, sempre cuidei dele como meu irmão e agora uma bruxa milenar e fantasiosa toma conta dele?
-Era o quarto que tinha, não o deixaria com a Camila vendo nos olhos dela o quanto ela gosta dele. – Ela soou fria, como eu, não sorriu como eu e percebi a besteira que fiz quando expus minha insatisfação, mas não parei por aí e só vomitei palavras sem nem pensar na ordem delas.
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Efeito Borboleta
FanfictionUma fanfic Marinês. Efeito borboleta: série de eventos catastróficos que dependem da situação inicial, e nesta, uma fragilidade reside, desestruturando o restante e fazendo tudo cair como vento e dominó em fileiras. Essa é uma história sobre emoção...