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DULCE MARIA

Estou atolada de trabalho, já que com toda essa história de casamento, eu deixei muita coisa acumular. Tenho dezenas de planejamentos de campanhas publicitarias para organizar, mas a conversa que tive com Christopher não sai da minha cabeça e resolvo usar meu horário de almoço para conversar com minha mãe, porque tenho certeza que ela pode saber de algo que não sei.

Lembro que ela e a Alexandra viviam juntas, por isso Christopher e eu sempre estávamos juntos também, não é possível que eles tenham apenas ido embora sem ninguém saber o motivo.

Oi filha! Está tudo bem? — sua voz soa preocupada.

— Não me diga que Paco ligou para você?

Não, a mãe dele ligou fazendo um escândalo — bufo irritada.

— E o que a senhora disse?

Que se fosse por mim, você podia ter largado o filho dela no altar que eu não mexeria um dedo para impedir — não consigo evitar rir, minha família nunca gostou muito do Paco — Você está bem mesmo?

— Sim! Foi a melhor decisão que já tomei. Não estava feliz com ele e me casar assim seria uma péssima ideia. Agora eu estou ótima, na verdade.

Fico feliz que se deu conta disso a tempo, eu estava realmente preocupada com você, se apagou tanto nesses anos... — suspiro pesadamente.

— Eu sei, mas não liguei para falar sobre isso... Na verdade, queria te perguntar algo.

O quê, meu amor?

— A senhora se lembra do Christopher?

Christopher? Esse nome não me parece estranho, mas não consigo me lembrar de onde o conheço...

— O nosso vizinho, filho da Alexandra...

Ah! Christopher Uckermann! Claro que me lembro, você era apaixonada por ele! — diz animada.

— Não era não...

Vocês se casaram embaixo da casa na árvore, lembra? Usou um vestido azul e uma coroa de flores que Alexandra fez para você, eu fiz um bolo de churros que ele amava e as alianças viravam pirulitos — fala empolgada, me fazendo rir.

— É, eu me lembro bem dessas coisas, mas eu tinha onze anos, não sabia nem o que era paixão, no máximo, eu gostava um pouquinho dele.

Você dizia o nome dele mais do que qualquer outra palavra — retruca rindo.

— Vamos ao foco, por favor — digo envergonhada — Porque eles foram embora daquele jeito? — minha mãe suspira longamente.

Por causa do Victor, o pai dele. Alexandra fugiu depois uma briga, ficou com medo que ele fizesse algo grave com o Christopher. Vocês ainda eram muito crianças para notarem essas coisas, mas Victor era violento, por isso Christopher vivia em nossa casa, Alexandra o mandava para lá para não presenciar as coisas... — mordo o lábio inferior e sinto um aperto no peito.

Eu realmente não consigo me lembrar dessas coisas, o pai dele não é tão presente em minhas lembranças, mas dói imaginar que Christopher esteve em perigo dentro de sua própria casa.

— Me lembro deles terem se divorciado...

Não exatamente. Alexandra o mandou embora, foram alguns meses de paz, depois ele voltou e ameaçou levar o Christopher com ele, então ela vendeu a casa em silêncio e partiu.

— Se tudo foi planejado por ela, porque não se despediram?

Eu não sei, meu amor. Talvez Victor tenha aparecido de surpresa e ela fugiu antes que ele levasse Christopher... Porque está me perguntando essas coisas?

— Christopher me ligou, ele voltou para cidade e quer me reencontrar, mas eu não sei... Faz tantos anos e foi tão estranho a forma que foram embora.

Alexandra também voltou? Sinto falta dela!

— Não conversamos sobre isso, ele evitou falar sobre ela... Acha uma boa ideia eu sair com ele?

Christopher sempre foi um bom menino e você passou anos olhando pela janela esperando que ele voltasse... Não deixe essa oportunidade passar, vocês tinham uma amizade tão linda... Quem sabe se casam de verdade, dessa vez. Sempre sonhei com isso — diz empolgada.

— Mamãe! — a repreendo — Eu não o vejo há vinte e quatro anos e você já está falando em casamento?

Esperança é a última coisa que morre, querida! — rolo os olhos.

— Acabei de terminar um noivado, não pretendo estar com alguém de novo tão cedo... Agora preciso ir, mamãe! Te amo!

Me despeço de minha mãe e desligo o celular, ainda tenho vinte minutos de descanso, abro o aplicativo para enviar uma mensagem à Christopher, mas resolvo ligar no último minuto.

Dulce? — pergunta surpreso e sorrio.

— Sexta, às vinte horas.

Opa! — diz animado.

— Não se anime muito, vamos à um bar beber umas cervejas e comer comida de boteco. Preciso ter certeza que não está planejando me matar — brinco, fazendo-o gargalhar.

Escolher um local público e cheio, já fez me fez entender isso — responde rindo — Se quiser levar alguém, eu vou entender...

— Não vou levar ninguém e nem quero que você leve alguém. Temos muito assunto para colocar em dia. Quero atenção exclusiva, querido!

Realmente somos casados, você já está até me dando ordens! — provoca. Mordo o lábio inferior querendo prender o riso.

— Vou te mandar o endereço por mensagem. Não se atrase, bonitinho!

Pode deixar, bonitinha.

Sorrio largamente quando encerro a chamada. Minha mãe estava certa, passei muitos anos olhando pela janela esperando-o voltar em muitas datas importantes para mim que eu queria sua presença. Nós tínhamos uma amizade linda que talvez pudéssemos retomar.

Amor de InfânciaOnde histórias criam vida. Descubra agora