1 - ¡No, me rindo!

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Dentro do carro, a observar tamanho luxo que o rodeava, Alfonso mantinha os pensamentos perdidos. O relógio caro no pulso esquerdo, os sapatos de grife, aquele carro do mais puro conforto e requinte, luxuoso e cheirando a novo pelo tão pouco tempo que tinha sido tirado da loja... E nada fazia sentido, pelo menos não naquele momento em que se encontrava. Incrível como a vida podia ser tão generosa em certas áreas, e tão cruel em outras. Ele suspirou, voltando os olhos para o lado de fora daquele carro, deixando que seu pensamento se concentrasse somente nas gotas grossas e pesadas da chuva que caia do céu de Manhattan, e apenas seguiu o caminho que precisava seguir.

Anahí estava impecável, como sempre era. Os cabelos em um rabo de cavalo sem a menos um fio fora de lugar, maquiada na medida em que deveria, a camisa de seda azul perfeitamente em ordem com a saia lápis preta e o Loubottin nos pés... Quem a via de longe pensaria em quão espetacular ela estava. E estaria, se não fossem os olhos opacos e sem vida que não tinha meios de esconder. Estava séria, o olhar ao longe – bem longe daquela sala, – quando o viu entrar acompanhado do advogado. Baixou os olhos, pela primeira vez desde que chegara ali, sentiu os ombros se encolherem e o coração bater tão forte que poderia ser ouvido até mesmo pelo juiz na sala ao lado. Tremeu quando sentiu o olhar dele sobre ela, queimando cada molécula de vida que ainda lhe restava, mas não foi capaz de encará-lo. Seria demais para ela, e ela sabia.

– Vamos, está na hora. – a voz da advogada a tirara da bolha em que entrara. Anahí assentiu, engolindo a seco e se levantando. Num único suspiro vestiu novamente a postura anterior, dura e imbatível, deixando os saltos do sapato ecoarem pelo pequeno corredor até a sala do juiz. E foi nesse momento que Alfonso sentiu o corpo inteiro arrepiar.

Sentaram-se frente a frente, com apenas a mesa de madeira os separando. Aqueles poucos centímetros que os levava ao fim.

Maldivas, anos antes.

Estavam os dois deitados na areia, sentindo a brisa do mar e a calmaria daquela noite quente, naquele lugar que eles apelidaram de paraíso. Alfonso suspirou, sorrindo ao perceber que ela sorria também. Haviam tido um dia cheio, muitos passeios, lugares a conhecer... Ele simplesmente queria entregar o mundo todo nas mãos dela, qualquer coisa que a fizesse dar mais um daqueles sorrisos seria a razão do seu. Ali, deitados frente à aquele mar imenso, ele constatou que nada mais faria sentido na vida dele, se ela não tivesse ao seu lado.

Alfonso: Eu amo você. – finalmente disse as palavras que vinha prendendo desde que a vira pela primeira vez. Anahi sobressaltou-se, os olhos azuis iluminados e incrédulos o encararam e ele riu da expressão que ela tinha. – Sim, eu amo você, Anahí. – sentou-se, puxando-a para que fizesse o mesmo, e a encarou. – Amo seu sorriso, sua forma de ver o mundo, seu jeito de olhar quando fica desconfiada com algo. – ela baixou os olhos, sentia as lágrimas a vir. – Amo como você me faz ver a vida mais leve, mais bonita, com mais valor a ser vivida. – ele puxou-a para perto. – Amo quando você fica assim, sem jeito, e baixa a cabeça pra não me mostrar que está emocionada. Eu amo tudo em você garota, cada mínima parte que te pertence, pertence agora ao meu amor. E eu amo você.

Um toque a fez saltar. Sentira uma mão gelada pegando na sua, de forma delicada, mas ainda assim fria demais para ser a dele.

– Está de acordo com as exigências do senhor Herrera? – a advogada lhe questionou, mas Anahi sequer tinha ouvido quais eram as exigências em questão, apenas assentiu fraca, e isso permitiu que o juiz continuasse. Ela então se deixou levar pela imagem dele frente a ela, os olhos inquietos entre o relógio no pulso e o da sala em que estavam, o corpo balançando sutilmente pelo pé que ele movimentava impaciente.

– Seguindo está audiência. – a voz do juiz mais uma vez foi ouvida dentro da sala. – É de ciência de ambos a decisão da separação, tendo em mente que o processo, assim que assinado, é irreversível e irrevogável? – Anahi respirou fundo. Durante aqueles meses em que estivera decidida de tal ação, não imaginou em nenhum momento como se sentiria quando o dia de assinar os papéis chegasse. E ela estava em frangalhos, completamente oposta a tudo que tinha como convicção antes de estar ali.

Sob o Céu de ManhattanOnde histórias criam vida. Descubra agora