Parte I - Hefesto e Lena:. 9

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Parte I - Hefesto e Lena:. 9

A dobradiça da porta chorou ao mover-se, abrindo passagem cozinha adentro para Lena e Alina. As duas entraram cobertas por roupas de frio, a primeira carregando um porco inteiro sobre um ombro e uma expressão zombeteira no rosto, a segunda exibindo pálpebras arrogantemente pesadas e uma ruga ao lado do nariz como se estivesse acabado de lamber um dos cogumelos.

Os cabelos dessa última, cuidadosamente desarrumados, pareciam não ter se decidido sobre sua cor.

Por razões desconhecidas, nem sempre as cores originais eram mantidas após a transformação. Freya continuara loira, mas Lídia e Lena, por exemplo, perderam as suas colorações para se tornarem uma grisalha e a outra, morena.

Já com Alina isso não ocorreu. Seus cabelos cresciam em mechas brancas aqui e pretas ali, dando-lhe uma aparência curiosa.

– Ei, Lídia, quer ver um porco congelado? – Gritou Lena e, ato seguinte, jogou, com apenas um braço, o animal inteiro sobre a mesa central da cozinha. O impacto ressoou pelo espaço e vibrou tudo que havia ali em cima, tilintando as canecas e sacudindo as verduras.

– NÃO! – Exclamaram o gigante e a vampira branca ao verem o corpo esmagar o que havia atingido.

Lídia empurrou o porco semi-rígido mais pesado que ela para o lado e verificou os danos. Concluiu, com alívio, que o golpe apenas amassara as folhas, deixando intacto todo o restante. Inclusive a mesa.

Você ficou louca?! – Reclamou Hefesto.

– Ah, não enche o saco. Parem de choramingar, não estraguei nada.

– Mas podia! – Retrucou a vampira branca.

Podia! Mas não aconteceu, então relaxem. Não vou tacar outro porco. Eu só tinha um.

Lena, apesar da beleza, tinha em suas feições todas as marcas de sua personalidade, manifestadas em traços de ironia que se revelavam num sorriso enviesado e olhos em constante provocação.

Era estranho vê-la com as curvas abafadas pelas camadas do casacão negro, acostumados que estavam os demais com o tanto de pele exposta através do seu guarda-roupa minimalista. Ao contrário das silhuetas esguias e altas de Lídia e Freya, a morena era ligeiramente mais baixa, de corpo esculturalmente torneado, com uma cintura fina e músculos firmes.

Sua bunda e coxas eram assuntos recorrentes na metade masculina do grupo.

Sob o efeito do calor ambiente, Lena começou a despir-se das roupas de frio, sacudindo os cabelos da cor do carvão, que desciam num véu de seda até o meio das costas.

– "Geadinha", eu soube que 'cê vai morar com a Freya, é verdade? – A potência e a aspereza de seu tom de voz era seu caráter e personalidade em forma de som.

"Obrigado, Lena..." Lídia contraiu a boca.

Alina, cujo rosto gerava antipatia imediata, também começou a remover suas pesadas roupas de frio, enquanto suas íris lilases se focaram em "geadinha". De olhos semi-cerrados em constante julgamento, ela parecia ter nojo de tudo e de todos.

– Pois é, então, vou me mudar amanhã. Como não tenho muita coisa, só um baú, vai ser rápido, – a vampira branca lutava para manter-se o mais natural possível enquanto buscava uma brecha para mudar de assunto.

Lena sorriu enviesado, já com a barriga e as pernas vazando nuas pela saia curta e pelo que parecia uma blusa folgada que cobria apenas os braços e os seios. Jogando displicente os casacos no chão, em um canto fora do caminho, ela disse rindo:

Anjos e Vampiros - A Filha da VampiraOnde histórias criam vida. Descubra agora