Algumas pessoas passam por nossa vida e deixam uma marca impossível de se esquecer, brilham de forma tão singular que iluminam a mais densa escuridão. Gwen não foi diferente, chegou silenciosamente e marcou de uma forma tão profunda a vida de cada p...
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— Depressa, depressa. Vamos logo. — pediu em sussurros apressados. Inquieta e impaciente.
Com passos largos, pisoteava a grama mais que apressada para chegar no final. Eu sabia que seria uma tarefa difícil fazê-la desistir da ideia de ir mais depressa, as consequências de poucas horas atrás era um bom testemunho de que eu precisava de mais atenção. Não podia me deixar enganar pelo rosto sorridente e pintado por sardas acobreadas na pele cor de oliva.
— Você está indo muito devagar, Felipe. Vamos mais depressa. — Olivia insistiu pela quarta vez.
Fazia poucos dias que o período de experiência tinha acabado e o processo de adoção finalizado, porém, para Olivia era como sempre tivesse sido assim.
Olivia tinha sido diagnosticada com câncer aos quatro anos e, embora, tudo levasse à conclusão que ela deixaria esta Terra. Sua força e a vontade dela em permanecer eram mais fortes e, com uma pequena ajuda, hoje ela é uma criança sorridente e bastante levada.
Conheci Olivia no verão do ano passado quando, impulsionado pela falta de Gwen e um empurrão de Bianca, visitei o hospital infantil da cidade. O que seguiu depois foi tão rápido que não sei se eu consegui assimilar. Mas de forma curta e confusa, em muitas conversas descobri a garotinha cheia de vida e curiosa que ela era. E em uma das tardes que eu me sentia naturalmente mais impulsivo, fiz o exame para ser doador de medula óssea. Para nossa alegria, eu era compatível. Seria quase impossível que isso fosse verdade, mas contrariando tudo e todos, Olivia acreditava que sim.
De lá para cá, as coisas só tem melhorado. Olivia se recuperou muito bem e todos no hospital celebravam sua melhora e o fato dela ter encontrado um doador. Pela primeira vez em dois anos, eu me senti o suficiente, ao menos uma vez eu parecia ter um novo propósito. Só que uma nova questão apareceu. Olivia era órfã, de pai e mãe, e seria difícil que ela tivesse uma boa recuperação no orfanato para onde seria levada. E foi a partir daí que eu fiz a coisa mais impulsiva e inimaginada da minha vida.
Adotar Olivia.
Para o meu pai foi um choque, um tão grande que eu não sei como ele não infartou, e minha mãe entrou em estado de euforia ao saber que teria uma netinha. Eu não esperava menos, não depois das tentativas frustradas dela em tentar me unir romanticamente com qualquer alma vivente. Para minha mãe o que importava era que teria uma netinha para mimar.
E a pessoa mais importante de todas, Olivia, assim que soube tentou me derrubar — literalmente — assim que dei a notícia ela pulou em mim e se agarrou ao meu pescoço.
Depois de muito pensar, cheguei a conclusão de que foi a melhor escolha que eu poderia ter feito. Tanto para mim, quanto para aquela garotinha. Que teimosamente tentava se pendurar em um dos galhos da árvore.
— Olivia. Desça agora. Você ainda não pode subir em árvores. — por um momento senti que tinha me transformado na minha mãe. O aperto no meu coração de imaginar que ela poderia cair, o reduzia a pó.
Ela me olhou com os olhos sorridentes e um sorriso arteiro. A bandana amarrada sobre a cabeça que possuía os curtos fios castanhos, ela sempre preferia o pano colorido à peruca dada por Bianca. Respondeu-me que queria poder tocar o céu.
— Hoje não. Por que você não desce? Se você descer, eu... eu... — tentava encontrar qualquer ideia que fosse mais atraente, e ironicamente elas me faltaram.
— Conta uma história? — sugeriu, se acalmando no lugar e batendo palmas com a expectativa de ouvir uma história.
Não vou negar que eu tinha pensado em oferecer uma barra de chocolate. Mas a história era melhor. Mil vezes melhor!
— Certo eu conto uma história, mas se você ficar quietinha para ouvir.
Ela não perdeu tempo e me puxou pela mão, me guiando até debaixo da árvore que alguns minutos antes ela estava tentando escalar. Me sentei ao seu lado e ela se esparramou pela grama encostando sua cabeça em meu tronco.
— Conta a história da menina que virou estrela. — pediu, os olhinhos brilhando.
Engoli em seco. Tinha contado aquela história uma única vez. Era um dia difícil, a quimioterapia havia deixado ela fraca e ela me perguntou se podia desistir. Impulsionado pelos seus olhos chorosos e a lembrança de Gwen, lhe contei toda a história de vida da pessoa que eu amava além de tudo. No final, ela adorou a história e disse que jamais desistiria assim como a garota que tinha virado estrela.
— Numa cidade pequena vivia uma garotinha muito feliz e animada...
— E um menino ranzinza. — Olivia me interrompeu antes que eu pudesse continuar.
Eu não era ranzinza.
— Eles eram muito amigos, viviam sempre juntos...
— E também se amavam. — me interrompeu novamente. Não tinha contado aquela história uma vez só? Como ela se lembrava de tudo?!
— Sim, eles se amavam. Você vai deixar que eu continue a história? — ela balançou a cabeça em afirmação e me olhou atentamente. — Eles cresceram juntos, durante muitos anos a garotinha acompanhava aquele menino ranzinza para todos os lados.
Olhei para ela e vi que ela comprimia os lábios com força.
— Quer falar alguma coisa? — perguntei. Era claro que ela queria, ela tinha essa mania de comprimir os lábios sempre que estava desesperada para falar.
— Você esqueceu de dizer que a garotinha era incrível. Ela não era incrível?