Capítulo V

16 2 0
                                    


V.1. Recomeçar

Bateu à porta do quarto, mas não esperou a indicação que podia entrar. Limitou-se a entrar. Bulma encontrou o filho esmorecido, parado em frente ao espelho.

- Não sabes bater? – Repreendeu-a.

- Eu bati.

Trunks nem sequer se dignou a olhar para ela, continuando a admirar o reflexo que lhe devolvia uma imagem que não condizia com o que esperava ver. Passou uma mão pelo cabelo que lhe caía até aos ombros. Desabafou:

- Preciso cortar o cabelo. Já está muito comprido.

- Queres que to corte? Eu posso...

- Não.

Bulma não esperava aquela resposta seca e imediata.

- Não, obrigado – acrescentou Trunks e amarrou o cabelo atrás, como se habituara a usar.

Ele continuava a sentir-se muito cansado, mesmo depois de ter dormido o dia inteiro. Ou fingira ou acreditara que dormira. A verdade era que sempre que fechava os olhos sentia na pele o metal frio a contorcer-se à sua volta, enquanto o carro dava piruetas no ar e aquele desejo mórbido de que tudo terminasse de uma vez por todas, sorrindo ao ver o sorriso do amigo que o chamava e eram os dois meninos outra vez, a treinar no bosque, no verão.

Mas o destino encarregara-se de colocar um feijão senzu no caminho do seu desejo mórbido e ali estava ele, a olhar para um espelho onde via um desconhecido, a cara amorfa de um morto-vivo com um cabelo demasiado comprido.

- Sentes-te bem, Trunks-kun?

A voz da mãe lembrou-lhe que não estava sozinho no quarto e que as divagações teriam de terminar, como se ela tivesse a capacidade de lhe ler os pensamentos.

- Hai.

- Pareces-me abatido.

- Não te preocupes comigo.

- Conseguiste descansar?

Trunks esqueceu finalmente o espelho e voltou-se para a mãe. Não aguentou por muito tempo o olhar dela e baixou a cabeça. Agarrou-se ao tampo da cómoda.

- Deram-me um feijão senzu – disse, a cismar com as botas que calçava –, que repõe todas as forças, cura todas as feridas, alimenta por dez dias. Como poderia ter estado cansado?

- Tens razão... Só estou preocupada contigo. Estamos todos preocupados contigo. Sabes isso, não sabes?

- Tenho estranhado. Ele não tem andado atrás de mim ultimamente.

- Nani?

- Vegeta... Cansou-se de me perseguir?

- Eu pedi-lhe que parasse.

- Fizeste mal. Estava à espera dele, na noite do acidente.

Encarou-a e atirou, consciente de que iria atingi-la mortalmente:

- Se ele tivesse aparecido, o acidente não teria acontecido.

Como esperado, Bulma estremeceu.

- Trunks-kun...

Ele susteve o olhar, empurrando a faca devagar, ferindo-a mais e mais e mais... Bulma percebeu a intenção dele. Armou-se com a armadura habitual, defendeu-se do golpe mortal.

- Talvez o acidente sirva para mudar alguma coisa por aqui.

O contra-ataque surpreendeu o atacante.

O Feiticeiro - Parte II - A Dimensão ZOnde histórias criam vida. Descubra agora