Dúvida.
Dúvida: Do latim, 'dubidare,' incerteza entre confirmar ou negar um julgamento ou a realidade de um fato; hesitação entre opiniões diversas ou várias possibilidades de ação.
Eu acordei sem saber muito bem quem eu era, ali naquele abraço eu era alguém totalmente novo, se é que eu era alguém. Me senti invadida por sentimento estranho, um aperto no peito que me fazia perder as palavras que já estavam na minha boca. Eu sentia secura na garganta toda vez que eu pensava que estava nos braços de Inês, mesmo que nunca tenhamos nos beijado, nos sentido, eu via o mundo parar diante dos meus olhos com o meu pensamento mais obsceno: nossas mãos nos tocando, ou eu, envolvida no seu braço, era quase que sexual, por mais romântico que fosse, mas já fazia meu coração acelerar mais do que bateria de escola de samba. A luz do dia invadia as frestas do quarto subterrâneo, ainda avermelhado e escuro pelo isolamento, mas o rosto dela era tão lindo naquela luz que eu mal podia deixar de olhar. Ela estava cansada, tranquila e deitada, dormindo um pouco acima do meu corpo com a respiração controlada, completamente diferente da situação de poucas horas atrás.
Apesar do que lemos ontem, do que ela me disse e do que estava teoricamente escrito, eu sabia que não era esse o motivo da nossa proximidade, eu sabia que não era o motivo de me atrair a ela e sabia ainda mais que, o meu nervosismo e a palpitação no órgão que tanto bate no meu peito eram por puro entusiasmo de estar na sua companhia. Ela se movimentou um pouco, evitando de me acordar, porém, com os meus olhos abertos, olhei para cima onde seu rosto estava focado no meu e aquele meu órgão vital parou por alguns segundos. Fechei meus olhos, inspirando aquele forte cheiro de ervas e café fresco, me acostumando mais uma vez com ele antes de sair daquela quentura corporal tão reconfortante para mim. Inês passa a mão espalmada pelas minhas costas e sobe até perto de meu pescoço, onde mantem um carinho pelo meu cabelo.
-Não sabia que tinha acordado. – Ela diz ao pé do meu ouvido, hálito quente da manhã que arrepiou os pelos do corpo e ela sentiu meus calafrios nos seus braços mal cobertos. Eu me afastei um pouco e ela permitiu minha passagem para fora, e dentro de mim, desejei não estar magoada com isso, mas desejei que ela me segurasse e não me deixasse sair, mas tínhamos que ir, tínhamos que arrumar o lugar e tínhamos que viver nossas vidas de modo que ajudássemos o Eric e salvássemos a nossa pele ainda ferida. A morena gemeu baixinho quando saí, talvez o contato com a sua pele e o machucado tenham sido o suficiente para ela sentir dor, da mesma forma que eu sentia quando estava longe dela.
-Me desculpe, eu não queria sair e acordar você. – Levanto-me um pouco aflita, ajeitando os cabelos presos em um rabo de cavalo e deixando-a ali deitada por alguns segundos. Inês levantou-se com calma, pegando os panos do chão e deixando um pouco de pele a mostra pela posição que estava. Me desconcerto, como fiz na primeira vez que vi o pouco de pele em seu colo brilhante, porém obscuro, e ela nota o meu olhar incessante para os seus seios, sorri e deixa os tecidos de lado, aproximando-se de mim.
-Não precisa pedir desculpas, você sabe que poderia ter saído. – A mais velha ajeita a roupa e cruza os braços perto dos meus e quero tocá-la mais uma vez, sei que posso, mas o meu medo me controla para que eu controle todo o resto.
-Eu não quis. – Confessei baixinho, andando poucos passos até o seu corpo que me ansiava como ontem. Pus minha blusa dentro da calça e procurei com os olhos pelo meu sapato, ela me analisava como sempre e negou com a cabeça com os olhos fechados. Inês dava passos largos e firmes, com os pés tão fortes que tremiam o chão e com eles, sua sombra colou com a minha sem muito hesitar.
-E por que não? – Rocei meus dedos nos dela, pedindo passagem para entrelaça-los, e ela fez o mesmo, passando o dedo indicador pelos meus, subindo até o cotovelo, onde arrastou as mãos pelas costas enquanto eu respondia:
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Efeito Borboleta
FanfictionUma fanfic Marinês. Efeito borboleta: série de eventos catastróficos que dependem da situação inicial, e nesta, uma fragilidade reside, desestruturando o restante e fazendo tudo cair como vento e dominó em fileiras. Essa é uma história sobre emoção...