Amor de Infância

05

DULCE MARIA

— Ei, achei você! — Christopher diz ao abrir a porta da sala de tv e sorrio para ele — Está tudo bem?

— Amo minhas sobrinhas, mas dormi menos de seis horas nas últimas duas noites, então não tenho a energia delas e não aguento mais tomar chá de mentirinha — digo, fazendo-o rir levemente e sentar-se ao meu lado.

Ver Christopher no meio da minha família, me levou de volta ao passado mais uma vez e senti muita falta de Alexandra ali também. Vê-lo rir com meu pai, ser paparicado por minha mãe, brincar com minhas sobrinhas e jogar baralho com meus cunhados, me fez ter mais certeza ainda que a melhor decisão que tomei foi cancelar o casamento.

Minha família nunca gostou de Paco, mesmo que nunca tenham me dito nada até eu cancelar o casamento, eu sempre soube. E Paco também não gostava muito de vir aqui, sempre inventava desculpas para irmos embora logo depois do almoço, não fazia muita questão de socializar, sempre reclamava de dores de cabeça por todos falarem alto e as meninas gritarem o tempo inteiro, mas é a minha família e eu sempre amei nossa união... O que aconteceu comigo? Por que deixei outra pessoa me mudar tanto?

— Tem certeza de que você está bem?

— Tenho! — sorrio de lado — Estou apenas cansada.

— Para ser sincero, eu também estou — recosta a cabeça no encosto do sofá e suspira — Se eu beber mais uma cerveja, vou dormir em pé.

— É só não beber...

— Não quero fazer desfeita ao meu sogro depois de tantos anos — brinca ao me olhar e rio levemente.

— O que você acha de irmos embora?

— Pensei que fosse passar o dia aqui...

— Já são quase cinco horas, passamos a maior parte do dia... Podemos trocar a cerveja por um sorvete de chocolate.

— Não! Não! Não! — repete balançando a cabeça e o olho confusa — Não me diga que você ainda acha sorvete de chocolate o melhor, eu quero o divórcio...

— Você ainda prefere sorvete de morango, bonitinho?

— Claro que sim!

— Eu é quem vou pedir o divórcio depois dessa! — faço careta — Vamos? — ele assente.

Eu preciso esperar quase trinta minutos para minha mãe se despedir de Christopher, repetindo mil vezes para ele voltar o quanto antes e acabo rindo quando ela aperta suas bochechas e diz o quanto ele está bonito, porque Christopher fica nitidamente sem graça e suas bochechas coram de um jeito adorável.

Nós pedimos um Uber e o levo até a minha sorveteria favorita que fica em uma praça no centro da cidade, um lugar lindo que não viemos ontem e já podemos aproveitar para passear um pouco. Eu pareço voltar um pouco no tempo quando ele pede duas casquinhas gigantes, uma de morango para ele e uma de chocolate para mim, porque fazíamos isso todo domingo depois do almoço na sorveteria que tinha em nosso bairro.

— Quer sentar ou caminhar um pouco? — pergunta quando me entrega a minha casquinha.

— Vamos caminhar, aproveitar que sol está quase se pondo... — ele concorda.

Nós começamos a caminhar pela praça tomando nossos sorvetes e conversando sobre assuntos aleatórios, algo que temos feito bastante nos últimos dois dias. Estamos curiosos sobre cada detalhe da vida um do outro, eu sinto uma necessidade estranha de querer contar a ele tudo o que me aconteceu nesse tempo que ficamos afastados e ele parece ter a mesma necessidade, falamos sobre relacionamentos antigos, filmes e séries que já assistimos, músicas que gostamos.