Relationships

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Tudo que eu fiz pelos próximos detestáveis segundos foi completamente no automático. Passei pelo meu pai, sentei-me na minha cama com a cabeça abaixada e os olhos já marejados. Percebi que Slash havia sentado ao meu lado, tão tenso quanto eu. O clima naquele lugar não podia ser outro.

Meu pai fechou a porta assim que Paolo adentrou o cômodo, ambos em silêncio. Parecia até uma cena de filme de terror barato, e isso até me faria rir, se eu não estivesse tão nervosa. Eu já sentia que as coisas não terminariam bem.

— Antes de dizer alguma coisa, eu vou dar uma chance para vocês abrirem o jogo comigo. — Ouvi a voz do meu pai, totalmente dura. Aquilo fez com que eu fechasse os meus olhos com força. Não ousaria abrir a minha boca para dizer um "a". — Estão sem coragem? É engraçado, tiveram muita coragem ao planejar essa viagem.

— Eu sinceramente não estou entendendo o que o senhor quer dizer, Sr. Moore. Não entendo o que há de errado. — Slash disse com a voz surpreendentemente firme.

— Oh, não entende? — O mais velho riu. — Deixe que eu te explico. Paolo veio até aqui para ajuda-los na questão das coisas que foram roubadas, certo? Bom, eu esperava que essa fosse a minha única preocupação nessa história, mas as coisas mudaram um pouco quando ele me contou que havia outras malas no quarto da minha filha. — Isaac andava de um lado para o outro, mas eu só observava os seus pés que estavam calçados com um elegante sapato social. Não queria olhar para cima, por mais difícil que estivesse sendo segurar as lágrimas naquela posição. — Fiquei um pouco confuso, afinal, a viagem era apenas ela e o guia turístico, não seria possível que os dois ficariam no mesmo quarto de hotel. — Ele riu, desacreditado. — Mas é claro que isso aconteceria. Não existe nenhum guia, muito menos uma viagem na Austrália para estudos. Como você pôde arquitetar tudo isso, Kimberly?

— Pai... — Murmurei, sentindo as primeiras gotas de água salgada caírem pela minha bochecha. Estava na hora de olhar em seus olhos. — Eu...

— Esse homem não se chama Saul Wright. Saul Hudson. — Ele travou o maxilar, segurando a sua fúria. — Um idiota que mora em Los Angeles e tem algumas passagens na polícia por drogas.

— Ei, eu nunca...

— Você não está no direito de rebater qualquer coisa que eu diga, rapaz. — Meu pai cortou-o, enojado. — Me diga, o que você realmente faz da vida? Como se sustenta?

— Eu... — Slash fitou-me brevemente e depois continuou encarando o homem com firmeza. — Eu sou guitarrista em uma banda de rock.

A primeira reação do meu pai foi arregalar os olhos, e em seguida, ele riu. Riu tão alto que chegou a me assustar um pouco e fazer meu coração acelerar ainda mais, se é que isso fosse possível. Suas gargalhadas eram assustadoras.

— É claro que sim, claro que sim! Como eu não percebi isso antes? — Ele questionou, debochado. — Eu posso apostar todo o meu dinheiro que você é um dos caras que moram com a Débora em Nova York. Um dos idiotas que a minha filha conheceu quando foi para lá.

— Pai, por favor, nós não precisamos continuar com essa conversa, tudo bem? Eu assumo que errei, por favor, vamos esquecer...

— Kimberly, cala essa boca! — Isaac gritou em minha direção, furioso. Aquilo fez com que eu me encolhesse um pouco involuntariamente. — Não estou falando com você, sua abusada! Estou tendo um papo com esse... homem.

— Sim, eu sou um dos amigos do tio da Débora, dono da casa que ela está morando. Conheci a Kim quando ela foi passar alguns dias lá, e se me permite dizer, sua filha é a garota mais incrível que eu já conheci em minha vida. Sei que fizemos bastante coisa errada para estarmos aqui hoje, mas isso só aconteceu porque... bem, eu posso dizer com certeza que estou apaixonado por ela. — Slash disse, totalmente neutro. Eu fiquei completamente surpresa com a firmeza que ele estava tendo em dizer tudo aquilo que eu não conseguia. Ele estava tentando por nós.

You Could Be MineOnde histórias criam vida. Descubra agora