— Não sei como agradecer por tudo o que está fazendo por nossos filhos. — Michaela segura minha mão sobre a mesa, fico um pouco sem reação.
Pelo menos ela está mais calma, fiquei mais tranquila depois que tomou o chá e parou de chorar. Acomodei os dois na mesa da minha cozinha e ficamos em total silêncio enquanto preparava a bebida quente. Depois serví bolachas amanteigadas juntamente com o chá e sentei de frente para os dois. Ninguém ousou falar uma palavra sequer, bebemos e comemos em total silêncio até agora. Brian também não deu as caras, acho que ele entendeu que não é o momento.
Que ele e o irmão lambam as feridas sozinhos!
Embora eu não queira me envolver, tenho um lado muito sensitivo para esses situações familiares. Nesse momento, apenas consigo ver o quanto julguei Michaela de forma errada, pode parecer precipitado, mas estou sentindo uma empatia fora do comum por essa mulher.
— Não agradeça, estou fazendo de coração. — Aperto sua mão de volta.
— Sei que não deve estar sendo fácil, Sahara. Meus filhos são difíceis de lida. — Ela olha para o marido rapidamente antes de falar novamente. — Troyde está irredutível sobre ir para nossa casa, mas não posso deixar que você fique responsável por tudo. Se permitir, posso ajudá-la com pelo menos o básico.
— Não se preocupe, Senhora Azel. Brian está me ajudando com o necessário. — Explico.
— A empresa precisa do Brian e ele não poderá ficar disponível todo o tempo. Giorgio o ajudará na Azel e eu virei todos os dias para ajudá-la com os afazeres domésticos. — Arregalo os olhos totalmente surpresa.
— A senhora que vir me ajudar com os afazeres domésticos? — Não disfarço a incredulidade da minha voz.
— Porquê não? — Gesticula os ombros. — É o mínimo que posso fazer, querida. Você está cuidando do meu filho, não tem obrigação alguma de fazer isso. Sei que Troyde não me quer por perto, ajudá-lo nas tarefas diárias não será possível, então me proponho a pelo menos manter o seu apartamento organizado. Posso cozinhar, limpar o banheiro, esse tipo de afazer. Eu iria sugerir que a minha ajudante viesse, mas pensei melhor e conclui que é muita invasão de privacidade.
— Tudo bem! — Concordo meio aérea.
— Sei que ainda está abalada com a nossa discussão, Sahara, mas eu não sou esse monstro que as pessoas ou os meus filhos dizem. — Informa com uma mágoa evidente. — Sou vítima da crueldade de uma mulher vingativa, que usa Troyde contra mim, que o envenena desde muito jovem.
— Não tenho o direito de julgá-la, Senhora. — Esclareço. — Ja fiz isso antes, confesso que agora estou arrependida. Prefiro apagar a imagem que criei na minha cabeça e dar a chance de conhecê-la sem me basear na opinião dos seus filhos ou de quem quer que seja.
— Eu agradeço por sua sinceridade. As pessoas constroem uma imagem que não condiz com o que sou de verdade. Não as culpo, eu sou a maior culpada por transmitir justamente o contrário, mas, é mais forte que eu. O meio em que vivo me moldou para não deixar transparecer fragilidade.
— Eu compreendo. — Concordo, me limitando em explicar que sei exatamente sobre o que ela fala. Durante o meu casamento com Jack fui obrigada muitas vezes a mostrar uma Sahara que nunca existiu, simplesmente por as pessoas não aceitarem quem eu sou de verdade, sem papas na língua, sincera ao extremo.
É um meio ao qual você veste uma fantasia de mentiras, podando seus gestos, suas palavras, até mesmo o tom da sua risada. A pressão para ser a esposa perfeita, a esposa recatada e subserviente, a nora dos sonhos perante a sociedade. Em casa, as roupas sujas eram lavadas: a Sahara de fala mansa não existia; não baixava a cabeça para o marido e muito menos o obedecia; vivia em pé de guerra com a mãe de Jack, que sempre buscava uma forma de tentar mostrar ao filho como ele havia feito uma escolha ruim ao se relacionar comigo, um mulher gorda, brasileira, negra, pobre e filha de um professor
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Em Nome Do Amor
ChickLitE quem disse que para ser perfeita é preciso seguir um padrão corporal? Sahara Oliveira não possui neura com seu corpo GG, muito menos com sua pele negra e seus atributos avantajados por conta do seus traços brasileiros. Em seus gloriosos vinte e s...