Capítulo VIII - O Conto do Minotauro

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Leinad nunca contou de onde viera ou sequer de onde conhecia a mãe de Nochsyn, Verfigel, porém, durante seu reencontro ele enfim revelou sua história.

Muitos anos antes da dupla se conhecer, Leinad vivia na cidade de Tarorn, uma cidade de minotauros em Merlix. Nascido e criado lá, aquela pequena cidade era seu lar, porém, fora atacado por sabe-se lá quem. O minotauro era muito jovem quando isso aconteceu, e sua única opção era fugir. Ele nunca descobriu quem atacou a cidade.

O jovem Leinad fugiu para o sul, porém, se viu perseguido por uma criatura horrenda com seis membros. O jovem mal tinha atingido a maturidade, não teria chance alguma. Todavia, para sua sorte, um minotauro maior surgiu com seu machado e escudo e matou a criatura. Leinad nunca soube o nome do minotauro, ao menos, ele não se lembra de saber. O salvador o criou como a um filho, um aprendiz, e foi com ele que Leinad aprendeu a sobreviver da forma mais eficaz: largando-o na floresta.

Leinad tinha cerca de vinte anos nessa época, e a floresta era seu teste final. O jovem minotauro caminhou durante horas até que finalmente conseguiu encontrar algo para comer: um camundongo. Antes que pudesse pegá-lo, o roedor se desfez em uma névoa que preenchia a floresta, e desta bruma surgiram espectros intocáveis que tentaram atacá-lo. Os espectros o levaram para o alto e Leinad estaria morto se não fosse uma voz que rasgou o vento e levou os espectros e a névoa consigo.

Leinad continuou a andar para o norte, até que encontrou uma ravina que se estendia até o limite de sua vista. Ele precisava atravessá-la, mas para isso ele teria de descer pelas pedras. Eram quase quarenta metros de profundidade.

A descida era íngreme, e Leinad estava apavorado, no entanto, ele tinha de continuar. O benevolente destino, ao observar sua tamanha sorte, lhe enviou uma águia que o puxou pelo chifre. Leinad se desequilibrou e escorregou de quase quinze metros, e aterrissou sobre um goblin. O minotauro se levantou e acertou o peito de outro goblin. Ele não tinha certeza de quantos eram, mas sabia que eram muitos. Um deles surgiu com uma pedra enorme e o acertou; o minotauro caiu no chão inconsciente.

—Você foi derrubado por uma pedra e um goblin? — disse Nochsyn às gargalhadas.

Quando Leinad acordou algumas horas depois, ele estava em uma cela escura e suja. Apenas um goblin vigiava sua cela. Durante algumas semanas, ele permaneceu preso, observando o movimento de seus captores.

Em um belo dia — talvez fosse noite, afinal, debaixo da terra se perdem os sentidos —, um guarda vinha lhe entregar comida, e Leinad aproveitou a oportunidade. Ele agarrou a gola de sua roupa de couro e bateu a cabeça do goblin contra as grades até que ele apagasse. Logo depois, com a chave da cela em mãos, Leinad fugiu pelas cavernas pedregosas.

Uma voz lhe guiava pelo túnel, até que encontrou a mesma ravina onde estava. Leinad encontrou dois goblins que urinavam numa poça, e com sua graça ele os atacou. Após o ataque no banheiro dos pequeninos de esmeralda, o minotauro fugiu para as pedras. Com muita sorte, ele conseguiu escalar o paredão da ravina sem ser atingido, e tratou de fugir pela borda da ravina. Após quilômetros, ele enfim encontrou uma passagem velha que atravessava seu impetuoso obstáculo.

Durante dois dias inteiros, Leinad andou sem parar, com fome e sede, seus cascos já não lhe suportavam o próprio peso. Porém, no horizonte, um acampamento brilhava na noite. Era essa a sua salvação. Nesta época, os minotauros não estavam em guerra — de novo — com o Império.

Era um acampamento de soldados imperiais ajudados pelos elfos de Rofnor. Conflitos com monstros estavam cada vez mais comuns. Leinad encontrou abrigo e alimento entre os homens e orelhas-pontudas.

Havia uma elfa ali, a mais bela dentre todas. Seu cabelo era prateado, mas haviam fios de ouro entre eles. Aquela elfa se aproximou de Leinad, e, com um toque suave em seu ombro, despertou sua atenção.

—Todos merecem uma segunda chance, não acha? – disse a doce elfa.

—Foi você quem me salvou? – questionou o minotauro.

—Eu? Como eu poderia ter feito isso, Leinad? – disse ela com um agradável sorriso — Não se preocupe, aproveite da boa comida. Eu me chamo Verfigel, e espero o melhor entre nossos povos.

—Como sabe meu nome?

—Vá descansar, é o melhor que pode fazer.

Verfigel. Ela tinha esse péssimo hábito de salvar pessoas próximas da morte. A elfa sorriu e caminhou de volta para alguma tenda, e Leinad permaneceu no acampamento por mais um dia. Pouco após sua partida, ele soube que trolls e goblins cercaram as forças armadas, mas uma tempestade de trovões afugentou-os. Após isso, Leinad vagou sem rumo. O teste final era a vida.

Porém, apesar de ser lançado à própria sorte, Leinad viu a chance de conhecer parte do mundo. Por alguma bizarra coincidência do destino, o minotauro encontrou o Vale de Merliodel, onde fora muito bem recebido pela mesma elfa que o encontrou anos antes. Leinad decidiu fixar-se, e escolheu Breffea para morar. Durante vários invernos, ele viveu na cidade, matando ameaças locais e bebendo na mesma taverna.

Após ter conhecido Nochsyn e sua suposta morte na Cidade das Nuvens, Leinad fora arrastado para fora da gruta enquanto ainda estava inconsciente. Um meio-orc o salvou, e o levou em segurança. Leinad pensou em retornar para o amigo, mas ele já havia encontrado alguém para dividir os pensamentos, e certamente encontraria um companheiro de aventuras que não fosse procurado pelo império. Durante estes anos, ele manteve sua rotina em Geirod, o país do gelo mágico. Matar, beber, dormir. Quando fora atacado pelo elfo apresentado como Zinon, ele teve de buscar ajuda em Rofnor, em Bastilec. Quando passou por Breffea, até encontrou um minotauro por lá, mas este morreu pelas mãos da milícia local. Thanator era seu nome, um belo nome, inclusive.

Enquanto Rodan organizava uma nova reunião do Alto Conselho Branco, Leinad e Nochsyn tentaram treinar o meio-orc nas artes do combate, porém, ele tinha a maestria de uma pedra. Por incrível que pareça, o autoproclamado paladino tinha certa aptidão para a magia, porém, isto estava além do alcance dos amigos. Maximus decidiu, por conta própria, abandonar a espada e o escudo, abraçando os mistérios infindáveis da magia.

Rodan enfim conseguiu sua reunião. O próprio imperador, o rei dos elfos e o senhor dos anões se reuniram a fim de encontrar uma solução para este problema. . Era hora de acabar com este conflito, era o tempo de uma Guerra pela Liberdade.

O Príncipe MalignoOnde histórias criam vida. Descubra agora