Vizinhos ༄

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Aquele trecho da praia da Fortaleza em Ubatuba estava quase vazio quando Nina saiu pelos fundos da casa com uma cadeira e um livro à mão.

As casas na beira da praia eram grandes, cercadas pela mata atlântica, construídas bem perto da areia e apenas uma barreira baixa de pedras impedia que o mar avançasse se a maré subisse demais, o que nunca acontecia porque o mar por ali era sempre muito calmo.

A casa da família de Nina era grande, luxuosa, e apesar de ser bastante antiga era muito aconchegante. A fachada era branca com detalhes azuis que lembravam as moradias gregas, não tinha muros nem portões, as paredes eram de vidro e ofereciam uma vista privilegiada para o mar. A propriedade era toda cercada por jardins bem cuidados com grandes coqueiros em volta da piscina e davam um ar caribenho ao lugar.

A casa era a última de uma fileira de residências que se estendiam por pelo menos metade da faixa de areia e era sempre alvo dos curiosos, primeiro por ser a última casa da praia, segundo porque a arquitetura mais rústica chamava a atenção de todos os que passavam por ali. Fora construída exatamente onde a faixa de areia acabava, situada ao lado de um conjunto de pedras grandes que surgiam de dentro da mata e guardavam um segredo conhecido por todos que frequentavam aquela parte do litoral. Acima das pedras, dentro da floresta, havia um grupo de trilhas que levavam a outros pequenos paraísos. Nina desconfiava que aquelas trilhas já não estivessem mais tão visíveis depois de tanto tempo já que as visitas àquela parte do litoral haviam sido proibidas depois que a prefeitura aceitou a solicitação de alguns moradores influentes que possuíam imóvel naquele bairro. Eles pediam há anos pra que a Praia da Fortaleza se tornasse uma propriedade particular e conseguiram o que queriam quando um juiz amigo de um dos moradores atendeu ao pedido. Na época do ocorrido Nina achou um absurdo e lamentou que as pessoas não tivessem mais acesso livre à beleza daquele pedacinho de paraíso. Agora a praia já não tinha mais os turistas barulhentos e curiosos que ela tanto gostava de observar.

Nina sempre gostou de lugares cheios, gostava de ver pessoas diferentes e ali naquele pedacinho do mundo gostava de observar as reações dos visitantes quando se deparavam com as surpresas que a Praia da Fortaleza escondia.

Agora teria que se contentar apenas com o barulho das ondas e dos latidos do Shitzu dos vizinhos da casa ao lado, isso se eles aparecessem para aquele feriado, no anterior eles não tinham dado o ar da graça e Nina e a família até sentiram falta, ela se lembrava de brincar com os filhos deles quando era pequena e seus pais ficaram amigos. Ficou imaginando se os veria dessa vez e acreditava que sim depois de notar alguma movimentação na casa deles assim que chegou naquele dia mais cedo.

Nina não pretendia entrar no mar naquela tarde, mas usava um chapéu de abas largas, um shorts e a parte de cima de um biquíni. Estava sentada na areia aproveitando o sol e observando o pouco a movimentação nas redondezas. Era fim de semana de feriado prolongado, o Sete de Setembro cairia na terça feira e aparentemente, as pessoas resolveram antecipar os dias de folga já naquele fim de tarde quente de sexta feira.

Naquela região o mar estava sempre calmo e as ondas eram sempre baixas, por isso muitas famílias e casais com filhos pequenos procuravam aquela parte do litoral para morar.

Nos dias que passavam ali, as famílias da vizinhança costumavam se juntar na frente de suas casas onde faziam praticamente todas as refeições ao ar livre.

Nenhuma das residências tinha muros ou portões, o que facilitava a convivência com outros moradores e com vendedores que costumavam passar o dia todo vendendo coisas por ali, mas desde que a praia passou a ser particular, não havia mais vendedores, e muitos moradores não gostaram muito dessa parte porque gostavam de ter opções diferentes de guloseimas marítimas, principalmente para as crianças.

A ÚLTIMA CASA DA PRAIAOnde histórias criam vida. Descubra agora