Meu telefone toca em um barulho estridente e parece que meus tímpanos vão explodir. Tateio a mesinha ao lado da cama, conjurando toda a família da desgraça de pessoa que insiste em me ligar tão cedo em pleno domingo. O aparelho treme em minha mão e sem abrir os olhos, deslizo o dedo sobre a tela, rejeitando a ligação.
Como esperado, Troyde Azel não se manifestou durante toda a semana e a apreensão só aumentou. Estou um caco de tão cansada, pois depois da ressaca maldita que acordei na quinta-feira referente à noitada regada a muita tequila, aproveitei para colocar em prática a minha alma procrastinadora, embora meus braços doloridos digam outra coisa. Decidi dar uma pausa no álcool e não me contentando em ficar parada, me segurando internamente para não incorporar o meu melhor drama brasileiro, indo implorar meu cargo de volta ao meu chefe ranzinza, decidi fazer uma mega faxina no apartamento. O problema é que depois de dormir o dia todo e não aguentar mais fazer dupla com a minha cama, iniciei a limpeza perto das onze da noite e só acabei na madrugada.
O telefone reinicia o chamado e dessa vez levanto a cabeça profrerindo os piores palavrões em português e inglês, porquê acho chique ser bilíngue. Deslizo o dedo na tela colando o aparelho na orelha, sem ao menos conferir o nome do infeliz.
— Late! — Minha voz sai arrastada.
— Sahara! — A voz do embuste me faz despertar de uma vez. — Sou eu, o Jack. Só liguei para avisar que daqui a um mês eu estarei indo para Nova Iorque.
— Que bom para você, Jack! — devolvo irônica, ele se cala do outro lado da linha. — Até mais...
— Não desliga, por favor, Sahara. Por favor! — pede eufórico e reviro os olhos. É sempre o mesmo drama e sinceramente, nem sei o motivo de não tê-lo bloqueado ainda. — Podemos nos ver?
Suspiro frustrada, meu sono se esvaindo de vez, dando vazão para a irritação que se apodera de mim quando recebo esse tipo de ligação, principalmente aos domingos. Sento na cama, ainda em silêncio. Desde que me separei de Jack tem sido a mesma coisa, todas as vezes que ele vem à cidade, me procura, liga, corre atrás. O pior de tudo é não poder sumir da vida dele, já que é padrinho de um dos meus sobrinhos e amigo do meu cunhado Tommy.
Quando me apaixonei por Jack, papai havia acabado de falecer eu eu estava passando uma temporada na casa da Meredith, minha irmã. Eu morava com o papai desde a morte da Louise, que deixara um buraco enorme na vida de nós três, bem como no apartamento em que dividíamos e, era tão parecido com ela. Então foi impossível e insuportável viver no enorme apartamento no Uper East Side depois que papai se foi também, por conta de uma insuficiência respiratória gerada pelos longos anos de nicotina. Tudo ali, desde os móveis clássicos às cortinas vermelhas com dourado, me deixavam depressiva. Foram bons anos, anos em que eu fui cuidada por uma mulher forte e destemida, que me ensinara a me impor e me amar, que cuidava do meu pai e nos ensinava diariamente o sentindo da palavra familia.
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Em Nome Do Amor
ChickLitE quem disse que para ser perfeita é preciso seguir um padrão corporal? Sahara Oliveira não possui neura com seu corpo GG, muito menos com sua pele negra e seus atributos avantajados por conta do seus traços brasileiros. Em seus gloriosos vinte e s...