Capítulo XVIII - O Primeiro Andar

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A comitiva estava avançando com cautela, pois as forças de Zinon poderiam estar por perto, e este era um risco ao qual não podiam se dar ao luxo de correr, não nesta etapa da jornada. O grupo adentrou ao bosque que cercava a torre, e seguiram sua trilha; era como um corredor feito por árvores e vegetação rasa, e havia certo sabor mágico no ar. Não se ouvia o volitar de pássaros nas copas esmeraldas, ou sequer o farfalhar de pequenos roedores e criaturas rastejantes ao sopé dos troncos maciços. Aqui, abaixo das facetas de gigantes do passado, as árvores não envelhecem, nem nascem, elas apenas existem como sempre existiram.

Os cavalos certamente não poderiam adentrar à torre, e por isso ficaram soltos e livres de seus arreios. Não tinham para onde ir, porém, teriam comida de sobra. Os corações pesaram ao deixar os animais na entrada, mas precisavam continuar. Nochsyn foi o que mais relutou em deixar Liroled, pois criara um imenso carinho pelo animal.

—Voltaremos em breve. — disse Jotor — Tenho certeza que ficarão bem.

Diante da comitiva, uma escadaria com cem degraus levava até uma porta cinzenta, desbotada como as pedras ancestrais que formavam este lugar. A porta era feita de madeira, e não possuía uma única fechadura, mecânica ou mágica. Entretanto, Maximus conseguiu falhar em abri-la tentando empurrá-la; Nochsyn, por outro lado, girou a maçaneta.

A porta se abriu para um extenso corredor, e tochas se acenderam quando a luz de fora tocou o piso de mármore negro. Havia uma bela decoração presa às paredes, remetentes de tempos imemoriais, tempos onde a escrita usava de glifos, e não runas e letras. Estandartes estavam despojados ao longo do corredor, e representavam o povo marvalense e suas forjas poderosas.

O corredor seguia uma linha reta, até uma porta, e esta possuía uma tranca. Leinad tentou arrombá-la aos golpes de seu machado, porém, a porta repeliu o ataque. Era uma tranca mágica, e apenas Nochsyn poderia desarmá-la.

—Todas as trancas mágicas são diferentes. Teremos dois resultados aqui. Se eu conseguir, passaremos sem risco algum, porém, se eu não conseguir, poderemos explodir com algum tipo de armadilha.

Quando Nochsyn se virou para discutir o plano com seus amigos, os demais estavam há pelo menos cinco metros de distância, aguardando pacientemente e com sorrisos que transpareciam medo ao invés de apoio.

Nochsyn respirou fundo, pegou seu estojo de gazuas e inseriu as ferramentas. Para isso, uma gazua comum não bastaria, então teve de usar itens que anulassem a magia. O dinheiro não traz felicidade, mas encanta itens com qualquer magia que puder imaginar. Era um trabalho difícil, com muitas camadas a serem desbloqueadas, mas Nochsyn foi bem-sucedido ao ouvir um doce e costumeiro clack.

O ladrão sorriu por baixo de sua máscara, e logo se virou para seus amigos. A porta se abriu, e a expressão de alegria em seus rostos transformou-se em uma mistura de medo e ira, salpicada com uma pequena pitada de adrenalina. Um pequeno grupo de silhuetas malcheirosas estava logo atrás da porta, e atacaram o grupo quando os avistaram.

Nochsyn rolou para frente, antes que fosse mordido por uma das criaturas. Agora iluminadas pelas tochas bruxuleantes, as silhuetas se revelaram mortos-vivos que um dia foram humanoides com os peitos repletos vida. Ao se lutar contra estas criaturas, deve-se ter um cuidado especial, pois uma mordida não o transformará em um deles, mas certamente causará um sangramento que poucos clérigos seriam capazes de parar. E este grupo não possui sequer um mago.

—Acertem as cabeças! — disse Nochsyn.

Com a espada em mãos, Nochsyn foi o primeiro partir o crânio do inimigo. Com um golpe vindo de cima, ele abriu a cabeça do morto em duas metades, e sequenciou seu ataque com uma decapitação contra outro. Leinad estava correndo para ajudar o amigo, pois eram muitos para que apenas o ladrão pudesse conter. Entretanto, o minotauro mal conseguiu dar três passos largos; um feixe brilhante atravessou o corredor e atingiu um dos mortos-vivos, atingindo outro, e outro após este, até que não restasse uma única criatura. Todos os mortos foram pulverizados, como se nunca antes tivessem estado ali. Ao fundo, Maximus tinha um grande livro aberto e seus dedos expeliam uma fumaça intoxicante e de odor agradável.

O Príncipe MalignoOnde histórias criam vida. Descubra agora