Capítulo 10

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Mesmo após tantas horas de viagem felizmente não me sinto cansado, talvez eu tenha me enganado sobre minha volta, a sensação de querer reexplorar tudo em volta estava me consumindo, resolvi apenas despachar minhas malas para o hotel e caminhar pela cidade.

O clima é agradável, os raios de sol passam por entre os galhos das árvores formando pequenos feixes de luz, estamos no meio da primavera, nessa época a cidade sempre se torna um mar cor de rosa devido às florações de Sakura, as flores recobrem o teto dos carros, bancos das praças e formam longos tapetes pelas ruas, admiro as pequenas pétalas dançarem no ar enquanto são carregadas pelo vento, uma delicada flor desprende-se de um dos galhos e mergulha em minha direção, ergo o braço afim de alcança-la, meus dedos estão quase tocando-a quando uma pequena rajada de vento a leva para longe, sinto os cantos dos meu lábios se curvarem para cima formando um sutil sorriso debochado em meu rosto.

À noite a cidade tomou um brilho que não estava aqui antes, novos bares e restaurantes lotavam as ruas, grupos de jovens se concentravam em frente aos pubs enquanto bebiam e se divertiam, as várias músicas vindas de diferentes lugares se misturavam formando uma conturbada melodia. Em todo o caminho não vi um único skatista a descer por essas ruas. Os anos passaram e parece que o interesse sobre skates ficaram para trás, provavelmente uma prancha com rodas não é mais tão atrativo.

Pensar sobre isso leva embora todo o ânimo que estava sentindo, talvez só uma bebida para me alegrar novamente.

Procuro por um bar afastado dos demais, não quero encontrar nenhum conhecido esta noite.

O lugar acabou sendo menos frequentado do que imaginei, no balcão uma jovem de pele bronzeada parecia ser a responsável pelas bebidas.

— Boa noite, um Bourbon puro, por favor.

— Boa noite senhor, acho que está no salão errado, aqui trabalhamos apenas com café e lanches, o bar fica no subsolo.

— Subsolo? – Como assim o bar fica na parte subterrânea?

— Sim, siga por esse corredor até a porta de entrada, em seguida irá encontrar as escadas de acesso, na entrada há um atendente para lhe entregar a comanda de consumo.

— Certo... – Sigo as instruções ainda sem entender o porquê de dividirem os setores de atendimento, deve ser esse o motivo para ser tão pouco frequentada, uma boa gerência resolveria esse problema. Argh! Até aqui pensando em trabalho.

Percebo uma leve vibração vir do outro lado da porta.

Estava completamente enganado, o que parecia ser um lugar esquecido na verdade escondia um bar repleto de jovens bebendo e fumando, a música alta combinada com o jogo de luzes e gelo seco fez minha cabeça girar, precisei de alguns minutos até adaptar meus sentidos ao grande número de informações ali presente.

No bar posso finalmente apreciar da bebida que ansiava.

— Um Bourbon puro, por favor.

— Certo!

Observando com calma o ambiente, acho que vim parar em alguma balada.

— Boa noite docinho! – Uma voz desconhecida acompanhada de um toque em meu ombro fisga a minha atenção, um rapaz de cabelo acobreado e um rosto delicado me encarava com um sorriso malicioso.

— Boa Noite.

— Você está sozinho?

— Sim.

— Que tal uma campainha? Você é muito bonito para ficar só, desse jeito logo estará rodeado de predadores. – Seu olhar era lascivo.

— Agradeço a preocupação, mas ficarei melhor assim.

— Que pena, pra você é claro haha. – Viro-me de volta para o balcão e pergunto ao bartender se por acaso aquilo de tratava de um bar gay.

— Você não notou quando entrou?

— O que?

— O nome do lugar. – Ele esboçava um sorriso incrédulo. — Literalmente chama-se Queer Pride Café e Bar

OK, posso ter deixado algo bem óbvio passar, mas não importa, não é como se eu não fizesse parte daqui.

A noite foi se estendendo e com elas vários copos de Bourbon me acompanharam, dispensei alguns caras, o último quase me ganhou de tão fofo que ele parecia ser, mas me envolver com alguém na primeira noite que voltei para cidade está fora dos planos.

Não sei em que momento achei que caminhar bêbado em um lugar pouco iluminado enquanto tento desviar de várias pessoas seria uma boa ideia.

— OH NÃO!! Desculpe, Desculpe!!! – Algo gelado escorre por minhas costas enquanto alguém repetia pedidos de desculpas, deveria ter permanecido quieto em meu lugar, viro-me para descobrir o que aconteceu, uma pequena e delicada figura me encara de olhos arregalados.

— KOJIRO? – Seu cabelo rosa preso em um coque com mechas soltas emolduravam seu rosto, o quimono azul turquesa expunha um pouco da pele clara de seu ombro, suas bochechas rosadas entregava que ele havia bebido naquela noite.

— Kojiro? Você está aí? – Suas mãos balançavam na frente do meu rosto procurando algum sinal. Eu continuava inerte em meu próprio corpo.

— O-Olá.

— Quando você voltou?

— Cheguei hoje. – O que está acontecendo aqui? Minha mente explodia em um turbilhão de pensamentos frenéticos.

— Entendo, ah sim, pagarei pela lavagem da sua roupa, aqui está meu cartão, me mande à conta da lavanderia. E... Seja bem vindo de volta, nos vemos por aí.

Eu não consegui processar o que tinha acabado de acontecer, reencontrei Kaoru na primeira noite que cheguei na cidade. E o que foi essa conversa? Ele pareceu tão surpreso ao me ver mas logo depois saiu praticamente correndo.

Inferno!! Pra onde aquele idiota foi?

Just For You - Joe and Cherry SK8 The InfinityOnde histórias criam vida. Descubra agora