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DULCE MARIA

Confesso que fiquei um pouco sem graça com as coisas que Christopher me disse, eu sabia que íamos voltar a nos encontrar, mas não pensei que íamos marcar um segundo encontro para amanhã mesmo... Segundo encontro? Isso não foi um encontro, por Deus! Estamos tentando apenas retomar uma velha amizade, apenas isso.

Abro o chuveiro e espero a água esquentar antes de entrar debaixo dela. Tomo banho tomando todo o cuidado para não molhar meu cabelo, que está preso em um coque frouxo. Enquanto conversava com Christopher, eu tirei toda minha maquiagem, não pensei que ele fosse me ligar, mas já percebi que ele é imprevisível em algumas coisas, tipo reaparecer depois de vinte e quatro anos.

O encontro... Digo, nossa noite foi extremamente divertida. Não menti quando disse a ele que fazia muito tempo que eu não me divertia desse jeito, todo o nervosismo que eu sentia com esse reencontro, se esvaiu ainda nos primeiros minutos, depois disso tudo se tornou leve e tranquilo. Era como quando éramos crianças e passávamos horas conversando em meu jardim.

Visto meu pijama e deito em minha cama, mas estou inquieta e não consigo dormir. Talvez eu possa mandar uma mensagem para Christopher, caso ele ainda esteja acordado...

— Nem pensar nisso — balanço a cabeça.

Levanto da minha cama e saio do meu quarto, atravessando o corredor e entrando no quarto de Christian sem bater na porta. Nós sempre avisamos em nosso grupo quando estamos acompanhados, então sei que Anahí é a única que não vai dormir sozinha essa noite.

Christian está dormindo, mas nem me importo com isso, deito ao seu lado e puxo a coberta para me cobrir, fazendo-o se remexer e abrir os olhos lentamente.

— Que horas são? — pergunta sonolento.

— Três e quinze — respondo o abraçando.

Christian e eu também somos amigos desde que nascemos, costumávamos formar um trio e tanto com o Christopher, minha mãe sempre ficava louca quando aprontávamos, mas era com Christopher que eu passava a maior parte do tempo, já que ele praticamente vivia em minha casa. Agora eu consigo entender que ele ia para fugir das brigas dos pais, que Alexandra o mandava para mantê-lo em segurança. Quando ele foi embora, parecia que eu tinha perdido uma parte de mim, uma parte nunca recuperei completamente...

Christian e eu nos tornamos uma dupla inseparável e conhecemos Anahí durante a faculdade e não nos separamos mais. Era muito comum dormirmos juntos, às vezes os três agarrados na mesma cama, depois de muita fofoca durante a noite, algo que Paco nunca soube ou teria infartado. Se já costuma jogar indireta sobre eu não ser mais uma adolescente para dividir apartamento com os amigos e blá blá blá, o que ele nunca entendeu é que eles não são apenas meus amigos, são minha família também.

— Chegou agora?

— Basicamente...

— Como foi o encontro?

— Não foi um encontro... — ele resmunga ao meu lado e sorrio sabendo que ele não pode me ver — A noite foi divertida, nem parecia que tinha tanto tempo que eu não o via, Christ. Eu me senti leve, sabe? Leve como a muito tempo não me sinto...

— Vinte e quatro anos, na verdade...

— Como assim? — pergunto confusa.

— Você nunca o esqueceu de verdade...

— Não sou apaixonada por ele, Christian — o interrompo.

— Eu sei disso, mas não o esqueceu. Vocês eram inseparáveis e se eu senti falta dele por todos esses anos, você deve ter sentido muito mais...

Amor de InfânciaOnde histórias criam vida. Descubra agora