30. A FILHA E SEU PAI
Me olhei no espelho pela milésima vez desde que entrei em meu quarto. Não sabia se aquela roupa estava fazendo jús ao momento que eu mais esperei desde que eu descobri sobre Jeremih.
— Você está linda. — Andrew abraçou-me por trás e eu soltei um sorriso nasalado. — Sempre está.
Virei-me para o garoto e enrolei meus braços em seu pescoço, ficando na ponta dos pés para depositar um beijo em seus lábios.
— Ele... ficou feliz? Quer dizer, é uma filha que ele acabou de ganhar, não é? — Questionei aflita e ele sorriu, assentindo. — Tudo bem. Acho.
— Posso te pedir uma coisa? — Perguntou e eu concordei, encarando seus olhos esverdeados. — Namora comigo?
Minha barriga deu um giro de trezentos e sessenta graus e eu nem sabia o que responder. Quer dizer, eu estava apaixonada por ele, claramente. Mas não sabia que ele estava apaixonado à esse ponto.
— Você quer esperar? Tudo bem, eu fui muito rápido. Emocionado demais, né? Enfim, não tem pro....
Calei a sua boca ao juntar nossos lábios. Suas mãos percorreram meu corpo enquanto meus dedos brincavam com mexas de seu cabelo.
— É claro que eu aceito ser sua namorada.
E então, Andrew deu o maior sorriso do mundo. E fiquei muito feliz em saber que o motivo era eu.
Nem acreditava que agora eu era uma mulher comprometida. Comprometida com o homem mais lindo desse mundo.
Descemos as escadas juntos e, logo que nossa família viu nossas mãos juntas, gargalharam e falaram um "finalmente". Olhei com um sorriso envergonhado para Andrew e ele me abraçou. Lá era o meu lar.
— Demorou demais. Porém, pode me dar a grana. — Minha mãe olhou para tia Liz, que bufou e entregou uma nota de cinquenta pratas.
— Vocês apostaram a gente? — Andrew questionou confuso e surpreso.
— Apostei com a sua mãe que vocês estariam juntos até o final de dezembro. — Aurora falou e eu gargalhei.
Asher veio em minha direção e cruzou os braços. Olhou para Andrew e depois para mim, claramente descontente.
— Vai me trocar.
— Jamais minha preciosidade! — Neguei e depositei um beijo na bochecha de Asher. Ele semicerrou os olhos e ficou encarando Andrew até, finalmente, sumir do nosso campo de visão.
Sentei-me no sofá ao lado de Drew e esperei o almoço ficar pronto. Por sorte, nossa família não era grande o suficiente para fazer muita comida. Ou seja, não haveria louça em excesso.
Minutos depois, a campainha indicou. Só notei que havia trancado minha respiração quando meu cérebro parou de processar o que estava acontecendo ao meu redor.
Lá estava ele, no mais belo suéter de natal, segurando um buquê de flores.
Ray demorou para me achar e, assim como eu tinha feito, também pude notar sua respiração sendo trancada.
Liz o cumprimentou e eles engataram uma conversa de como ambos haviam mudado desde a faculdade. Raymond pediu desculpas por não comparecer ao enterro de Trey, pois não tinha forças nenhuma para se despedir do seu melhor amigo.
E então, minha mãe apareceu com uma travessa de comida em sua mão. Ela analisou Ray de cima à baixo e respirou fundo, vindo em minha direção.
— Raymond.
— Aurora.
Ray olhava com certa frieza para minha mãe, mas seu olhar mudava completamente ao me olhar. Talvez eu estivesse vendo a felicidade em seus olhos. Eu queria muito que isso não fosse apenas um sonho.
— Quem diria que a língua afiada seria minha filha. — Sorriu sem jeito, oferecendo as flores para mim.
Em um ato automático, separei o espaço que havia entre nós num abraço. As flores seriam amassadas, mas eu finalmente estava no colo de um pai depois de tanto tempo.
Ray demorou para retribuir o gesto. Aos poucos, ele foi apertando ainda mais seus braços em minha volta.
— Você não é tão feio agora. — Brinquei e ele riu, passando a mão em meu rosto. — O que foi?
— Você puxou a beleza da sua mãe. — Murmurou. — Mas puxou o meu gênio, não é?
Ele olhou para minha mãe e ela assentiu, deixando claro que não se contentava com o nosso gênio.
O gênio que eu puxei do meu pai.
Depois do almoço, Andrew e Asher ficaram encarregados da louça. No lado de fora da casa, eu estava sentada no balanço com Raymond ao meu lado. Apesar do frio e do silêncio intenso, o momento estava sendo confortável.
— Nem acredito que eu tenho uma filha. — Disse, depois de muito tempo. — E eu já cheguei sendo nocauteado com um namoro.
— Pelo menos é o seu aluno.
— Andrew é um garoto bom.
Ray voltou para seus pensamentos. Ele tinha muito disso, pelo que eu havia durante o almoço. Quieto, reservado e sempre deixando seus comentários para si mesmo. Algo que eu nunca faria.
— Você teria largado o boxe se minha mãe tivesse contato sobre a gravidez? — Indagou e ele me olhou sério, como se aquela tivesse sido a pergunta mais idiota do mundo.
— Sem dúvida alguma, filha. — Disse. — Eu estou pronto para mover céus e terras para ser o pai perfeito. Juro roubar uma estrela cadente para realizar todos os seus desejos. Prometo levar você em todas as aulas da faculdade. E prometo ser seu melhor amigo e confidente. Quero recuperar todo esse tempo perdido com você. Você me dá essa oportunidade?
Meu coração ficou quentinho ao ouvir essas palavras saindo de sua boca.
Eu não sabia se conseguiria chamá-lo de pai, afinal, até semana passada ele era o treinador grosseiro de Andrew. Mas, eu estava pronta para usufruir desse relacionamento verdadeiro de pai e filha.— Com toda certeza.
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KNOCKOUT (✓)
RomanceAriel gostava de se sentir livre. Adorava quando o vento desarrumava seu cabelo enquanto ela dirigia pela orla de Palo Alto. Amava também se sentir independente. Mas gostava ainda mais de sentar-se na varanda de seu quarto e desenhar peças de roupa...