Reencontro ༄

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A chuva forte embaçava a visão da estrada e os olhos inchados de tanto chorar dificultavam um pouco mais, mesmo assim Nina dirigia com determinação querendo apenas fugir para o mais distante possível de todos os seus problemas.

Passava das onze da noite quando ela chegou na casa da praia.

O trajeto que normalmente levava cerca de quatro horas durou muito mais por causa do temporal que tornava o trânsito lento.

Assim que entrou no bairro da Praia da Fortaleza um alívio imenso invadiu seu peito como se tivesse chegado a um refúgio, mas no instante em que chegou, desceu correndo do carro agarrada à bolsa com algumas roupas e à sacola de mantimentos tentando escapar da chuva forte, colocou os pés no jardim da frente da casa, ela parou.

Era impossível não se lembrar dos últimos instantes ali. Olhou para a rua, podia ver o carro de Thomas dobrando a esquina e sentiu seu coração se partindo novamente.

Olhou para a casa ao lado. Estava tão vazia, escura e sombria enquanto era atingida pelo temporal. Parecia assombrada. Ela podia ver os vultos que a atormentavam perambulando por ali. Nina sentiu um arrepio subir pela espinha e se espalhar pelos braços. Seus olhos subiram até a janela onde tinha visto Nícolas. Era como se agora fosse capaz de entender a expressão que ele tinha no rosto aquele dia. Jamais se esqueceu daquele sorriso e daquele olhar sinistro e agora que o conhecia melhor, aquela expressão soava como um mau agouro. Ele exibia o mesmo olhar quando o encontrou mais cedo no hospital.

Nina espantou aquela sensação e entrou na casa.

Estava ali justamente para não pensar em nada daquilo e pensar naquelas coisas foi a primeira coisa que fez ao chegar.

Ninguém sabia que ela estava no litoral, a não ser seus pais e ela havia proibido que contassem a qualquer um, incluindo Cloe, Daniel e especialmente Thomas.

Ela deixou a bolsa e a sacola no chão perto do corredor que levava à cozinha, andou até a sala lentamente, tocando os móveis com as pontas dos dedos e se jogou em uma poltrona olhando para o teto com certa esperança de que assim como aquela casa havia trazido tantos problemas também tivesse o poder de acabar com eles.

Aquele era um pedido difícil demais pra uma simples casa, mas Nina realmente esperava por isso, como se a casa da praia tivesse o poder de desfazer um grande engano.

Assim que acendeu as luzes sentiu uma nostalgia atingi-la em cheio.

A casa estava exatamente como haviam deixado. O coração se apertou ao se lembrar de como aqueles poucos dias ali foram os melhores e os piores.

Nina espantou os pensamentos. Não estava lá para remoer as coisas, mas sim para esfriar a cabeça.

Ela se levantou, ainda estava com as chaves na mão, foi até a porta de vidro do outro lado da sala. Abriu as cortinas e não viu nada. Além de ainda chover muito forte, estava muito escuro do lado de fora, mas podia ouvir o som do mar misturado ao temporal. Encostou a testa no vidro e fechou os olhos. Abriu a porta apenas um pouco, sentiu o vento frio e o cheiro salgado. Inspirou fundo com os olhos fechados e os braços cruzados. Acendeu as luzes externas e correu os olhos pelo jardim. A tempestade dava um ar sombrio, mas muito bonito ao lugar mesmo à noite. Era impossível ver a areia ou o mar. A vista à sua frente onde as luzes não alcançavam era como um buraco negro que emitia som, mas completamente invisível.

Mesmo assim as lembranças vieram.

De repente, em sua mente, a noite escura se transformou em um dia quente e ensolarado e ela quase podia vê-lo bem ali na frente correndo na areia em sua direção com um sorriso largo e satisfeito, encostado nas pedras depois de uma corrida, mergulhando no mar, sentados um ao lado do outro batendo um papo descontraído, os dois abraçados e se despedindo com o coração partido.

A ÚLTIMA CASA DA PRAIAOnde histórias criam vida. Descubra agora