Just For You - Joe and Cherry SK8 The Infinity

Capítulo 04

No dia seguinte mal tive a chance de conversar com Kaoru, Shindo estava muito empolgado com as notícias, suas tias permitiram que ele usasse o terreno como bem quisesse, e que ao atingir a maior idade elas passariam a posse do local para o seu nome.

Eu queria poder falar a sós com Kaoru, mas cada tentativa era interrompida por um aluno pedindo informação, um professor que me chamava além de Shindo que estava sempre gritando e nos empurrando com toda a sua euforia. Eu estava prestes a desistir.

— E-Ei, você precisa de algum material especial para cozinhar? – Ele falou comigo? Então ele não me acha um estranho que cheira cabelo?

— Não, só o necessário.

— OK. HM. Ei Shindo! Kojiro vai cozinhar para mim nesse sábado, você vem, não é?

— Como assim cozinhar? É óbvio que eu vou, a comida do meu mano é ótima.–  Enquanto fala ele desliza os dedos por algumas mechas soltas do cabelo de Kaoru. Me sinto mal, preciso sair daqui.

Está apaixonado por alguém deveria ser um momento único , mas por que dói tanto aqui dentro?  Por que tenho que me sentir tão angustiado? 

❀ ❀ ❀

O tempo passou mais rápido do que eu gostaria, e quando me dei conta já era manhã de sábado. Durante os últimos dias senti que Kaoru estava a me ignorar um pouco, ele não fez isso de forma descarada, mas foi o suficiente para que eu conseguisse notar, enquanto isso ele e Shindo pareciam cada vez mais próximos.

Naquela manhã chegamos quase no mesmo momento a casa de Kaoru, ela possuía uma composição tradicional japonesa, mas diferente do período Edo* onde essas casas pertenciam a agricultores e comerciantes a casa de Kaoru mesmo possuindo características arquitetônicas tradicionais era notável ao se olhar que a dona daquele local possuía um alto poder monetário.

Fomos recebidos por um senhor que se apresentou como Yamamoto, o mordomo daquela casa. Logo em seguida encontramos Kaoru nos esperando na cozinha principal da casa, na bancada havia uma infinidade de tipos de panelas, talheres, facas e outros utensílios.

— Que bom que chegaram, Yamamoto já preparou o local para você Kojiro.

— Obrigado, mas não creio que irei usar metade desses objetos. – Estava um pouco constrangido pela quantidade de coisas ali.

— Que seja. – Ele me lançou essas palavras sem muita cerimônia e seguiu até Shindo perguntando como ele estava e se precisava de algo.

Ambos conversavam e se divertiam.

Silenciosamente comecei a prepararos ingredientes para o prato principal, optei por preparar um Gyūdon**,é uma receita que domino bem a técnica de preparo além de ter um gosto delicioso.

Após finalizar tudo nos sentamos para almoçar, na frente de cada cadeira havia um conjunto de louças em porcelanato, os pratos possuíam uma pintura em seu interior de delicados bambus que combinavam com os copos e tigelas espalhadas sobre a mesa.

Eu não podia conter minha ansiedade de saber o que Kaoru diria sobre a refeição, primeiro estava com medo de preparar algo para ele, mas depois me senti confiante. Espero que ele goste.

Ele leva a primeira colher até a boca, eu o estava olhando com muita expectativa, era quase vergonhoso.

— Hm, está muito gostoso, estou surpreso, para um cara grande e desajeitado como você suas mãos possuem uma boa técnica para o corte de carne e preparo de arroz.

— Grande e desajeitado, realmente são bons adjetivos para o nosso amigo. – Shindo sorria enquanto abocanhava uma colherada de arroz.

— S-Sim, como um gorila, um gorila de cabelo verde. – Não entendo o porquê dele está me tratando assim, é estranho.

— Fico feliz que tenha gostado. – Kaoru me olha mas parece um pouco envergonhado, ele não segura seu olhar junto ao meu e logo vira-se para Shindo.

— Então é verdade que vamos criar um local para podermos correr sem interrupções?

— Sim, estou tão ansioso para começarmos, minhas tias não sabem o motivo para o qual usarei o terreno, mas também não fizeram muita questão de perguntar, elas devem achar que já estou interessado nos negócios da família.

— Então, como vamos chamar?

A conversa se mantinha entre os dois e me sentia apenas um espectador entre eles.

— Eu pensei em chamarmos de S.

— S? Como assim apenas S?

— Sim, algo simples, S vem de Secret, nosso segredo, o segredo dos skatistas, lá poderemos ser quem quisermos, vamos colocar alguém para viajar o portão e só poderá entrar aqueles que forem convidados, vamos fazer um tipo de passaporte para os convidados. Será como no ***** ** ****(o clube que não deve ser mencionado,espero que você caro leitor tenha entendido a referência) uma vez que você participar não poderá falar sobre, assim não teremos problemas de sermos descobertos por pessoas que desaprovem o que fazemos.

— Interessante, se lá dentro poderemos fazer e ser quem quisermos deveríamos pensar em codinomes, assim não haverá riscos de nossas vidas aqui fora se colidirem com o que fazemos nas corridas.

— Ótima ideia Kauro! Bom, eu já tenho um codinome então, me chamarei ADAM dentro dos portões do S, qual será o de vocês?

— Hm, eu serei Cherry, Cherry Blossom. – EH? O que? Ele realmente vai usar esse nome?

— Cherry Blossom significa Flor de Cerejeira em inglês, certo? – Shindo confirma o que eu estava pensando, será que tem alguma relação com o que falei no cais? Não, ele nem ao menos deve se lembrar disso.

— Sim, exatamente isso! E você Kojiro, qual será o seu, está aí tão calado, parece até que desaprendeu a falar.

— A-AN? Ah sim, é... acho que vou me chamar... Joe?

— Joe? Eu gostei. – Os lábios de Kaoru formam um leve e sutil sorriso, ele me olha discretamente, mas logo o desvia para longe, isso foi o suficiente para sentir meu rosto em chamas.

**Gyudon, é um prato japonês que consiste em uma tigela de arroz coberta com carne bovina e cebola cozidos em um molho levemente adocicado feito de dashi, shoyu e mirin.

*O período Edo é um período da história do Japão compreendido entre os anos de 1603 a 1868. O período Edo ficou marcado como um longo período de paz no país, após séculos de guerras civis recorrentes e de muitos conflitos internos.