Capítulo cinco.

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Confiança

Confiança: Do latim 'confidentia, confidere', é a crença na probidade moral, na sinceridade, lealdade, competência, discrição etc. de outrem; sentimento de confiança mútua; familiaridade, intimidade.

Minhas mãos conheciam aquele caminho, conheciam aquela pele e aquela temperatura. Elas conheciam os dedos entrelaçados nos meus, conheciam as veias que subiam como raízes de árvores, conheciam a forma de encaixar tudo formando uma coisa só. E principalmente, elas conheciam aquele sentimento vir dos pés à cabeça.

Quando Inês e eu vimos nossas marcas e sentimos nossas dores, percebemos que estávamos mais conectadas do que achávamos. Era estranho desenvolver uma simpatia por ela, afinal ela era uma entidade bela e quase imortal, provavelmente com suas centenas de anos e eu, uma policial curiosa em busca de justiça em todas as situações com meus trinta e poucos anos, estávamos na mesma situação, então eu não tinha opção sem ser confiar nela e ela em mim.

No quartinho em que ela fazia suas poções e guardava suas plantas, Eric lia mais um livro sobre entidades, mas vi de cima que sua página estava marcada com o tópico de "protetores da natureza", pensei que só existissem aqueles que conhecemos e me enganei. A mulher atrás de mim o olhou e ele não entendia muito bem o que nossas mãos faziam juntas, nem nossas roupas mal presas na calça (no meu caso) e fora da saia (em seu caso) e muito menos, nossas faces divertidas e infantis.

-Eu acho que vou subir... – Ele disse com um sorriso maroto nos lábios, parecíamos uma turma de sexto ano falando que as pessoas estavam namorando, fazendo piadas e gargalhando com isso. Meus olhos se arregalaram com suas palavras e eu gritei:

-Não precisa! – Fiz menção de soltar a mão dela, mas senti que ela a segurou com mais força, como se me pedisse para não ir embora.

-Olha pelo o que eu estou vendo, precisa sim. – Ele subiu rapidamente, ainda com olhares sugestivos para nós e sua mão afrouxou da minha. Me virei para seu corpo escurecido e a perguntei inocentemente:

-Eu estou estranha? O que aconteceu? – Inês parecia envergonhada, mas não teria motivo, afinal não era nada demais.

-Nós duas estamos com as blusas mal colocadas, chegamos de mãos dadas e parecíamos adolescentes. Até eu desconfiaria.  – Olhei para minha blusa com parte fora da calça jeans e meu rosto ruborizou, ele poderia ter pensado besteiras sobre nós, mas quem não pensaria?

-Só se desconfia do que possivelmente pode acontecer. – Em todas as situações eu queria provocá-la, era engraçado e delicioso a forma que ela fazia isso de volta, ou que as vezes, isso também partia dela.

-Márcia, eu não sei do que você está falando, mas nada é impossível para mim. – Ela estava flertando comigo? A feiticeira milenar e poderosa estava tentando algo? Algo a mais martelava em mim: quem garantia que ela não sabia o que estava acontecendo?

-Você se lembra de quando me conheceu? – Era aleatório, eu sei, mas ainda assim era a única forma de saber o que eu queria sem que fosse um questionamento policial. Ela andou até uma das poltronas e se sentou, estendendo a mão para que eu fizesse o mesmo.

-Na delegacia? – Perguntou ela, novamente quis provocá-la de forma indiscreta, mas optei por uma piadinha.

-Olha, então você se lembra. – Ela revirou os olhos com a brincadeira, e se não fosse importante, eu teria parado para pensar milhões de cenários com aquela cena.

-Aonde você quer chegar? – Via a irritação em seus olhos, pois ela sabia que o buraco era mais embaixo e eu não queria saber de suas memórias fofas comigo, ou se recordava quando e como me conheceu, eu queria que ela admitisse as coisas para mim.

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