Capítulo 1

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Lisa, um ano depois...


  Eu não sonho, e isso é um fato. Toda vez que eu deito a cabeça no travesseiro, e eu durmo e apago, é apenas um breu. Mas naquela manhã de domingo, tudo estava apontando para ele, até o bendito sonho que tive com as luzes e seu sorriso, além da voz que me trouxe uma onda de ansiedade.

  Era uma tradição ter um grande almoço nos domingos, onde a vizinhança se reunia e todos nós aproveitávamos a tarde juntos. Esse era um dos motivos para me orgulhar de ter nascido em Sayville, apesar de ser uma cidadezinha extremamente pequena. Mas hoje teria uma novidade nesse almoço.

  A campainha toca assim que eu termino de pentear meus fios loiros. Mamãe chama meu nome no andar de baixo, saio em disparada do quarto, descendo as escadas depressa (e quase tropeçando no processo). Chego ao final da escada e vejo a senhora Manoban andando de um lado para o outro, em um estresse só. Esses almoços são importantes pra ela, então tudo precisa estar em seu devido lugar.

  Sorrio e vou atender a porta para a primeira família, os Barnes, um casal jovem e muito simpático que se mudou para Sayville não faz um ano. Termino de cumprimentá-los e vou ao socorro de meu pai e Connor, que sofrem na cozinha para preparar uma simples salada. Tiro a faca da mão do meu irmãozinho mais novo, antes que ele acabe cortando os dedos fora.

— A mamãe precisa de ajuda com a mesa! — Tomo o lugar de Connor atrás do balcão de granito, ao lado do Papai. Ele dá de ombros e em vez de ir ajudar, ele revira os olhos e sobe as escadas.

  Connor está em uma fase difícil de lidar, aos doze anos, ele resolveu ter comportamentos totalmente indiferentes e rebeldes em relação a família. Juro que tento, mas acho que nunca vou entender o que se passa na cabeça desse garoto, nossos pais são incríveis, e eu estou sempre tentando ser uma boa irmã mais velha. Apenas espero que seja uma fase, igual Mamãe e Papai disseram.

  Depois que meu pai e eu preparamos a melhor salada da vizinhança, todos os convidados chegaram, inclusive a família que se mudou ontem mesmo. Na verdade, esse almoço vai servir mais para conhecê-los melhor. Resolvo ir para a sala de estar, terminar de cumprimentar alguns conhecidos e dar as boas-vindas aos novos vizinhos.

  Longos abraços e palavras simpáticas depois, finalmente vejo a Sra. Manoban conversando animadamente com duas mulheres que estão de costas pra mim. Ela me vê andando em sua direção e sorri, fazendo as outras duas virarem para mim, abro meu melhor sorriso.

— Melissa, Rachel, essa é minha filha, Lisa! — Ela se aproxima de mim e põe as mãos em meus ombros. — Querida, essas são nossas novas vizinhas, elas são melhores amigas e moram juntas. Te contei que elas vão ficar em frente a nossa casa?

  Olho para as duas na minha frente, são jovens e extremamente bonitas, especialmente a senhora que suponho ser Melissa, que possui um sorriso quase angelical. Cumprimento as duas com o sorriso mais aberto que possuo, recebo um elogio da Melissa e de repente as três estão em um assunto de mães.

  Sabe aquela sensação sufocante de que você que está sendo observado? Pois era exatamente isso que eu estava sentindo quando me virei para ter certeza de que eu não estava louca. E foi assim que eu quase tive um AVC aos quinze anos de idades.

  Juro que meu pobre coração parecia bater a cem por hora enquanto nos encarávamos. Era ele. O mesmo garoto esguio, de pele translucida e olhos asiáticos, negros e nebulosos, cabelo escuro, totalmente bagunçado. Seu ar despojado e misterioso não foi abalado desde o último verão, se alguma coisa, apenas ficou mais intenso. Fascinante.

  A voz abafada e distante da minha mãe me forçou a desviar da nossa troca de olhares (o que foi uma missão quase impossível). Ainda sentia ele me encarando em um canto da sala de estar, mas precisei me concentrar em dar as boas-vindas as novas moradoras, que inclusive eram extremamente simpáticas, principalmente a sra. Jeon... Que prefere ser chamada apenas de Melissa.

𝖴𝗆 𝖴𝗇𝗂𝗏𝖾𝗋𝗌𝗈 𝖠 𝖢𝖺𝖽𝖺 𝖤𝗌𝗊𝗎𝗂𝗇𝖺 | 𝗟𝗟𝗠 • 𝗝𝗝𝗞Onde histórias criam vida. Descubra agora