Capítulo seis.

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Afeto

Afeto: Do latim 'affectus', Afeto: Do latim 'affectus', sentimento ou emoção em diferentes graus de complexidade; sentimento de afeição por pessoa.

Após horas de leituras, meus olhos fechavam quase que sozinhos, ela se mantinha normal e me espiava por cima das páginas. No relógio marcavam três da madrugada, mal notamos o tempo que passamos a ler, mas eu conseguia contar quanto tempo passamos a nos olhar e o quase beijo. Minha ferida começou a arder novamente, doía mais acima, como se meu coração estivesse me punindo e rezei para que ele não estivesse com raiva de não ter beijado Inês, mas eu não poderia fazer algo daquele nível. Ela era uma conhecida ou amiga, não sei?

-Você está quase dormindo. – A mulher a minha frente disse ainda a observar o livro como se importasse com o assunto escrito ali. Fechei o meu, olhando para a distância torturante de quase um metro entre nossas poltronas. Eu não entendia o motivo de tudo doer tanto, de tudo ser tão e tanto no meu peito.

-Estou? – Mesmo com o meu sono pesando meu corpo, não queria demonstrar, mas era tão óbvio o meu cansaço que parecia cansar até ela mesma. Minhas pálpebras tornaram as piscadas lentas, eu parecia bebum e ela parecia sorrir da minha condição.

-Está. – Bocejei, entregando novamente as cartas, minha língua não tinha controle do meu cérebro e eu sabia que se demorasse demais, iria começar a me tornar carente e insuportável.

-Mal percebi... – Brinquei de modo que a fiz soltar o livro e vir em minha direção, e até mesmo com a visão turva, ela ainda era linda. Era um anjo caído, era o demônio e também era angelical do mesmo modo.

-Pare com isso. Quer que eu te ponha para dormir? – Deu de ombros e me assustei com suas palavras, afinal eu não queria apagar ou deixar que ela entrasse na minha mente em um momento como aquele. Inês também bocejou em reflexo do meu e como ela, aproveitei a deixa para zoar.

-Me parece que você também quer dormir. – Ela só sorriu, aquele jeitinho idiota me deixava ainda mais abobalhada e eu não podia evitar de pensar em como ela me fazia rir e como eu a fazia rir.

-Talvez, mas se você descansa eu também descanso e continuamos amanhã. – Gostei da forma que a decisão era minha, assim, não importava como, mas ela fazia o que eu queria.

-Tudo bem, então vamos? - Fiz menção de me levantar, mas ela negou com a cabeça e me deixou confusa.

-Sim, mas vou conferir se Eric está no outro cômodo ou não. – Ela se retirou antes mesmo que eu pudesse notar, meus olhos fecharam de levinho e sussurrei:

-Tudo bem. – Caí em um breve sono, mal percebi quando meu corpo relaxou com o rosto apoiado na palma da minha mão. Ouvi uma voz suave soar pela porta, mas não tinha forças para abrir os olhos.

-Eric está no meu quarto, dormindo com Camila, então teremos que deitar-nos por aqui. – Ela retornou com alguns lençóis e panos mais espessos, logo pensei que seria para nos cobrir. Eu fiquei pensando que gostava da forma que ela falava, toda formal e cheia de letras, quando aqui no Rio, as pessoas falavam tão embaralhadas que só o carioca entendia o carioca. Ela chegou bem perto de mim, que raciocinava com os olhos fechados e sussurrou no pé do meu ouvido: -Ei, acorde meu bem, já vamos dormir. – Pude sentir todos os meus pelos se arrepiarem, a quentura da sua respiração fazer cócegas em mim e mal consegui falar. A forma que a sua voz era suave e firme, doce e sensual, me dava medo e o medo era um ótimo afrodisíaco.

-Na poltrona? – A perguntei com pouca pretensão, eu só queria descansar e depois eu perguntaria o que meu amigo estava fazendo com Camila para que eles dormissem juntos de repente.

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