Parte I - Lídia:. 2
O impacto acertou em cheio o peito de Lídia, lançando-a a quase dez passos em pleno ar. A vampira caiu de costas e rolou pelo salão.
Um borrão branco de metal e cabelo que terminou caído de barriga para baixo e o rosto colado contra o piso de pedra.
"Ai."
Graças à armadura, a maior parte da energia foi dissipada, mas mesmo assim seu tórax sentiu perfeitamente o soco. Se ainda precisasse respirar, uma ofensiva dessas teria acabado com essa necessidade.
A vampira pôs-se de pé e olhou para o outro lado do aposento com seus olhos cor de aço. Removeu os fios prateados do rosto jogando-os para trás da orelha, notando que ao rolar pelo chão, perdera sua fita de cabelo.
"Ainda bem que a minha cabeça não foi junto", pensou.
Era possível ver que sua armadura parecia favorecer suas curvas, mesmo cobrindo praticamente todo o corpo. Com exceção de algumas frestas e de sua cabeça, ela estava lacrada dentro de uma carapaça imaculadamente branca. Somando-se isto à cor de sua pele e dos cabelos repicados, que mal chegavam a tocar os ombros, Lídia era uma silhueta completamente oposta à cor reinante no salão e, principalmente, da outra figura parada à sua frente.
Sua oponente acabara de remover magicamente sua armadura negra, fumaça cor de piche dissipando-se ao redor dela, e agora se vestia da maneira mais inapropriada para um duelo. Com um vestido rodado que terminava no meio das canelas, de corpete justo e de alcinhas, somadas a duas luvas que cobriam seus braços até a altura do bíceps, ela parecia mais preparada para um baile.
A roupa de tecido preto contrastava com a pele de marfim. Seus ombros, pescoço e a parte dos seios visível pelo decote estavam todos expostos, parecendo flutuar contra o fundo.
Mesmo Lídia não sendo caracteristicamente orgulhosa, doía-lhe ver a facilidade com que perdera. Ainda mais considerando a faixa de tecido negro que cobria os olhos de sua mestra, pressionando contra sua cabeça uma catarata de molas acobreadas.
Ao redor das duas mulheres e pelo salão, uma dúzia de colunas da largura e meia de um adulto se espalhavam sem uma ordem muito clara, parecendo mais terem sido plantadas ao acaso do que deliberadamente construídas. Várias se viam rachadas ou com pedaços faltando. O chão lembrava uma obra em andamento.
Com um estalar de dedos, a figura ruiva ativou o encantamento temporal que permeava todo o espaço. Cada fragmento e partícula de pó refez seu percurso ao contrário até terminarem em suas posições originais. Rachaduras encolheram até sumir, pedaços voaram do piso e se fundiram aos seus locais de origem, nuvens de pó se ergueram e foram sugadas para seus pontos de origem, tudo se movendo de acordo com as forças atuantes, mas em reverso.
Em instantes, o salão voltou ao seu estado inicial.
Embora a magia não mexesse com o tempo de fato, a semelhança era suficiente para o nome pegar.
– Como eu venci você? – perguntou a ruiva, tranquila. Com as mãos juntas à frente do corpo, ela permaneceu imóvel, mantendo o rosto voltado para sua aluna mesmo que seus olhos não pudessem vê-la. Os pés descalços unidos fechavam sua semelhança com uma estátua de anjo, faltando-lhe apenas as asas.
– Você é muito rápida – respondeu Lídia sentindo o diafragma pulsar em dor.
– De fato. No meu estado natural, eu realmente sou bem veloz – concordou a outra em sua maciez. – Mas se você conseguisse controlar o uso do sangue da mesma forma que já controla seu poder inato, você conseguiria me derrotar.
Seguindo a orientação, mas não da maneira a que Tsadkiel se referia, Lídia curou seu esterno e suas costelas trincadas em um movimento mental rápido. Infelizmente, ela pensou consigo mesma, essa facilidade em transformar seu sangue em cura não se traduzia em ataques.
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Anjos e Vampiros - A Filha da Vampira
FantasyAMOSTRA GRÁTIS. VERSÃO COMPLETA DISPONÍVEL SOMENTE NA AMAZON. *Finalista do Prêmio Wattys 2022* Freya é uma vampira que quer se reencontrar com sua filha humana. ...o que naturalmente traz algumas dificuldades. Primeiro, humanos tendem a não gostar...