Capítulo IX - A Comitiva

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Nochsyn deitou-se com pensamentos obscuros naquela noite. Mais uma vez, ele sentia sua fé nos deuses sendo abalada. Seres tão poderosos deveriam impedir que males como este elfo acontecessem. Zinon dizia ser o filho de Laryv, o receptáculo do poder de seu pai; seria ele um semideus, o filho de Galeon?

O ladrão se remexeu tanto durante o sono que acabou por acordar Larin.

—Você está intrigado com este elfo, não é?

—Estou. E se ele desejasse atacar Bastilec? Poderíamos combatê-lo?

—Não se preocupe. Quanto mais der atenção para este problema, maior ele se tornará. Lembre-se do que sua mãe dizia.

—Este não é qualquer problema financeiro ou social, Larin! — Nochsyn gritou, porém, calou-se e fez uma breve pausa — Me desculpe. Como você está?

—Estou bem. Preocupada, enjoada e com medo da reunião que farão.

—Tenho certeza que tudo vai ficar bem. É preciso.

Na manhã seguinte, todos no palácio acordaram com a notícia de que Rodan estava meditando no bosque, e o mesmo decidiu que permaneceria duas semanas ali, tentando localizar Zinon. Todos assentiram em adiar a reunião por duas semanas, porém, Nochsyn não aguentou ficar parado.

Thalamar, o capitão da guarda, informou seu rei que suprimentos estavam sendo saqueados ao leste. Não haviam feridos, mas as perdas se tornaram cada vez maiores.

Nochsyn, Leinad e Maximus decidiram fazer uma surpresa aos saqueadores, e embarcaram em uma carroça que seguia a rota ameaçada. Durante dias, o trio permaneceu dentro do espaço pequeno, sofrendo com o cheiro de pasto molhado do minotauro. Quando a carroça parou abruptamente, este era o momento de agir.

O carro parou diante de um baixote encapuzado que gesticulava com as mãos. Sua voz era rouca, como se tivesse passado os últimos vinte anos bebendo e fumando na taverna. Dos arbustos próximos à estrada surgiram figuras em mantos verdes com arcos em mãos.

O trio saltou da carroça e caminhou em direção ao anão que ainda esperava parado na passagem. A armadura de Leinad o cobria dos pés à cabeça, com poucas frestas para ser atacado, e por isso Nochsyn o usou como escudo. Nenhum assaltante tentou disparar uma única flecha, nem mesmo contra Maximus que vestia apenas um manto amarronzado e comprido.

—É a primeira vez que vejo um orc em robes de clérigo. — disse o anão.

—Eu não sou orc, tolo! Eu sou um meio-orc... — dizia Maximus até ser interrompido por Nochsyn.

—Quem é você?

—Jotor Malach. Quem pergunta?

—Pelos Sete Paraísos e Sete Infernos... — Nochsyn não acreditava em seus próprios ouvidos tal como não acreditou em seus olhos — Jotor?

—Sim, sou eu, mas ainda não me disse seu nome.

—Nochsyn Ituzob, seu amigo de infância.

—Nochsyn?!

Nochsyn retirou se capuz e véu e revelou seu rosto. Jotor fez o mesmo, e confirmou a suspeita do humano. Seus traços eram inesquecíveis; voz rouca, nariz imenso, calvície e sobrancelhas mais grossas que o dedo de um troll.

—Não posso acreditar que está vivo! — disse Nochsyn.

—Se eu estou vivo? Você simplesmente desapareceu após o ataque. Se não fosse pelo irmão de Pafert, estaríamos mortos.

—Pafert também está aqui?

—Sim, venham!

Nochsyn o seguiu até o bosque, não muito distante dali, enquanto Leinad e Maximus esperavam na carroça. O ladrão e o anão entraram em um acampamento improvisado de patrulheiros e Guardiões Exilados.

O Príncipe MalignoOnde histórias criam vida. Descubra agora