Capítulo IX

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IX.1. O extraterrestre

A paciência de um namekusei-jin tinha limites e ele era ainda menos paciente que um namekusei-jin normal.

Piccolo levantou-se. A capa branca ondulou a acompanhar-lhe os passos que o levavam para fora daquela caverna húmida e claustrofóbica, situada algures numas montanhas e que era o local que substituía o Palácio Celestial na Dimensão Real.

A forma subtil e mesquinha de Zephir humilhar Deus. Estava convencido que o feiticeiro escolhera com especial atenção aquela caverna enfiada nas profundezas da Terra, que não condizia com o arejado recinto que flutuava entre as nuvens e de onde Deus vigiava a Terra. Dende nunca se queixara. Passava os dias recolhido em pensamentos ou conferenciando com Mr. Popo sobre os males daquele mundo, chegara a intervir em algumas ocasiões, discretamente, proporcionando alívio às penas que lhe magoavam mais o coração, apesar de Mr. Popo alertá-lo para os possíveis perigos dessa interferência. Piccolo, por seu turno, entregava-se a uma profunda meditação, procurando alhear-se do que se passava à volta, a resignação de Mr. Popo, a ingenuidade de Dende.

Mas depois de tanto tempo confinado àquele espaço exíguo, sentia falta de ar e falta de exercício, a paciência esmigalhada, os nervos à flor da pele.

Dende apareceu.

- Onde vais, Piccolo-san?

- Vou sair.

Parou. O Todo-Poderoso reagiu mal à resposta.

- Tu não podes sair, Piccolo-san! – Exclamou agitado. – Nenhum de nós pode sair. O nosso aspeto é demasiado esquisito para os padrões da Dimensão Real.

- Pouco me importa o meu aspeto – ripostou a reter a raiva.

A estreita saída da caverna estava tão escura como o seu interior, o que queria dizer que anoitecera na Dimensão Real.

- Não há problema. É de noite e ninguém anda por estas montanhas do fim do mundo a estas horas. Ninguém me vai ver.

Dende desistiu.

- Tem cuidado.

Não lhe respondeu.

No exterior, o vento era frio e soprava em rajadas que varriam os montes despidos, habitados por sobreiros silenciosos. A noite estava escura, no céu as nuvens prometiam chuva e ocultavam as estrelas. Levantou voo, afastou-se, sobrevoando cauteloso as árvores, a capa branca adejando, assemelhando-se a um fantasma vigilante da quietude noturna.

Aterrou suavemente num pequeno vale, um local discreto e deserto afastado de luzes e, portanto, de casas e de gente.

Inspirou profundamente o ar fresco, concentrou-se devagar. Nada de pressas, saboreava cada segundo daquele momento egoísta, olhando para o seu interior. Curiosamente, não conseguiu vazar a mente na totalidade, tal como seria preferível. As memórias de um passado muito afastado e que devia já estar esquecido subiram à tona para o assombrar.

Recordava e, sem saber porquê, não fez nenhum esforço para impedir essas recordações, enquanto reunia o poder que latejava dentro dele e que ousava desatar, naquela noite, na estranha Dimensão Real.

O dia da sua maior glória e também o dia do seu maior fracasso, o destino encarregara-se dessa ironia. Apertou os punhos. Concentrava-se, a recordar aquela ilha, vinte anos antes.

O barulho surdo da terra a agitar-se debaixo dos pés, o sabor inconfundível do poder descomunal que o fazia invencível, os olhos assustados e incrédulos do seu adversário. Soubera, então, que não tinha rival. Nem mesmo os saiya-jin estavam à altura da sua força depois de ele e de kami-sama se terem unido num namekusei-jin temível.

O Feiticeiro - Parte II - A Dimensão ZOnde histórias criam vida. Descubra agora