𝖴𝗆 𝖴𝗇𝗂𝗏𝖾𝗋𝗌𝗈 𝖠 𝖢𝖺𝖽𝖺 𝖤𝗌𝗊𝗎𝗂𝗇𝖺 | 𝗟𝗟𝗠 • 𝗝𝗝𝗞

Prólogo

Lisa

Minha avó costumava me contar que toda pessoa que vem a falecer, não ia para o céu ou inferno, muito menos acabava sua existência por ali. Ela me dizia, olhando para o céu estrelado, que todos nós somos universos, e universos não se desfazem ou morrem de uma noite para o dia. Neles habitam milhares de constelações, e cada uma delas são nossas histórias, memórias boas ou ruins, detalhes e pensamentos que temos ao longo da vida. Por isso, as pessoas não morrem, elas apenas continuam sua trajetória em outro lugar.

Sempre gostei dessa crença desde pequena, me ajudou a passar pela perda do meu avô alguns anos atrás e agora está me ajudando a passar pela perda dela. Stella Manoban era um universo lindo demais, e espero um dia ter estrelas tão brilhantes quanto as dela.

- Se importa? - O garoto de descendência asiática apontou para o lugar vazio no banco de praça onde eu estava sentada. Pensei ter sido uma pergunta, e eu iria responder sim, mas ele se sentou de qualquer forma.

Quando eu praticamente implorei para os meus pais para que viéssemos passar um tempo em Tuttletown, não imaginei que vovó fosse nos deixar uma semana antes da viajem. Então apesar da cidade ser linda e agitada, eu realmente não consegui entrar no clima turístico, por isso pedi para dar uma volta sozinha, enquanto Papai e Mamãe arrastam Connor para uma seção de compras. Acabei parando nesse parque, e como está de noite, pouquíssimas pessoas passam por aqui.

Pensando em como o meu objetivo era ficar sozinha, um suspiro frustrado sai de mim e eu recosto no banco, tentando voltar a apreciar a vista da lua cheia se juntando as luzes decorativas do parque, que dá um ar cintilante para o lugar, porém o desconhecido parece mais entretido em me estudar, o que me deixa extremamente desconfortável.

Continuo olhando para frente, começando a cogitar a ideia de me levantar e dar uma caminhada, só para não manter o clima estranho. O garoto parece prever meus pensamentos, uma vez que começa a olhar para frente também e volta a falar.

- Desculpa, não imaginava que era tímida. É só que eu estava caminhando e vi você sentada aqui... Sozinha e parecendo muito pensativa. - Ele não estava se desculpando, não realmente. Seu tão de voz continha certa diversão e um pingo de hesitação. Olhei para ele.

- Então você me viu e pensou que eu precisava de companhia? Nossa, eu me sinto honrada por um cavalheiro como você ter se juntado a mim! - O sarcasmo na minha entonação era para afastá-lo, o problema é que isso só fez um sorriso se formar no seu rosto mal iluminado pelo poste de luz amarelada.

Isso me deixou subitamente irritada e eu cruzei os braços na frente do peito, isso também não passou despercebido pelo garoto, mas seu sorriso não saía de seu rosto estupidamente desenhado. Parei e me permiti analisar a fisionomia dele por uns instantes. Apesar do poste iluminar apenas metade de do rosto, aquele sorriso era tão arrogante e insolente que precisei desviar o olhar, só que minha situação não melhorou, pois meus olhos me levaram até a camisa branca, quase translúcida, pela quantidade de suor que ele produziu durante a caminhada pelo parque. De repente me peguei perguntando como alguém consegue continuar cheiroso, ou até mesmo apresentável estando tão suado.

- Eu sei, não se sinta culpada, poucas registem ao charme. - Ele se inclinou para mais perto, foi tão natural que nem ele deve ter percebido. - Não vai me dar um nome, Loirinha? - Loirinha?

- Primeiro, eu não sou tímida. Segundo, eu não me sinto culpada, não se preocupe, até porque eu sequer interessada em você estou. Terceiro... Loirinha? Sério? - Não o dei tempo para se justificar. - E por último, eu não falo com estranhos.

Eu planejava fazer minha retirada triunfal dali, mas o garoto decidiu que não ia ficar assim e segurou meu pulso antes que eu me levantasse do banco. Tomei um susto interno com a temperatura de sua mão, estava incrivelmente fria, e o tom pálido da pele me fizeram duvidar se ele não estava doente ou algo assim.