Capítulo III - Ajuda inesperada

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Nochsyn chegou aos portões da cidade murada que avistara à borda da floresta. Era uma cidade pequena, Breffea, que sofreu com a invasão dos minotauros. Os guerreiros de chifres expulsaram os imperiais, deixando a cidade à sorte de sua milícia. Era uma cidade simples, sem grandes mercados ou estátuas poderosas como as grandes cidades, e por isso não tinha valor.

Cidade adentro, Nochsyn tentou obter quaisquer informações que houvessem sobre o paradeiro de Larin, mas sua busca foi infrutífera. Ele estava sujo de sangue, e fedia como os mendigos da cidade. Céus, ele precisava de um banho e roupas limpas. O ladrão não tinha muitas moedas no bolso, mas eram o suficiente para se alimentar e comprar alguns trapos limpos. Ele passou por um alfaiate e comprou um corselete, calças e botas; ao lado, no ferreiro, levou uma consigo uma espada na cintura e algumas facas. Por fim, ele encontrou uma estalagem para descansar: O Copo Flamejante. Logo quando entrou, encontrou a corja de bêbados dormindo sobre a mesa, porém, um deles estava desperto: um minotauro de pelos amarronzados. Apesar de precisar de informações, o ladrão também precisava comer.

Na taverna escura, ele sentou-se no canto e pediu por uma garrafa de conhaque e suco de malforn, uma fruta amarelada abraçada por chumaços de fibra. A mistura era desconhecida para os civilizados, mas apreciada pelos povos que vivem na floresta. Quando ele fez o pedido, um minotauro olhou torto para o ladrão, que fez o favor de retribuir a finta. O minotauro, por sua vez, já tinha uma jarra de malforn em sua mesa, quase vazia. Quando acabou, levantou-se e seguiu para a porta.

Nochsyn pagou o estalajadeiro, Jorki, e então seguiu o minotauro. Já era noite, muito além do ponto mais alto do luar. O hábil ladrão usou das sombras para se abrigar e segui-lo até um galpão velho. O minotauro lançou seu olhar para trás, mas não viu nada e prosseguiu.

—Se está me seguindo, volte amanhã e lute como um homem! E faça o favor de dizer ao seu chefe que não vou pagar! — disse o minotauro.

Nochsyn se sentiu ameaçado, e pensou em avançar, mas seu corpo não aguentaria uma luta, nem mesmo que fosse contra um mendigo. Ele decidiu voltar e dormir.

Uma vez na estalagem, ele alugou um quarto e logo foi se lavar. A água na bacia fora retirada do poço há pouco, por isso estava gelada como a noite; mas seu fedor já estava se tornando insuportável. Depois de limpar-se, ele repousou diante da lareira no saguão, refletindo. Chamando pelo rapaz que servia as mesas novamente, Nochsyn lançou uma pergunta sobre o minotauro, porém, ele nada sabia. Ele não tinha mentira no olhar, estava sendo sincero, mas disse que Jorki o conhecia.

—Nunca me disse seu nome, mas vem aqui uma vez por semana. Ele comparece no mesmo horário há quatro anos. Ele sempre traz consigo um machado de guerra, mas hoje não.

—Ele virá amanhã? — perguntou Nochsyn com a faceta intrigada.

—Duvido muito. Ele não costuma vir mais de uma vez. — respondeu Jorki enquanto limpava um copo de vidro.

Pela ajuda, Nochsyn pagou ao homem algumas moedas de prata, e então subiu para seus aposentos a fim de tentar dormir. Ele passou horas se questionando sobre quem era aquele minotauro.

Na manhã seguinte, despertado pela agitação da cidade, Nochsyn se levantou e seguiu para a rua novamente, mas não sem antes pegar uma caneca de cerveja. O estalajadeiro pediu que o ensinasse a fazer aquela mistura, a mesma da noite anterior, e de bom grado o ladrão o fez; era um homem agradável e não muito mais velho que Nochsyn, embora a calvície lhe clamasse alguns anos.

A estalagem ficou para trás, e o ladrão seguiu pelas ruas. Depois de passar por uma ponte, ele se deparou com o mercado da cidade, recheado com mais raças do que ele podia contar. Depois daquele mar de pessoas, ele chegou à uma viela, e no fim dela a beleza da cidade se acabava. Maus olhares caíam sobre ele, cobrindo-o como uma manta de peles. Ele, enfim, encontrou o galpão da noite anterior. Vozes vinham de lá de dentro, mas não eram minotauros.

O Príncipe MalignoOnde histórias criam vida. Descubra agora